domingo, 24 de abril de 2005

Galileu e a igreja

MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de João Paulo 2º ter sido considerado linha-dura em suas posições com relação a aborto, métodos anticoncepcionais e papel das mulheres na igreja, durante seus primeiros anos como papa demonstrou grande coragem ao visitar a Polônia comunista, plantando sementes que contribuíram para a queda do regime lá e em outros países da Cortina de Ferro.


O episódio parece indicar que a igreja foi intransigente. Na verdade, a história foi diferente


Outro ato de importância, ao menos simbólica, foi ter criado uma comissão para rever o caso Galileu, o famoso cientista que, em 1633, foi condenado pela Inquisição a prisão domiciliar por defender o sistema de Copérnico, no qual o Sol era o centro do cosmo. Em 1982, João Paulo 2º discursou sobre a necessidade de um estudo mais profundo dos eventos, "para remover as barreiras que possam obstruir uma relação frutífera entre ciência e fé". Em 1992, passados 359 anos, João Paulo finalmente revogou a condenação de Galileu pela igreja. Um excelente exemplo de "antes tarde do que nunca".

O "episódio Galileu" parece indicar que a igreja foi retrógrada e intransigente ao negar as descobertas do cientista. Na verdade, a história foi diferente. A atitude de Galileu, sua arrogância, teve papel-chave no decorrer dos eventos.

O livro no qual Copérnico propôs que a Terra é apenas um planeta girando em torno do Sol foi publicado em 1543. Naquela altura, a igreja não tinha uma posição definida com relação à posição da Terra. O que existia, devido aos avanços da Reforma Protestante, eram as regras do Concílio de Trento, especificando claramente que a interpretação das escrituras sagradas só poderia ser feita por teólogos sancionados pelo Vaticano.

Já os protestantes não eram tão flexíveis. O próprio Martinho Lutero havia caçoado de Copérnico, dizendo que "parece que um novo astrólogo quer provar que a Terra se move através dos céus (...) O tolo quer virar toda a arte da astronomia do avesso". Foi a entrada de Galileu em cena que forçou a igreja a adotar posição mais rígida.

Em 1610, Galileu apontou seu telescópio aprimorado, capaz de amplificar 20 vezes, para o céu. E o que viu iria modificar a visão de mundo da Renascença, até então dominada por idéias aristotélicas em que a Terra permanecia imóvel no centro do cosmo e os céus e seus astros imutáveis e perfeitos. Galileu viu crateras e montanhas na Lua, luas girando em torno de Júpiter, "orelhas" em Saturno, incontáveis estrelas na Via Láctea, fases em Vênus como na nossa Lua, enfim, coisas que ninguém havia visto antes. Absolutamente brilhante, começou a promulgar idéias antiaristotélicas, contrariando as opiniões de vários cientistas jesuítas, dedicados também aos estudos dos céus.

Em 1615, Galileu escreveu uma carta dizendo que a igreja deveria revisar a interpretação da Bíblia. Em 1616, foi forçado a abandonar suas idéias. Só então o livro de Copérnico foi suspenso. Galileu, convencido de que podia forçar os católicos a mudar de posição, não desistiu. Em 1623, o cardeal Barberini, seu amigo, virou papa. Galileu foi ao ataque e obteve permissão para publicar livro contrastando os dois sistemas.

Só que o livro, escrito como um diálogo, pôs a igreja e sua visão aristotélica no papel do incompetente. Em 1633, Galileu foi forçado pela Inquisição a abdicar suas idéias. Mas era tarde demais. A nova ciência escaparia da Itália, espalhando-se pela Europa. Galileu riu por último. Se tivesse sido mais cuidadoso, talvez pudesse ter rido em 1632 e não em 1992.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

O planeta Gleiser

O planeta Gleiser

Astrofísico, escritor, roteirista: uma viagem pelo universo íntimo do único cientista pop do Brasil

ELIANE BRUM

» Confira a íntegra da entrevista com o cientista Marcelo Gleiser

MARCELO GLEISER

Dados pessoais
Nasceu no Rio, tem 46 anos, três filhos. Vive nos Estados Unidos há 23 anos

Carreira
Professor de Física do Dartmouth College, nos EUA, publicou cinco livros, ganhou vários prêmios, entre eles dois Jabutis, o José Reis de Divulgação Científica e o Presidential Faculty Felows, da Casa Branca

Últimas realizações
Um romance sobre a vida do cientista Johann Kepler e dois roteiros de cinema

Montagem sobre fotos de Maurilo Clareto/ÉPOCA e reprodução


Fotos: arq. pessoal
O PEQUENO GLEISER
Caçula temporão, depois de dois garotos, os pais, Izaac e Haluza, torciam que fosse uma menina. Na foto, com 1 ano

Se houve um início, o dele foi a morte. Marcelo Gleiser perdeu a mãe, Haluza, aos 6 anos, em ''circunstâncias trágicas''. No escuro desde então, quis se tornar ''o primeiro judeu vampiro da História''. Com 10 anos, pegava um ônibus em Copacabana para se abrigar do sol carioca entre as largas paredes da Biblioteca Nacional. O pequeno Gleiser não conhecia outro atalho para a Transilvânia que não fosse o dos livros. A biblioteca era o castelo do menino. ''Queria entrar num plano em que minha mãe existisse.'' Dentro de uma mala preta, que escondia embaixo da cama, progredia sua primeira investigação científica: pilhas de anotações sobre Drácula e a imortalidade. ''Tinha medo de que meu pai descobrisse e pensasse que eu fosse louco.'' A infância foi para ele uma longa jornada noite adentro.

A aurora só viria bem mais tarde e outras perdas depois. ''Esse começo é a pedra filosofal da minha vida'', diz. ''Sou produto dessa perda. Quando se perde algo tão importante, você passa o resto da vida criando por causa dessa destruição. É como uma compensação. Quando era adolescente, percebi que tinha duas opções: ou me tornava uma pessoa mórbida ou tentava criar a partir da perda. Fui até o fundo do buraco para perceber que a resposta não estava lá. A resposta não estava em descobrir a vida depois da morte, mas a vida que estava acontecendo aqui e agora. Então me entendi.''

O cientista que virou pop está há mais de 1 bilhão de segundos de seu big bang particular. Aos 46 anos, transformar-se em vampiro foi a única façanha que Marcelo Gleiser não conseguiu. É o tipo que parece ter conquistado tudo. Tornar-se um cientista de expressão internacional já seria proeza suficiente para uma vida. Em 1994, Gleiser era exatamente isso. Pesquisador e professor de Física e Astronomia do Dartmouth College, uma das mais prestigiadas universidades americanas, suas descobertas sobre o cosmos foram premiadas pela Casa Branca.

