Semana passada, recebi um resumo das notícias mais importantes no mundo científico durante o ano 2000, publicado pela revista americana "Science News". Na área de ciências da terra, 11 das 18 manchetes eram sobre aspectos diversos da poluição do planeta. E as notícias não eram nada boas. O debate entre o meio científico e o meio industrial sobre o impacto da poluição no clima terrestre continua. Não existe uma ciência completamente apolítica ou desinteressada economicamente. Mas acho no mínimo suspeito quando um engenheiro da gigantesca indústria petroquímica norte-americana Mobil ou da marinha norte-americana (um dos maiores poluentes do mundo) critica os dados de simulações climáticas feitas por vários grupos do mundo inteiro que apontam para sérios perigos futuros, caso os atuais níveis de poluição continuem como estão. Outro exemplo, não diretamente ligado à poluição externa, mas à interna, do nosso corpo, quando bioquímicos da fábrica de cigarros Philip Morris afirmam que os vínculos do cigarro com o câncer são inconclusivos ou que cigarros não são impregnados com substâncias que causam o vício.
Eis uma pequena amostra das últimas notícias no setor climático: a temperatura do oceano Pacífico oscilou de um extremo ao outro nos últimos dois anos, com consequências climáticas que podem durar mais de uma década. A superpopulação do planeta causou emissão de clorofluorocarbonetos -agentes que destroem o ozônio estratosférico- maior do que a atividade vulcânica.
Novos gases extremamente eficientes no bloqueio do fluxo de calor através da atmosfera -causadores do efeito estufa- foram descobertos. A agência espacial norte-americana, Nasa, mostrou que o degelo da costa da Groenlândia aumentou assustadoramente nos últimos anos, contribuindo para o aumento do nível dos oceanos. A quebra de parte da plataforma de gelo da Antártida criou um iceberg maior que o Estado de Connecticut (EUA), que viajou em direção ao Chile. Falando em Chile, foi lá que, pela primeira vez, uma região povoada ficou exposta ao buraco no ozônio.
O ano 2000 foi um dos 6 anos mais quentes nos últimos 120. Ele também esteve entre os dez mais chuvosos nesse período. A cidade de Barrow, no Alasca, acusou sua primeira tempestade elétrica. Mais de um quarto das construções situadas até 200 metros da costa norte-americana serão perdidas até o ano 2060. Apesar de desconhecer os dados para o Brasil, não imagino que eles sejam muito melhores do que os dos EUA.
Acho que é ingenuidade, e uma ingenuidade extremamente perigosa, afirmar que todos esses fatos são meras flutuações climáticas, perfeitamente razoáveis estatisticamente. Sem dúvida, a Terra passou por vários períodos em que sua temperatura média aumentou claramente. Uma perfuração com 600 metros de profundidade da camada de gelo da Groenlândia mostrou três períodos de alta acumulação de sedimentos, há 0,9 milhão, 1,9 milhão e 2,8 milhões de anos, causados por um aumento do nível do mar. Mas acredito que o aumento da temperatura e da precipitação na última década não foi causado por vulcões, oscilações solares ou chuvas de meteoros, para citar alguns agentes naturais de mudança. Esse desequilíbrio climático é produto de nossas próprias mãos.
Os esforços dos governos mundiais, como no Protocolo de Kyoto (1997) ou na Conferência do Rio (1992), não são suficientes, muito pela própria postura dos EUA, que se negam a restringir seriamente suas emissões de dióxido de carbono, entre outras. Agora, com um novo presidente conservador que vem do Texas, o império das companhias de petróleo, e sem o menor comprometimento político com o controle da poluição, não vejo como a coisa possa melhorar.
No entanto, existe algo que cada um de nós pode fazer, que é controlar localmente os vários abusos em nossa vida diária. Quando alguém queima lixo contendo plástico, cria mais toxinas do que um incinerador urbano de grande porte. O Brasil está atrasadíssimo na reciclagem de lixo. O desperdício de energia elétrica é enorme. O mesmo com os ônibus e caminhões com motores ligados, mesmo parados. Tenho certeza de que o leitor pode citar vários outros exemplos. O planeta é finito. E muito mais frágil do que pensamos. É bom não esquecer que nossas vidas são mais frágeis ainda.
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