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Claro, esse desejo não é sempre tão poético, vindo do coração, sendo na maioria das vezes motivado por interesses econômicos, como no caso da exploração do Atlântico nos séculos 15 e 16, e do Pacífico um pouco mais tarde. Mas a verdade é que, ao explorarmos o desconhecido, necessariamente nos expomos a riscos. É impossível prever tudo o que irá ocorrer em novos territórios. Caso contrário, eles não seriam mais novos. O risco faz parte do processo de descoberta, seja ele físico, como no caso dos exploradores marítimos de outrora e dos astronautas de hoje, ou intelectual, como no caso daqueles que têm a ousadia de questionar o status quo, propondo novos modos de interpretar a realidade. A humanidade precisa de ambos os exploradores, nossos heróis das fronteiras do mundo e do pensamento.
O ônibus espacial é a nossa catedral tecnológica, nos levando a novos mundos. Existe mesmo uma dimensão espiritual na exploração do espaço. Nós precisamos entender as nossas origens, o "resto da Criação". (E, acrescentaria, nossa parte também; continuamos perfeitamente ignorantes sobre o nosso comportamento. Por exemplo, não sabemos o que transforma homens perfeitamente razoáveis em assassinos em prol de sua pátria ou fé. A persistência da guerra prova o quanto ainda somos primitivos.) Vista do espaço, a unidade da Terra e de todos os seres que a habitam é indiscutível. Essa é uma das mensagens vindas dos ônibus espaciais e da exploração do espaço como um todo.
A espaçonave atinge velocidades de aproximadamente 30 mil km/h. Quando ela explodiu, sua velocidade era de quase 20 mil km/h. Ela sofre incríveis variações de temperatura, de -100C quando em órbita no espaço até 1.500C ao reentrar na atmosfera. Qualquer tipo de material responde a essas variações, e a maioria sofre fraturas que podem provocar danos estruturais.
No caso do ônibus espacial Challenger, que explodiu em janeiro de 1986, o problema foi no anel que selava os foguetes propulsores, que fraturou ao ser exposto a temperaturas muito baixas. No caso do Columbia, a causa mais provável do desastre, pelo menos até agora, foi a perda das lajes de isolamento que revestiam a sua asa esquerda, protegendo-a contra as drásticas variações de temperatura. Sem elas, a temperatura da asa subiu de modo desproporcional durante a reentrada na atmosfera, tornando impossível a estabilização da espaçonave. O que causou a perda das lajes parece ter sido o impacto com detritos de uma esponja que reveste os foguetes propulsores, que podem ser ejetados durante o lançamento. Ou talvez se descubra que a causa do acidente foi outra.
Por mais dramáticos que sejam esses eventos, é importante lembrar que acidentes irão necessariamente ocorrer ao explorarmos fronteiras. Qualquer máquina ou organismo pode entrar em pane ou ter o seu funcionamento prejudicado por fatores externos. Alguns deles são previsíveis, outros não. O mesmo ocorre com o corpo humano: algumas mortes são previsíveis, outras são uma total surpresa. O desastre do Columbia é, mais uma vez, um lembrete da natureza; somos frágeis e pagaremos um preço pelas nossas explorações. E não conseguimos viver sem elas, seduzidos que somos pelo desconhecido.
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