FORMATURA
Aos 11 anos, recebendo o diploma da 5ª série das mãos do pai

Desde a primeira aula de seu curso em Dartmouth, batizado de Física para Poetas, Gleiser conseguiu arrebatar uma multidão de estudantes das áreas mais variadas. O cientista que nunca encontrou consolo na religião compartilhava com seus alunos - como hoje o faz com seus leitores - a descoberta com a qual dissipou suas trevas mais íntimas. ''A busca científica é uma entrega ao mistério maiúsculo, é essencialmente espiritual'', diz. ''Nessa procura, que você faz às cegas, apalpando o desconhecido, você está inventando o que significa ser você. Somos todos feitos de estrelas. Todo o carbono, o manganês, o cálcio que tem em seu corpo vieram de uma supernova que explodiu perto da nebulosa solar há 5 bilhões de anos. Quando você se coloca como um ser cósmico, a perda se transforma em algo mais aceitável porque é a lei do Universo. Quando você destrói alguma coisa, outra é criada.''

Gleiser criou muito. Dez anos depois do primeiro prêmio, um nada para o Universo, ele se expandiu. Tanto que se dá ao luxo de mudar de área, uma ousadia para poucos na Ciência: vai se dedicar à Astrobiologia - o estudo da vida na Terra e em outros planetas. Isso depois de escrever dois livros de divulgação científica e ganhar dois Jabutis - o principal troféu da literatura brasileira. Acabou de lançar o Micro Macro, coletânea de suas colunas na Folha de S.Paulo. Prepara-se para publicar o primeiro romance, 100 mil palavras sobre a vida de Johann Kepler (1571-1630), o medidor dos céus. Quem leu, diz que ele ficará mais famoso do que já é.

Ele vive numa casa na floresta. O rio passa quase na porta

A geografia de Gleiser não ficou circunscrita à literatura. Uma peça do grupo Arte Ciência, inspirada no primeiro best-seller (A Dança do Universo), estreou no Festival de Curitiba, fez temporada em Portugal e estará nos palcos de São Paulo em agosto. Em maio de 2006 vai estrear nos cinemas O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues. O roteiro foi escrito pelo cineasta com a colaboração do cientista. Conta a história de um astrofísico que volta ao Brasil - as coincidências, jura ele, acabam aí. No papel, José Wilker. ''Em meu filme anterior, Deus É Brasileiro, o Marcelo já tinha colaborado comigo, esclarecendo dúvidas científicas sobre a criação do mundo'', conta Diegues. ''Ele é um cientista moderno, preocupado com o homem no centro de sua ciência. Tem compaixão, imaginação e humor.'' Outro roteiro, em parceria com o americano David Glass, circula por Hollywood. Esse é um filme de ficção científica de US$ 130 milhões em que a Terra é ameaçada por tempestades solares, bem ao gosto cataclísmico dos americanos - com a diferença, sublinha Gleiser, que tem ''a Física correta''.

Com essa capacidade de propagação, esperava-se que, por uma espécie de lei física das compensações, Gleiser fosse corcunda. Ele é loiro, tem olhos azuis, 1,79 metro, 68 quilos. Mantém o físico de atleta: em 1975 foi campeão brasileiro de vôlei. Seu levantador era ninguém menos que Bernardinho, o técnico da seleção de ouro do vôlei masculino. ''Desde menino ele sempre foi tão lindo que tirava o fôlego das pessoas'', conta o irmão mais velho, Luiz Gleiser, diretor de núcleo da TV Globo. ''Por isso, está acostumado a ter sempre muita gente olhando para ele. Gosta de aparecer.''

PAIZÃO Gleiser, com a filha Tali, de 9 anos (à dir.), e uma amiguinha, em fevereiro

Diante da platéia, Gleiser discorre sobre buracos negros e supercordas de um jeito que todos entendem. Os fãs ficam fascinados, orbitam ao redor dele com idades e profissões as mais variadas - de office-boys a socialites. ''Nos livros dele parece que o Universo se abre'', resume a brasiliense Aline Guimarães, de 22 anos. Sem poder viajar para São Paulo no fim de junho para prestigiar a última aparição de Gleiser no Brasil, Aline despachou a tia para representá-la. ''Ele ajudou a encontrar meu caminho. Vou trocar a Psicologia pela Física. Como o Universo, estou em expansão!''

Gleiser vive hoje em Hanover, no Estado de New Hampshire. Sua casa se esparrama em uma floresta emoldurada por montanhas. O rio passa quase na porta. Semanas atrás ele cortava grama - tarefa que detesta - quando Jô Soares ligou querendo dirimir algumas dúvidas sobre a relatividade. Caetano Veloso é outro de seus fãs famosos: conta que se inspirou na obra de Gleiser para compor ''Livros''.

Dentro da paisagem de calendário, Gleiser faz alpinismo, passeia de caiaque e pesca trutas - mas as devolve vivas à agua, embora um tanto machucadas. ''Quando ele era pequeno, se equipava e saía todo compenetrado para pescar'', conta o irmão Luiz. ''Só pegava uns peixinhos. Ficava vendo o céu e cismando.'' Gleiser brinca que fica ''pensando no que a truta está pensando''. Pensa tanto na truta que atualmente estuda - seriamente - o que seria o cúmulo do politicamente correto: pincelar com iodo a garganta dos peixes para que não tenham uma infecção.

CENÁRIO PERFEITO
A vista de sua casa no meio da floresta, em Hanover.

Gleiser pode ganhar até US$ 10 mil por palestra, mas faz de graça para quem não pode pagar. Divide a mesa não só com astros da Ciência, mas também com superstars como a cantora Laurie Anderson. Entre seus mentores estão o médico e escritor cult Oliver Sacks, que costuma recebê-lo de chinelo e pijamas em seu apartamento de Nova York. ''Gleiser possui uma mente larga o suficiente para abarcar tanto os mitos primordiais da criação como os últimos avanços da cosmologia'', elogia Sacks. ''Seus livros são maravilhosos.''

Outro amigo é o prêmio Nobel de Química de 1981, Roald Hoffmann. ''Gleiser é a estrela mais brilhante de uma pequena constelação que consegue escrever numa língua que todos entendem'', derrama-se Hoffmann. ''O que faz com que se destaque é sua disposição de se engajar na condição humana. Ele nos conta não apenas sobre os engenhosos modos com que tentamos entender o mistério que nos cerca, mas também a nós mesmos.'' Hoffmann e Gleiser, aliás, desfilaram pela Unidos da Tijuca em 2004, vestidos de Santos Dumont. Gleiser não samba, mas assegura que se ''mexe'' bastante.

