domingo, 14 de fevereiro de 1999

O problema do ano 2000 e as previsões apocalípticas


Parece mentira, mas o avanço tecnológico traz uma enorme vulnerabilidade. O exemplo mais clássico talvez seja o uso e o abuso da energia nuclear, em que reatores são capazes de produzir enormes quantidades de energia, mas, por outro lado, podem também criar desastres de grandes proporções, como o que aconteceu em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Mas, com a proximidade do ano 2000, um outro problema está cada vez mais presente em nossas vidas, o chamado "problema do ano 2000". A nossa sociedade é extremamente dependente de computadores. De relógios de pulso com pequenos chips até os supercomputadores que calculam previsões meteorológicas ou de investimentos, uma enorme fração das operações que ocorrem na sociedade dependem da passagem do tempo e de como ela é armazenada em computadores. O problema decorre do método que era usado para armazenar números que representam anos na memória de computadores mais antigos.

Nos anos 60 e 70, memória para computadores era uma coisa cara e rara. Os programadores procuravam sempre abreviar ao máximo os dados armazenados na maioria de seus computadores. Portanto, para armazenar datas, era mais econômico escrever "10/3/96" em vez de "10/3/1996". O problema aparece quando o ano 2000 passa a ser representado por "00".

Por exemplo, uma pessoa deposita dinheiro em uma caderneta de poupança em 1999, para que ele seja retirado no ano 2000, em um prazo fixo (isso é apenas ficção!). Se o banco calcular os juros subtraindo 99 de 00, o computador irá calcular o período de depósito como sendo de 99 anos. Uma companhia de seguros nos EUA cancelou 700 contratos de vendedores de apólice porque seu computador confundiu o prazo de expiração das licenças Äque aparece no programa como 00Ä como sendo 1900. Também nos EUA, um homem com mais de 100 anos recebeu um convite para ingressar no jardim de infância.

Esses exemplos são apenas uma pequena demonstração do que poderá de fato acontecer na virada do milênio. Várias pessoas estão tomando medidas um tanto paranóicas para se proteger do "caos completo" que reinará sobre a Terra quando os computadores falharem. Claro, existe uma boa dose de exagero nessa afirmação. Mas certos problemas estão de fato sendo esperados. Existe um serviço na Internet que vende um "jardim hortigranjeiro completo", com as sementes todas mandadas pelo correio, com instruções de quando plantar o quê, caso ocorra uma interrupção prolongada na distribuição de alimentos. A venda de velas começou a subir, só no caso de haver uma interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Várias grandes companhias nos EUA e no Brasil estão investindo pesado para evitar sérios problemas. A companhia telefônica GTE já investiu US$ 400 milhões, enquanto a General Motors investiu quase US$ 1 bilhão!

Existem vários métodos para abordar esse problema, que aparentemente é tão inofensivo. A dificuldade vem do próprio processo de evolução das linguagens de programação, que muitas vezes mantêm elementos de suas predecessoras. Portanto, o programador tem de fazer uma espécie de "cirurgia", identificando onde está localizado o problema, para então tentar remediá-lo, ensinando ao computador como interpretar "00" corretamente.

Provavelmente, algumas interrupções e distúrbios serão mesmo inevitáveis. Por outro lado, é pouco provável que esses distúrbios venham a assumir proporções apocalípticas como escuridão, vulnerabilidade ao calor ou frio devido à falta de energia elétrica ou gás, escassez de alimentos etc. É incrível o quanto nos afastamos da natureza como consequência de nosso desenvolvimento tecnológico. Mas, só por via das dúvidas, vale a pena comprar um bujão de gás, velas e evitar viajar de avião durante a primeira semana do ano 2000. Ou passar o ano novo com os índios do Xingu, que devem achar muita graça disso tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário