Onde é a morada dos sentimentos? Será que a ciência pode nos levar a uma melhor compreensão, se possível até quantitativa, do que é sentir? Se você fizer essa pergunta a alguém trabalhando na área de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) ou de Imagem por Ressonância Magnética Funcional (fMRI), a resposta é um surpreendente "sim".
Essas duas técnicas, PET e fMRI, permitem a construção de imagens sequenciais do cérebro como em um filme, que os neuropsicólogos usam para estudar a atividade cerebral em resposta a certos estímulos emocionais. De modo geral, ambas as tecnologias medem as diferenças do fluxo sanguíneo no cérebro, contrastando as partes mais usadas -onde o fluxo é maior- com aquelas mais quietas. Com isso, é possível fazer um mapa dinâmico do cérebro, recriando seu funcionamento na medida em que ele é submetido a diferentes estímulos.
Essas técnicas de imagem já são conhecidas da psicologia e da neurologia, especialmente como ferramentas que ajudam a diagnosticar certas patologias, emocionais ou físicas, como um tumor cerebral. Mas a aplicação de tecnologias como a PET e a fMRI ao estudo das emoções é bastante nova e ainda controversa. O resultado mais geral desses estudos é que, quando sentimos algo, seja alegria ou tristeza, raiva ou medo, a atividade cerebral não se concentra em uma área específica, sendo distribuída por várias regiões do cérebro. E cada uma das emoções é caracterizada por atividades muito semelhantes: o medo se manifesta sempre nas mesmas áreas, a alegria também, como se cada emoção tivesse sua assinatura neuronal particular. O sentir gera ressonâncias cerebrais únicas, que serão traduzidas em expressões faciais e fisiológicas, como lágrimas, tensão muscular e riso. Mais ainda, humores interferem na eficiência dos processos mentais, como o raciocínio lógico, a memória ou a percepção sensorial. No caso de emoções extremas, o cérebro deixa de processar informação normalmente, confirmando algo que todos nós já sabemos, que os sentimentos fortes comprometem a clareza de nosso pensamento, "não tome decisões de cabeça quente".
O amor, claro, não podia ser deixado de lado. Cientistas do University College London detectaram um padrão distinto de atividade cerebral em 17 pessoas examinadas que diziam estar profundamente apaixonadas. Eles compararam a atividade cerebral desses voluntários quando eles olhavam fotos de seus amados e de pessoas apenas amigas, mostrando que o amor gera mesmo um sentimento de euforia representado pela alta atividade cerebral. O amor estaria, então, espalhado pelo cérebro: e aquele aperto no coração que sentimos vem, claro, de estímulos cerebrais. Portanto, a confusão histórica de atribuir o amor ao coração é bastante razoável.
Não querendo ligar o amor à depressão, estudos feitos com pessoas sofrendo de depressão profunda revelaram a necessidade do cérebro de se realinhar para que os sintomas sejam aliviados. Comparando pessoas que tomam Prozac e melhoram com outras que tomam a droga e não melhoram, cientistas demonstraram que o cérebro dos pacientes que foram beneficiados pela droga se transformou, criando novas conexões neuronais que permitiram o melhor processamento de informação. A droga, quando funciona, abre novas rotas no cérebro, que podem ser mapeadas com essas tecnologias de imagem.
Sem a menor dúvida, esses estudos são extremamente promissores, mesmo que ainda estejam na infância. Nada é tão complicado quanto o cérebro humano, pelo menos dentro do que nós conhecemos do Universo. Um dos problemas que os cientistas encontram nesses estudos é justamente como definir emoções de modo a tratá-las quantitativamente.
O que é amor para um pode não ser para outro. Quando o temor vira pânico e o afeto, amor? Poetas e escritores os mais diversos, de todas as épocas, vêm tentando definir as várias gradações emocionais, os vários níveis do sentir, se é que podemos falar em níveis. Daí que essas pesquisas poderão apenas traçar as linhas mais gerais das complicadas emoções humanas e de como elas são processadas na cabeça de cada um de nós. Pelo menos, assim espero. É bom se nós deixarmos um pouco de mistério no ato de sentir, mesmo que isso atrase um pouco a compreensão do funcionamento do nosso cérebro.
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