Viaja pelo mundo em cruzeiros de caçadores de eclipses. É trabalho

O cientista vive com a segunda mulher, Kari, uma bela psicóloga. Os três filhos do primeiro casamento, com uma agente imobiliária, são Andrew, de 16 anos, Eric, de 12, e Tali, de 9. Passam uma parte do tempo com a mãe, outra com o pai. Gleiser sente-se só. ''Quero voltar ao Brasil assim que minha filha caçula for à universidade'', conta. ''Sinto falta de sentar num bar com um amigo e largar a alma na mesa. Nos Estados Unidos convido as pessoas para ir lá em casa. Elas vão e parecem se divertir. Mas depois ninguém me chama. Fico pensando: será que fiz alguma coisa errada? Não quero envelhecer assim.''

Gleiser adora cozinhar, especialmente pratos tailandeses. E sabe tudo sobre vinhos. Os gostos cinematográficos passeiam de Ingmar Bergman e Andrei Tarkovski a Steven Spielberg. Os literários viajam dos contos de Poe e da poesia de Fernando Pessoa aos contemporâneos José Saramago e Salman Rushdie. Prefere música erudita, em cujas sinfonias migrou de Mahler para Brahms, mudança que atribui a uma certa calmaria da maturidade.

FAMÍLIA
Com a mulher, Kari, e o filho Eric, de 12 anos

Com a matemática só se reconciliou na universidade, gostava mesmo era de tocar violão. Até hoje improvisa. Só não foi músico porque o pai, o dentista Izaac, garantiu que morreria de fome. ''Essa idéia de que existe ritmo em tudo na natureza já ressonava na minha cabeça de forma inconsciente. Uma certa dança das coisas.'' Para falar sobre a dança do Universo, Gleiser costuma embarcar em cruzeiros marítimos pelos mares do mundo em companhia de uma espécie singular de turistas: os caçadores de eclipses. Pagam em torno de US$ 1.500 para que ele esteja lá. Num deles foi de Zanzibar a Madagáscar, em outro navegou pelo Mar Negro. Aproveita para fazer mergulho. Para relaxar dessa vida, ele pratica ioga.

Esse Gleiser solar data do final da adolescência. Por volta dos 20 anos, ele decidiu se deitar no divã. Procurou um gigante, Hélio Pelegrino. O psicanalista escutou sua precoce trajetória de perdas e o despachou para a rua, dizendo mais ou menos o seguinte: ''Você não vai ganhar nada com a psicanálise. O mais importante na vida é a pró-cura. Você procura através da Ciência''. Os amigos de Gleiser ficaram revoltados: ''Pô, o cara te deu alta na entrevista!''.

Marcelo Gleiser procura até hoje.

Medindo a alma de Kepler

Marcelo Gleiser fala sobre seu primeiro romance, ainda inédito

Escrita primeiro em inglês, a biografia de Johann Kepler consumiu quase três anos da vida de Marcelo Gleiser. Será lançada pela Cia. das Letras em 2006. O título - Skybound - ainda não tem tradução em português.

Maurilo Clareto/ÉPOCA

ÉPOCA - Como foi escrever um romance?
Marcelo Gleiser -
Foi a coisa mais difícil que eu fiz em minha vida. Sou fascinado por Kepler, que criou a ciência dele como se fosse um apóstolo. Dizia que a geometria é a linguagem que criamos para entender a mente divina. Era um cara torturado, que só encontrava paz nas esferas. Sua mãe quase foi queimada como bruxa, ele viveu no tempo da Guerra dos 30 Anos entre católicos e protestantes. Esse livro é uma metáfora para os dias de hoje. É um espelho porque o mundo está novamente polarizado por guerras religiosas. Mas é mais do que isso, porque conto a partir de duas linhas temporais, a do próprio Kepler e a de seu mentor, Michael Mastlin. Ninguém o conhece. Esse é o lance. Esse livro é o Amadeus da Ciência.

ÉPOCA - Você se refere ao Amadeus de Peter Shaffer, transformado depois em filme por Milos Forman, sobre a relação entre Mozart e Antonio Salieri?
Gleiser -
A diferença é que o Salieri não era professor do Mozart, como o Mastlin era. O Mastlin se desesperava porque era um bom astrônomo, mas nunca faria o que o Kepler fez. O livro é também essa angústia da mediocridade, de você ser criativo o suficiente para perceber a genialidade do outro.

ÉPOCA - O que isso tem de você?
Gleiser -
Eu já me senti burro e gênio. Já tive alunos brilhantes e alunos burros. Já fui considerado brilhante e burro por meus professores. Esse tema é universal. O novo contra o velho. Dedico esse livro a meus mentores vivos e mortos.

ÉPOCA - O que é ficção e o que não é?
Gleiser -
Todos os fatos do livro aconteceram. É um romance biográfico. Segui os passos do Kepler por três semanas: Alemanha, Áustria, Praga. Sentei à mesa em que ele sentava, li o livro que ele estava lendo. Tenho a correspondência trocada entre Kepler e Mastlin. Li toneladas de coisas. Tentei encarnar a vida dele. Reescrevi três vezes.

ÉPOCA - Foi difícil?
Gleiser -
Nunca chorei escrevendo um livro de não-ficção. Neste chorei. É verdade o que os escritores falam, de que os personagens dominam a gente. Eles me puxavam pela mão. Estavam vivos dentro de mim. Então, quando passavam por um momento difícil ou catártico, eu chorava. Eu me deprimi muito quando o livro acabou. Entendi por que algumas mulheres se deprimem depois do parto. Na gravidez aquele filho é seu, está dentro de você. De repente sai e está lá fora, é uma outra pessoa. Eu me sinto assim.

ÉPOCA - Todo esse caminho, e agora esse romance, ajudou-o a lidar com a morte?
Gleiser -
Não. Tenho medo de morrer. Que eu saiba, é o fim.

domingo, 17 de abril de 2005

A sopa da vida

MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA

Os primeiros indícios de vida na Terra datam de 3,5 bilhões de anos atrás, 1 bilhão de anos depois da formação do planeta. Esses organismos tinham só uma célula, com bioquímica extremamente simples, mesmo se comparada à de outros organismos unicelulares que apareceram mais tarde.

Reconstruir o surgimento da vida na Terra é um dos grandes desafios da ciência. Primeiro pelo fato de que, ao entendermos a origem da vida, estamos entendendo parte da nossa. Depois porque, ao entendermos a sua origem aqui, poderemos talvez descobrir se ela existe em outras partes do cosmo.


A química fundamental dos seres vivos não está restrita à Terra


A infância da Terra foi extremamente violenta. Durante o primeiro bilhão de anos, cometas e asteróides bombardeavam constantemente sua superfície, aquecendo-a e depositando rochas e compostos químicos em seu oceano. Os continentes não existiam. A composição química da atmosfera era muito diferente, com quase nenhum oxigênio. A vida que podia existir então tinha características muito diferentes das que vemos hoje. A Terra primitiva era, efetivamente, outro planeta.

