domingo, 7 de fevereiro de 1999

Cordas cósmicas e outros objetos não-identificados



Gostaria de começar definindo uma nova sigla: OCNI, Objeto Cósmico Não-identificado. Essa sigla será usada para descrever qualquer objeto cuja existência foi prevista por uma teoria cósmica (cosmologia ou astrofísica), mas cuja detecção definitiva, até o momento, nos iludiu.
A imaginação do cientista caminha mais rapidamente do que a tecnologia. Mesmo que, no decorrer da história da ciência, muitas descobertas tenham ocorrido devido a novas tecnologias (o telescópio e o microscópio são dois exemplos ilustres), várias outras foram produtos de teorias e especulações muitas vezes consideradas exóticas demais para serem verdade.

Os céus estão povoados pelos mais exóticos objetos, cuja existência foi prevista por teorias, antes deles serem observados. Astrofísicos previram a existência dos cadáveres estelares, conhecidos como anãs brancas, estrelas de nêutrons (ou pulsares) e buracos negros, bem antes de sua descoberta por meio de observações astronômicas. Esses objetos marcam os destinos possíveis de uma estrela, o estado de repouso final (em geral nada tranquilo) após ela ter queimado grande parte de sua matéria lutando contra sua própria implosão devido à força da gravidade.
Juntamente com esses cadáveres astrofísicos, vários outros objetos cósmicos, apesar de previstos por teorias, ainda não foram observados Äos OCNIs. Sua existência permanece um mistério, certamente uma fonte de ansiedade para seus criadores. Um exemplo interessante é o das cordas cósmicas, tubos extremamente finos e longos, resultantes de processos que possivelmente ocorreram durante a mais tenra infância do Universo.

As cordas cósmicas foram propostas em 1976 pelo físico inglês Tom Kibble, como produto de uma ruptura nas propriedades das forças que descrevem o comportamento das partículas de matéria em energias muito altas. Segundo a teoria, o mundo das partículas é dividido em dois níveis. Em energias muito altas, as forças se comportam do mesmo modo, sendo unificadas. Em energias mais baixas (o nível em que nós vivemos), elas são diferentes. Essas forças (ou melhor, interações) incluem o eletromagnetismo e duas forças que só ocorreram em distância nuclear, a força forte e a força fraca.

As cordas cósmicas são fósseis dessa ruptura entre as interações, seu interior mantendo a descrição unificada das forças. Caso pudéssemos examiná-las, veríamos uma realidade completamente diferente da nossa, em que as três forças entre as partículas (a exceção é a gravidade) se comportam como uma. Cada centímetro de corda pesaria na Terra milhões de vezes mais do que o monte Everest, embora seu diâmetro fosse menor do que um núcleo atômico! Sem dúvida, são objetos exóticos.

A descoberta de uma corda cósmica teria profundas repercussões na nossa compreensão do cosmos. Caso existam, elas teriam sido formadas na infância do Universo, oferecendo confirmação não só do Big Bang logo após o "bang", mas também de nossa compreensão da física de partículas em energias que provavelmente jamais poderão ser testadas em laboratórios da Terra. Hoje, atingimos energias milhares de bilhões de vezes menores do que as responsáveis (talvez) pela fabricação desses objetos. O cosmos se torna laboratório das menores estruturas que podemos imaginar. Como todo bom OCNI, algumas "observações" causaram enorme sensação antes de serem descartadas.

As cordas cósmicas podem explicar a rica estrutura observada na distribuição de galáxias no Universo; com sua incrível densidade e comprimentos astronômicos, elas atrairiam grandes quantidades de matéria, que se agregariam ao seu redor. Até o momento, nada de cordas cósmicas. Uma avalanche de observações recentes parece negar a existência desses objetos. Assim caminha a ciência; certas idéias, mesmo que atraentes, têm de ser abandonadas. Mas a esperança é a última que morre, certo?

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