Uma das questões mais intrigantes para os cientistas de hoje é a questão da origem da vida. O problema começa justamente com a definição, ou com a falta dela, do que seja vida. Por incrível que pareça, não existe ainda um consenso de como definir vida.
De qualquer forma, sabemos que organismos vivos têm as seguintes características: 1) eles reagem ao meio em que vivem e, em geral, têm a capacidade de se curar quando feridos; 2) eles podem crescer, ingerindo alimentos e transformando-os em energia; 3) eles se reproduzem, passando algumas de suas características para sua prole; 4) eles podem sofrer modificações genéticas e, portanto, evoluir de modo a adaptar-se (ou não) a mudanças no meio ambiente.
Mas essas quatro regras estão longe de ser absolutamente válidas, existindo muito espaço para interpretações paralelas. Eis alguns exemplos que ilustram a complexidade do fenômeno vida:
Estrelas respondem à atração gravitacional de seus vizinhos, podem crescer por acréscimo de material à sua volta, geram energia e se "reproduzem" ao propiciar o nascimento de outras estrelas durante seus momentos finais, e estas contêm algumas de suas características.
Ao esgotar seu combustível nuclear, estrelas passam à sua fase final de forma explosiva; essas explosões podem gerar instabilidades gravitacionais em nuvens de gás que estejam por perto. Por sua vez, essas nuvens instáveis contraem-se devido à sua própria gravidade, gerando novas estrelas. Mas acho que todos vocês concordam que estrelas não são vivas. Um vírus é cristalino e inerte quando isolado. Mas, quando alojado em uma célula, ele exibe todas as propriedades de um ser vivo, usando o material genético da célula para crescer e se reproduzir.
Muitos cientistas acreditam que o vírus é justamente a ponte entre o vivo e o inanimado, um organismo tão simples que não consegue manter-se vivo por si só, mas complexo o suficiente para viver por meio de outros seres vivos. Hoje, o consenso parece ser que a distinção entre o vivo e o inanimado não deva seguir uma lista rígida de parâmetros, mas adaptar-se à complexidade de cada situação.
Visto que temos problemas definindo o que é vida, não é nenhuma surpresa aceitar que também não entendemos sua origem. Aqui na Terra, formada há 4,6 bilhões de anos, os primeiros sinais de organismos vivos datam de 3,85 bilhões de anos atrás. Tais organismos, simples unicelulares, reinaram por pelo menos 1 bilhão de anos, até organismos mais complexos, mas ainda unicelulares, como as amebas, aparecerem.
Recentemente, a história da vida na Terra teve uma grande surpresa: pesquisadores descobriram que a vida saiu da água muito antes do que se imaginava. Não há 1,2 bilhão de anos, mas há 2,6 bilhões, uma diferença enorme. Quanto mais tempo de vida, mais fácil é gerar estruturas complexas. Talvez a imagem que aprendemos na escola do peixe que cria patas em lugar de barbatanas e sai da água não seja tão precisa assim. Aparentemente, essas formas terrestres de vida eram muito primitivas, semelhantes às encontradas então nos oceanos.
Essas datas são interessantes porque justamente há 3,9 bilhões de anos a Terra e a Lua foram submetidas a um intenso bombardeio de asteróides e cometas, detritos gerados durante a formação do Sistema Solar. Esse bombardeio foi confirmado pela análise de rochas lunares, que mostram uma abundância de materiais vitrificados durante essa época. Esses materiais são típicos das enormes temperaturas que ocorrem devido a impactos com objetos celestes.
A colisão de um meteoro ou cometa literalmente derrete superfícies rochosas que, ao se solidificarem novamente, assumem um aspecto amorfo, ou vitrificado. Na Terra, devido a erosão e a efeitos geológicos, é praticamente impossível encontrar rochas tão antigas ainda preservadas. Mas o que aconteceu com a Lua certamente aconteceu com a Terra.
Esse bombardeio pode ter criado as condições necessárias para tornar a vida na Terra possível, como calor e vários compostos orgânicos que existem em asteróides e cometas. Ou, quem sabe, a vida possa ter vindo de carona em alguns desses bólidos celestes. Qualquer que seja a resposta correta (eu prefiro a primeira opção), parece claro que, sem os bombardeios celestes, a vida não teria surgido aqui. As colisões podem destruir, mas também podem criar.
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