Sabemos que compostos orgânicos existem no espaço. Em 1970, a composição química de um meteorito que ficou conhecido como Meteorito de Murchison foi analisada. Foram encontradas grandes quantidades de aminoácidos, componentes fundamentais da química da vida. Ou seja, ela não está restrita ao nosso planeta. Mas vamos com calma. Isso não significa que a vida fora da Terra tenha sido confirmada; apenas que seus componentes estão espalhados pelo Sistema Solar. Mas, então, por que não em outros sistemas estelares da Via Láctea ou do Universo? E como esses componentes se transformaram em seres vivos?

Aqui a coisa fica ainda mais complicada. A teoria mais aceita atualmente diz que uma combinação de compostos orgânicos simples, provenientes do espaço ou sintetizados em ambientes aquosos ou mesmo na superfície das rochas, começou a formar compostos cada vez maiores, encadeados como elos em uma corrente: a sopa pré-biótica. O problema é que a síntese de moléculas mais complexas a partir de elos menores (monômeros) não é um processo favorecido energeticamente; é como subir uma escada em vez de descê-la. Para que a síntese ocorra, é necessário que os compostos estejam em altas concentrações e que absorvam energia, tornando sua combinação mais provável. À medida que moléculas cada vez mais complexas (polímeros) foram formadas, algumas passaram a interagir com outras, aumentando o número de ingredientes da sopa.

Os primeiros catalisadores (moléculas capazes de acelerar reações químicas) apareceram. Embora os passos detalhados sejam ainda desconhecidos, alguns polímeros finalmente tornaram-se capazes de se replicar, mesmo que imperfeitamente. Estas seriam as primeiras entidades moleculares capazes de multiplicação e variação, cuja perpetuação depende de sua habilidade de absorver energia do ambiente à sua volta: a vida dá seus primeiros passos.
Ainda não foi possível reproduzir em laboratório a seqüência de reações que leva à geração de entidades orgânicas auto-replicantes. Sabemos que o experimento deu certo na Terra primitiva e possivelmente em inúmeros outros planetas espalhados pelo cosmo. De uma coisa podemos estar certos: em cada lugar a sopa deve ter tido uma receita diferente. O cardápio da vida tem pratos muitos mais variados do que suspeitamos.


quinta-feira, 14 de abril de 2005

Nascimento Cosmico

fonte:  http://www.hds.harvard.edu/
Devemos, os modernos cosmólogos de hoje ser criadores de mitos para explicar a criação?

by Marcelo Gleiser

Durante o outono de 2004, enquanto em um vôo noturno de Boston a São Paulo para participar de uma conferência sobre cosmologia, eu fui cumprimentado por um casal improvável de objetos celestes alinhados fora da minha janela: a Lua, quase cheia, e Marte, ainda reluzente laranja meses um forte passado seu ponto mais próximo à Terra em 60.000 anos. Sua simetria simples ficou comigo por muito tempo, ressoando com alguma necessidade primordial que todos partilhamos a busca de sentido nos céus. Olhando para uma noite estrelada, é difícil não sentir uma profunda ligação com o cosmos, uma convicção irracional que se intrometer em seus mistérios que nós vamos revelar algo crucial sobre nós mesmos, talvez a nossa verdadeira essência. O fato é que nós tentamos fazer sentido do universo, por uma razão absolutamente egoísta: para dar sentido a nós mesmos. Porque sabemos que sua história é nossa história, e que é maior de todas as histórias.

Nisto não são diferentes dos antigos observadores do céu: Eu não tenho conhecimento de uma cultura que não, através de algumas narrativas míticas, tenta fazer o sentido do céu e do mistério da criação. Yanomamis da Amazônia, Hopis no sudoeste americano, maoris da Nova Zelândia, o Livro do Gênesis, o Enuma Elish babilónico, a dança de Shiva criação, cosmologia relativística moderna, todos dizem, cada um com seu próprio imaginário simbólico e ferramentas, a história do nascimento do primeiro filho, o nascimento do próprio cosmos. A riqueza dessas narrativas é desconcertante. Os mitos de criação são mantidas como o mais sagrado de todos os mitos, trazendo ordem e sentido à vida das pessoas, integrando sua origem na origem do próprio cosmos.

As crianças, antes do ataque hormonais da adolescência diminui o foco do céu para a virilha, sempre fazer perguntas mítica: "Onde é que o mundo vem? Por que as estrelas brilham? Como é que há tantas pessoas e animais na Terra? O Sobre em outros planetas? " Milan Kundera, em seu romance A Insustentável Leveza do Ser justamente escreveu que as questões mais profundas são aquelas que as crianças perguntam. 2 Por muitas vezes, são perguntas sem respostas, e, como tal, define os limites do conhecimento, alargando os limites do que significa ser humano. Os indios Yanomami ou o moderno cosmólogo, quando se trata da origem do universo, todos nós nos sentimos como crianças. Uma curiosidade implacável nos impulsiona para frente, uma linha existencial a ser traçado. E traçar o que temos, a melhor maneira que pudermos, da pré-história até hoje.

Depois de ler centenas de mitos da criação, percebi que toda a queda dentro de um sistema de classificação simples, baseado em como cada um responde à pergunta "Será que o mundo passou a ser em um momento específico no passado?" Isto é, "Houve um momento de criação?" A resposta só pode ser "sim" ou "não". Um "sim" significa que o universo tem uma idade finita, assim como nós, que apareceu há algum tempo no passado e ainda está em torno de hoje. Um "não" pode significar duas coisas: ou o universo existiu sempre, um eterno, incriado cosmos, ou ele é criado e destruído em uma sucessão cíclica que se repete ao longo do tempo ilimitado. Os jainistas da Índia rejeitou a idéia de um mundo criado por algum deus ou deuses como mera loucura. Eles argumentaram que se o mundo tivesse sido sempre, os deuses eram desnecessárias.

