A perpetuação dos seres vivos se dá pela transmissão de informação genética entre gerações. Segundo a teoria da evolução, a seleção natural ocorre devido a mutações espontâneas de certas características da prole em relação aos pais, que podem vir de diversos fatores, como o aumento de um certo tipo de radiação ultravioleta do Sol, entre outros.
Segundo a teoria da evolução, mutações podem facilitar ou piorar as chances de sobrevivência de uma determinada espécie. O exemplo clássico de seleção natural baseada em mutações é o de um certo tipo de mariposas inglesas, que se tiverem coloração semelhante à das árvores, os pássaros predadores terão maiores dificuldades de atacá-las. Se sua coloração for destoante, serão presas fáceis. Uma população de mariposas claras vivendo em florestas de troncos escuros se beneficiará de uma mutação que as escureça.
Esse argumento tem sido criticado por biólogos que encontraram limitações na análise quantitativa de seus colegas sobre os fatores que influenciam a sobrevivência de mariposas de cores diferentes. Eles afirmam que, como a vida é um fenômeno extremamente organizado, mutações, devido à sua incoerência, têm um efeito devastador para a sobrevivência de uma espécie. Se esses críticos estiverem corretos, os fundamentos da teoria da evolução baseada na seleção natural por meio de mutações devem ser reavaliados.
A questão é como testar de forma controlada o papel das mutações nos seres vivos. Entre as várias alternativas que tradicionalmente envolvem pesquisas com plantas, insetos ou mamíferos, uma nova corrente de experimentos vem despertando grande interesse na comunidade científica. A "vida artificial", ou melhor, a simulação da vida em computadores. Diferentes espécies, ou organismos digitais complexos, são criadas a partir de sequências de informações e instruções de como se reproduzir, usando a "energia" ambiental (o alimento), que, no caso, é o tempo alocado para uma determinada espécie na CPU do computador; quanto mais tempo de CPU, mais energia, e portanto, mais sofisticado pode ser o código de instruções processado por um certo "organismo digital".
No jogo virtual da vida, diferentes criaturas digitais competem pela sobrevivência, simulando as interações em um sistema ecológico no mundo real.
Cada criatura é construída por meio de um determinado código de instruções, comparáveis a sequências de DNA em organismos vivos. As diferentes criaturas digitais competem por mais "energia", isto é, tempo de CPU. Mutações aleatórias são incorporadas nas simulações, visando torná-las mais realistas.
Richard Lenski, da Universidade Estadual de Michigan (EUA), e outros, desenvolveram um mundo virtual com duas espécies, uma simples e outra complexa. A espécie simples foi instruída apenas para se reproduzir o mais depressa possível, enquanto a complexa recebia incentivos (mais tempo de CPU) ao concluir tarefas matemáticas.
Lenski mediu a taxa de reprodução dessas espécies ao serem expostas a mutações diversas. A grande vantagem da vida virtual é que as condições podem ser livremente manipuladas e os dados facilmente analisados. Efeitos de mutações variam; eles podem ser cumulativamente piores (epístases sinergética) ou relativamente inertes (epístases antagônica). Os experimentos indicam que as espécies complexas demonstram epístase antagônica, enquanto para as espécies simples, os dois efeitos são contrabalançados. Mesmo que haja ainda uma distância enorme entre as mariposas inglesas e as criaturas digitais, o jogo da vida aponta para uma nova dimensão da ciência, onde biólogos evolucionistas usarão computadores para testar algumas de suas idéias.
Agradeço ao leitor Enézio de Almeida Filho por correspondência relativa ao problema das mutações na seleção natural.
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