Dança do hinduísmo Shiva cria e destrói o mundo em eterna repetição de ciclos. Ambas as idéias, universos incriado e cíclica, ressurgiu na cosmologia do século XX com a teoria de Einstein da relatividade geral, a um usado para estudar o Big Bang. Os germes do que as idéias são essencialmente os mesmos, mítico e científico. É ciência, então simplesmente redescobrir a antiga sabedoria? Soa como um material a lê em incontáveis livros da Nova Era que pretendem encontrar "paralelos" entre a ciência e todos os tipos de misticismo, do Extremo Oriente, Oriente Médio, sudoeste, etc Tempting e rentável, mas não é tão simples. As regras da cosmologia teórica são completamente diferentes das dos mitos de criação sagrada dos hindus e jainistas. Por um lado, modelos cosmológicos devem ser empiricamente validado, testado contra observações astronômicas: no final, só pode haver uma história da criação científica. Mas o que aconteceu antes de um modelo é confirmada, quando só matemática e guiar a intuição física imaginação do cientista? Isto é onde as coisas ficam mais interessantes. Há apenas um número finito de histórias da criação arquetípica. Eu encontrei cinco no total.O mesmo cinco histórias surgem em todas as culturas, vestidos com as suas próprias cores locais. A ciência passa a ser a narrativa que define a nossa visão moderna do cosmo.

Isso nos leva a mitos que escolher um cosmos com um aniversário. A esmagadora maioria dos mitos se enquadram nesta categoria, que podem ser subdivididos em três grupos. Destes, um é de longe o mais popular: mitos da criação, onde o mundo é formado de alguma forma por um deus, deusa, ou um conjunto de deuses. Genesis se encaixa aqui. O cosmo é o resultado de um ato sobrenatural, perpetrado intencionalmente por uma divindade ou divindades.

 A principal mensagem desses mitos de criação pode ser resumido como "um de muitos." Cada história da criação pressupõe a existência de algo absoluto, divino ou não, que se transforma ou cria o parente, a realidade em que vivemos, com suas distinções polarizada.  Esta dissociação absoluta em relação vale também para os modelos científicos nascimento cósmico.

Claro que, tomados pelo valor de face, um mito onde a criação é o resultado da intervenção divina não ressoam com qualquer modelo de criação científica moderna. . Não há tal coisa como fenômenos sobrenaturais na ciência, incluindo a origem do universo: ou as coisas acontecem, e então são passíveis de uma descrição científica, ou não e, portanto, não são a província da ciência. Um fenômeno é, por definição natural. O germe arquétipo de ligação da ciência ao mito aqui é de uma natureza mais filosófica, a noção de unidade como a essência da realidade física, o "a partir de um conceito" muitos ".

. Em física, a noção de unidade vem da geometria. A idéia de que a essência da natureza é descrita pela matemática é a pedra angular das ciências físicas. Mas a noção de que todos os fenômenos físicos podem ser reduzidos a um único princípio unificador enraizada na geometria não é. Esta crença remonta a Platão, que acreditava que a verdade só poderia ser contemplada dentro do mundo abstrato das formas geométricas.  Ecos platonismo fortemente nos escritórios de físicos teóricos, especialmente aquelas preocupadas com questões de origens cósmicas.  Stephen Hawking igualou a compreensão da origem do universo a conhecer "a mente de Deus".  A metáfora não é acidental.  Deus é o geômetra final.  É geometria.

 Pesquisas de Física para os padrões ordenados na natureza.. Cada padrão ordenado é associado com uma simetria específica, como a simetria perfeita de uma esfera ou de seis lados floco de neve. Simetrias também estão presentes na forma como as partículas elementares da matéria, os blocos de construção da realidade física, interagem uns com os outros.  Essas simetrias não pode ser visto a olho nu, mas existe muito concretamente na formulação matemática a ditar as leis como as partículas exercem forças uns sobre os outros.  Um físico descreve o mundo como composto de partículas elementares da matéria interagem com forças diferentes. Um século de experiências com partículas levou a um resultado notável: todas as manifestações da matéria na natureza pode ser descrita por combinações de apenas doze partículas elementares, agindo sob a influência das quatro forças. Duas dessas forças estão familiarizados-gravidade e do eletromagnetismo. Dois são só ativos dentro do núcleo, as forças nucleares fortes e fracas. Mas é isso aí (pelo menos até agora): doze partículas e quatro forças, cada um com sua simetria associada própria matemática.

 Há mais um conceito importante na física moderna, que de um campo.  Cada força tem um campo associado a ele.  Uma partícula com uma massa possui um campo gravitacional em torno dela.  Uma com a carga elétrica tem um campo elétrico em torno dele.  Não há nada de fantasmas sobre os campos, embora eles geralmente são invisíveis.  Pense nelas como a música, decorrentes de um instrumento que nunca pára de tocar. Assim, se existem quatro forças, existem quatro campos de força, cada um com sua própria simetria matemática.

 Podemos agora voltar para a busca da unidade na física.  A esperança é que as quatro forças ou campos observados na natureza realmente de uma mola, o campo unificado. Imagine um majestoso rio que se divide em quatro a caminho do mar. Nós vivemos na costa, onde os quatro rios correm os seus cursos distintos. Ninguém nunca nadou o suficiente upstream.  Aqueles que tentaram falharam. Mas uma antiga lenda diz que, se pudéssemos, gostaríamos de ver os quatro rios que se fundem em uma só. Esta crença sustenta a cada nova tentativa.

A teoria que tenta unificar todas as forças é conhecido, humildemente, como a Teoria de Tudo (carinhosamente chamado pelos seus requerentes de tep). Einstein passou décadas lutando para quebrar o seu segredo. Centenas de físicos teóricos do mundo dedicam suas vidas profissionais a ela. Embora haja motivos de observação indireta que desenvolva esta ideia, o seu principal combustível é a evidência empírica, mas não uma noção profundamente arraigada platônica de que tudo é um e que é uma geometria. A idéia fundamental é que vivemos num mundo assimétrico, descrito por quatro forças distintas.  No entanto, como sonda realidade em energias mais elevadas e alta como nadar contra a corrente, essas forças começam a se comportar mais como uma força única.  Em energias extremamente altas, como estava presente apenas durante os primeiros momentos após a criação, todas as forças foram unificados em um só.Neste sentido, se equiparar união com a força criativa do cosmos, a busca de teorias do campo unificado brota da mesma fonte que o "de uma das muitas narrativas" criação. Isso não tirar a beleza eo poder da narrativa científica moderna, que apenas ajuda a contextualizá-lo em uma perspectiva mais cultural.

 Eu recentemente convidei Alex Vilenkin, um professor de Física da Universidade de Tufts, para dar um colóquio em Dartmouth. Juntamente com Hawking, Hartle James, e Andrei Linde, Vilenkin é um dos pioneiros da cosmologia quântica, a aplicação das idéias da mecânica quântica ao universo como um todo.  Seu colóquio sobre o tema muito controverso de raciocínio antrópico e como ele pode nos ajudar a entender porque o nosso universo é único. Raciocínio antrópico é um nome mais suave para o chamado Princípio Antrópico, que afirma que o universo está do jeito que é porque nós estamos aqui: apenas um tipo muito especial de universo poderia evoluir para ter observadores inteligentes perguntas sobre sua origem e propriedades.  Sua premissa é que podemos usar o fato de que nós existimos para aprender coisas quantitativos sobre o cosmo.  Vilenkin feita no caso que nós podemos realmente usar o raciocínio antrópico de forma previsível: ele usou para justificar o valor de um componente misterioso da energia do universo chamada "energia escura", cujo efeito bizarro é atuar como uma espécie de anti -gravidade que empurra galáxias distantes distante. Podemos usar o raciocínio antrópico para fixar seu valor, dizendo que se fosse diferente nós não estaríamos aqui?  Não aprendemos nada de novo de fazer ciência desta maneira?

Escusado será dizer que os argumentos antrópicos, reuniram-se com muito ceticismo.  Em meu livro O Profeta eo astrônomo, 4 Tenho igualado com o equivalente científico de jogar a toalha: aceitando que o universo-é-o-caminho-que-é-assim-que-que-podia-ser aqui, como premissa de partida, a pessoa pára de fazer perguntas realmente fundamentais. . Drena a ciência de seu poder preditivo, faz depender a compreensão científica sobre os factos que é suposto explicar e não aceitar passivamente.  Nossa existência deve ser o resultado final da ciência, não o seu ponto de partida. O princípio antrópico lugares muita importância para os seres humanos, em ressonância com o "homem é sagrado" argumentos religiosos. Não que Vilenkin ou a maioria dos defensores dos argumentos antrópicos têm uma agenda religiosa secreta. (Alguns o fazem). Muito pelo contrário, eles afirmam que o nosso universo é apenas um de uma coleção infinita de universos onde as coisas conspiraram para produzir vida.  Ou seja, estamos apenas caso o estranho lá fora, uma aberração estatística improvável.  O perigo é que a partir de argumentos antrópicos para a pergunta "Por que estamos especial?" È um salto bastante automática. As coisas ficam bem confusas na mente de muitos: o universo evoluiu de uma forma muito especial para que nós, como somos únicos, poderia estar aqui. Fala-se de "coincidências cósmicas", onde apenas um universo de idade seriam aptos para a vida, uma vez que leva bilhões de anos para estrelas do tamanho certo para evoluir. Por sua vez, coincidências raça pensamentos de causas por trás deles, e toda a coisa cheira a teleologia, um universo com um propósito.  Argumentos antrópicos são preocupantes. Aparentemente, há uma divisão de geração, os mais velhos são mais facilmente atraídos por ela. Pergunte-me em 10 anos.

Em nossos dias de guerra modas monoteístas, é refrescante que os mitos de criação muitos não assumem um ato de criação de um todo-poderoso ser sobrenatural ou um senso de propósito cósmico como o seu princípio básico.. Caso em apreço, o segundo grupo de mitos de criação, com um início afirma que o mundo veio do nada. De repente, de um desejo primordial de existir, o estouro cosmos à existência por conta própria.  Um exemplo desse tipo de mito vem dos maoris da Nova Zelândia: "o engendramento do nada, do nada o aumento...." Criação do nada é também a forma cosmologia moderna descreve a origem do universo.. Evidentemente, o "nada" aqui é muito diferente da dos maoris, o que realmente significou a ausência de tudo, inclusive os deuses.  O nada da cosmologia moderna é baseada no conceito de vácuo quântico, um nada grávida de incessante atividade criadora.

Tudo começou em 1900, quando Max Planck propôs que a energia de troca átomos da mesma forma troca o dinheiro que nós, em múltiplos de uma quantidade fundamental, o quantum de energia.  O quantum do sistema monetário americano é o cento: a cada transação financeira acontece em múltiplos desta unidade de moeda. Antes de Planck, acreditava-se que todos os sistemas físicos, de planetas e bicicletas para gotas de água e átomos, a energia absorvida e emitida continuamente.

Em 1913, Niels Bohr realizado idéia de Planck sobre a estrutura interna dos átomos, que propõe que os elétrons só foram autorizados a circular do núcleo atômico em determinadas órbitas fixas, cada uma com sua própria energia associados, como os degraus de uma escada.  Tudo fazia sentido: os átomos só serão trocados em pacotes de energia quântica pouco porque os elétrons só poderia saltar entre os níveis de energia fixo, cada um relacionado a um salto quântico fixa de energia ou um múltiplo dele.

Uma questão ficou, no entanto: por que o elétron não cai no núcleo? Era jovem assistente de Bohr, Werner Heisenberg, que veio acima com uma resposta: o mundo do muito pequeno é marcado por uma incerteza intrínseca que torna impossível saber com precisão em que algo está em um dado momento: se você tentar medir o elétron posição interagindo com ele você acaba colidindo em outro lugar. A medida é para perturbar.  É uma propriedade escorregadia do mundo quântico, essa incerteza.  Escorregadio e fundamental, pois se você não souber a posição do elétron com precisão, você também não sabe a sua energia. Assim, o elétron não é melhor retratada como uma bola de bilhar pouco, com uma posição bem determinada no espaço, mas como uma onda, como entidade, cuja posição é manchada pelo espaço. Ele não cair no núcleo, porque não pode caber lá. No mundo do muito pequeno há uma agitação quântica residual que nunca vai embora, uma efervescência de ser perpétua. Isto significa que até mesmo o espaço vazio tem oscilações de energia, que o vácuo não é vazio, que não existe tal coisa como o nada absoluto. Traga famoso de Einstein E = mc 2 fórmula, que diz que energia e matéria podem ser inter-conversível, e as flutuações de energia pode realmente criar, mesmo que fugazmente, as partículas de matéria.  E se tudo o que existe no universo é energia em diferentes manifestações, estas flutuações podem até mesmo criar inteiro (minúsculo) universos.  No mundo quântico, não existe uma fronteira nítida entre o ser eo devir.
Armado com a incerteza quântica, podemos apresentar uma versão de como a criação de fora-de-nada cosmológica narrativa prossegue: "No início, quando o dedo reinou supremo na sua intemporalidade, havia um vácuo quântico, vazio ainda borbulhando de energia evanescente flutuações. Essa sopa primordial estava grávida de um número infinito de possibilidades cósmica, um universo potencial de cada um, cada um cosmóides. E eram de vários tipos. Alguns, mais denso, com energia, cresceu um pouco antes de implodir sobre si próprios, vítimas de seus próprios gravitacional auto-canibalismo. Others, os vazios, expandiu a um ritmo enlouquecido, tornando impossível para puxar inexorável gravidade da questão em conjunto para reunir em estruturas cósmicas tais como as galáxias e estrelas. Mas um cosmóides, talvez mais, passou a ter o equilíbrio de assunto atraente e raspas expansiva um alfinete de pé em sua extremidade, que lhe permita sobreviver por bilhões de anos, a sua dinâmica de processos físicos provocando a evolução das formas de material de complexidade crescente: núcleos, átomos, galáxias e estrelas, planetas e observadores inteligentes. Este cosmóides tornou-se o nosso universo, uma criação do nada quântico, um parto sem causa. "
Há mais um grupo de mitos de criação, com um começo, completando as cinco respostas arquetípico para a criação.  Essas narrativas estado que existia antes que o mundo não era o caos, que contemplasse tanto a criação e destruição de tensão instável.  Ordem surgiu espontaneamente, e os opostos foram diferenciadas como a criação de desdobradas. Criação implica sempre uma polarização da realidade.  Um mito taoísta de antes de 200 aC começa: "No princípio era o caos. chegou luz pura e construiu o céu. A obscuridade pesada, no entanto, mudou-se e formaram a terra de si mesmo...." A formação da Terra é narrado como uma auto-iniciando um processo dinâmico, uma condensação de uma obscuridade pesada. Essa idéia ressoa com descrições modernas de como as galáxias, estrelas e sistemas solares forma como resultado de nuvens de grande contratação da matéria, principalmente hidrogênio e gás hélio polvilhado com os elementos químicos mais pesados.  Grandes nuvens de gás contrato devido à sua própria gravidade.  Sua rotação faz com que eles adicionaram achatar nos pólos e para alongar no equador, um pouco como massa de pizza quando ele é girado. Manchas lumpier pontos de maior condensação "(densidade) estrelas tornam-se menos, enquanto os planetas irregular.  Certamente que não, porque não tem nenhuma intenção de oferecer um quantitativo, empiricamente validados, a descrição da realidade.  A sobreposição é a mais vagamente sugestiva e no final resultados bem diferentes.  O ponto aqui não é o de clipe do âmbito da criatividade científica em um puro nada "encaixe-é-sempre" novo tipo de regime, mas para argumentar que a ciência, pelo menos, que preocupados com questões de origem, pertence a uma tradição intemporal do significado de busca narrativas míticas.

Para ser científica, a cosmologia, no final, deve romper com suas raízes históricas mítico. Mitos não pode ser contestada racionalmente, mas deve ser aceita pela fé.  Para um maori, um ianomâmi, um cristão ou literal, o mito é a verdade incontestável, dada por Deus ou xamã-revelado. Outras narrativas míticas são consideradas falsas, sem um momento de hesitação. Grande parte da história do mundo foi (e é), escrito como resultado de confrontos entre diferentes credos horrível. A ciência, por sua vez, pretende ser universalmente aceito.  Sua força reside em sua ênfase de ter qualquer ideia empiricamente validados por experimentos de laboratório ou observações astronômicas.

Durante os últimos 10 anos ou mais, temos vindo a assistir a uma verdadeira revolução na nossa compreensão do universo, devido a uma série de solo de enorme sucesso baseado e espaço cargo missões. Agora sabemos que o universo é 13800000000 anos de idade, o tempo decorrido desde o início e que a sua geometria é plana ou quase isso.  O modelo do Big Bang descreve um universo com uma infância muito denso e quente.  Isso muito tem sido empiricamente validada e é um grande triunfo da cosmologia moderna. Quer isto dizer que temos também compreendeu a sua origem, que podemos explicar com confiança, como o universo veio a ser? . Não. infância cósmica não é a concepção cósmica. A narrativa moderna cosmológico tem elementos das três classes de mitos com um princípio: a crença em um princípio unificador, o conceito de uma criação a partir do (quantum) nada, ea noção de crescimento a fim de formar cada vez mais complexas estruturas localizadas, como galáxias e estrelas. Até agora, apenas este último aspecto tem se mostrado correta.  E sobre a origem do próprio universo?  A narrativa do nascimento corrente cósmica, em forma de um modelo matemático do cosmos, o poder preditivo?Pode ser validado como outras teorias científicas, ou estamos lidando com algo novo aqui?

Isto é onde as coisas começam a ficar confuso. É realmente difícil chegar a consequências actuais das coisas que aconteceram durante os batimentos cardíacos primeiro cósmica. Existem alguns possíveis efeitos, mas elas são extremamente difíceis de medir.Talvez as coisas vão mudar no futuro, mas para o momento, a maioria dos modelos de optar pela abordagem do segundo melhor: concordância somente aqueles modelos que levam a um universo com características semelhantes ao que vivemos são aceitáveis.  É uma estratégia óbvia.Como escreveu Sir Martin Rees, o astrônomo real da Grã-Bretanha, "[a teoria] deve ser percebido como tendo uma inevitabilidade único sobre ele, um anel retumbante da verdade que obriga parecer favorável." 5 Idealmente, os modelos propostos por cosmólogos não são apenas em conformidade com a mera nosso universo.  Devem também prever algo de novo e invisível, talvez um novo tipo de partícula ou radiação que ajudarão a provar que estão certos ou errados. The hopes are high. As expectativas são elevadas.  Um bestiário fantástico conjunto de possíveis habitantes cósmica tem sido proposto (alguns reconhecidamente deste autor), as consequências de diferentes modelos cosmológicos. Sabemos que eles existem, mas não sabemos ainda o que são.  Nossos olhos, porém, telescópica e de outra forma, estão abertas. Não ter todas as respostas é realmente uma coisa muito saudável.  É um pré-requisito para aprender mais. Ciência prospera em crise.

No ápice das narrativas plausíveis senta-se a origem do próprio universo. O ponto de partida já sabemos: o nosso universo deve ser único, porque foi um cosmóides fora da sopa primordial quântica que sobreviveram tempo suficiente para casa estrelas, planetas e pessoas.  É um conceito geralmente aceite que temos de ser raro, que nunca mais cosmoids crescer em qualquer coisa vale a pena pensar. Pelo menos de acordo com o raciocínio antrópico. Evidentemente, não temos nenhuma idéia se isso é verdade ou não, pois não podemos sair de nossa expansão cosmóides para visitar os vizinhos.  O argumento afirma que poderia haver inúmeras, talvez infinitamente muitos, cosmoids lá fora, cada um com seu próprio conjunto de propriedades físicas.  Nesse caso, como vimos, o nosso universo, nossa existência, seria o resultado de um acidente de mera estatística.. Somos únicos porque nós pertencemos ao pequeno subconjunto de cosmoids que pode abrigar vida.  E, talvez mais para o ponto, porque nós somos aqueles que criam as teorias que tentam explicar a nossa existência. Andrei Linde, que abraça o raciocínio antrópico, avançou o conceito de um "multiverso", a meta absoluta entidade que passa a eternidade cosmoids parto, a maioria condenada a um mal-existência, fadado efêmera,. Não sei como essa idéia poderia ser testado. . Talvez algumas de suas conseqüências muito indireta poderão, a prova, mas que não seria forte, apenas circunstancial. No início do tempo, a fronteira entre a ciência eo mito fica embaçada.

Significará isto que os cosmologistas tentam explicar criação são criadores de mitos dos tempos modernos? Minha opinião é que não temos escolha, mas para ser criadores de mitos. No entanto, há uma distinção fundamental da fé-mito inventado com base: na cosmologia, os mitos são necessárias apenas para sustentar o processo criativo científico, actuando como catalisadores para a imaginação.. Eles estão lá fora, uma distante montanha mágica que deve ser alcançado por enfrentando o território entre os dois. A ciência das coisas boas é o que sai dessa exploração. Se estivéssemos a chegar à montanha, ele deixaria de ser mágico e tornar-se real. Se este objetivo final fosse alcançado, os mitos não teria nenhum papel da esquerda, como iríamos finalmente ter descoberto o modelo racional da realidade que tem todas as respostas. A menos, claro, esta meta-teoria é um Santo Graal. Neste ponto, nós não sabemos. Enquanto isso, a sua imagem luminosa sustenta a pesquisa. Não é por acaso que o Prêmio Nobel de física Steven Weinberg chamou o seu livro que descreve a busca de uma teoria do campo unificado Sonhos de uma Teoria  Em suas palavras: "Temos de assumir que consigamos, caso contrário, certamente faltará." 6 O poder de um mito não está em sua realidade, mas na sua credibilidade.

domingo, 10 de abril de 2005

O Deus de Einstein

MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA

"Por que você me escreve dizendo que "Deus deveria punir os ingleses?" Não tenho relação íntima com um ou outro. Vejo apenas com grande tristeza que Deus pune tantas de suas crianças por seus inúmeros atos de estupidez, atos pelos quais Deus apenas deveria ser o responsável; em minha opinião, apenas a sua não-existência poderia desculpá-lo." Assim escreveu Albert Einstein a seu colega Edgar Meyer em carta datada 2 de janeiro de 1915, o ano em que concluiu sua teoria da relatividade geral, que reformulou nossa concepção da gravidade.

Essas são as palavras de alguém que carrega um grande senso de traição com relação à religião organizada, à crença em um Deus onipresente, o Deus bíblico. A religiosidade do físico suíço-alemão, que cresceu dentro da tradição judaica, certamente não se encaixava na ortodoxia.


A religiosidade de Einstein, que cresceu dentro da tradição judaica, certamente não pertencia à ortodoxia


Contraste o texto acima com este: "Tudo é determinado... por forças além de nosso controle. Isto é verdade para um inseto ou uma estrela. Seres humanos, vegetais, grãos de poeira todos dançam segundo uma melodia misteriosa, entoada à distância por um flautista invisível".

("Saturday Evening Post", 26 de outubro de 1929). Ou este: "Acredito no Deus de Espinosa, revelado na harmonia de tudo o que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens". (Telegrama para um jornal judaico datado de 1929.)
O "flautista invisível" representa um Deus que se revela através da "harmonia de tudo o que existe", no discorrer das transformações do mundo natural. Espinosa, um filósofo que viveu no século 17, acreditava que Deus e o mundo material eram indistinguíveis, que, quanto melhor compreendemos o funcionamento do Universo, mais nos aproximamos de Deus.

Para Einstein, a ciência é essencialmente uma atividade religiosa. Religião, claro, que trata a natureza como metáfora do divino e o cientista como seu sacerdote, aquele capaz de desvendar os seus mistérios. Essa atitude tem suas raízes em Platão, que via a essência do divino na razão humana. A elegância das figuras geométricas, suas relações e proporções, formam a linguagem que usamos para decifrar o código usado por "Deus" para construir o cosmo. A matemática é o alfabeto da Criação.

"O comportamento ético dos homens deve se basear na simpatia, educação e nos laços sociais; não é necessário base religiosa. Os homens estariam em péssima situação se tivessem que ser controlados pelo medo de punição [divina] ou pela esperança de salvação após a morte." ("New York Times Magazine", 9 de novembro de 1930.) Aqui Einstein argumenta que a religião organizada não é necessária para estabelecer as bases de um comportamento ético. Impor o controle social pelo medo ou pelas crenças mostra o quão imaturo é ainda o homem. A essência do equilíbrio social não se encontra na religião mas no respeito à vida, ao outro, ao mundo.

Einstein (1879-1955) sobreviveu a duas guerras mundiais, foi testemunha do genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, de um número ainda maior de russos por Stálin, de centenas de milhares de japoneses pelas bombas atômicas americanas. Se estivesse vivo hoje, veria que pouco mudamos. Imagino que se trancaria em seu escritório e tentaria desvendar mais um mistério, rabiscando fórmulas matemáticas em um papel, a única prece que acreditava poder purificar a sua essência.

domingo, 3 de abril de 2005

O mistério da aceleração cósmica continua

MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA

Diferentes épocas proclamam diferentes "verdades", algumas científicas outras não. Na Europa do século 16, era perfeitamente razoável afirmar que a Terra era o centro do Universo e que bruxas deveriam ser queimadas em praça pública. As coisas melhoraram um pouco nos últimos 400 anos, ao menos na área científica: teorias são validadas empiricamente, isto é, as previsões de uma teoria são contrastadas com dados obtidos por meio de observações e de experiências de laboratório.


A aceleração cósmica continua aqui, firme e forte, confirmada e reconfirmada por grupos diferentes e tipos diferentes de observação


Um aspecto importante desse procedimento é que ele é repetitivo: se grupos diferentes realizarem os mesmos experimentos, respeitando as mesmas condições, os resultados têm de ser idênticos dentro da margem de erro de cada um. Por isso, quando em 1998 um grupo de astrônomos anunciou que o Universo está não só em expansão -algo que se sabia desde 1929-, mas em expansão acelerada, achei que a coisa não iria durar, que outros grupos iriam contradizer a afirmação. Não foi o que aconteceu.

A aceleração cósmica continua aqui, firme e forte, confirmada e reconfirmada por grupos diferentes e tipos diferentes de observação. Por aceleração quer-se dizer o seguinte: galáxias extremamente distantes estão se afastando a velocidades crescentes. O efeito não ocorre em pequenas distâncias, como no nosso sistema solar ou nossa galáxia; esses sistemas astronômicos são mantidos coesos pela sua atração gravitacional interna, que sobrepuja o efeito da expansão. Quando se fala em expansão do Universo, está se falando de objetos situados a distâncias de dezenas de milhões de anos-luz.

Como entender essa expansão? Esta é uma das perguntas mais importantes da cosmologia moderna. Sabemos que, qualquer que seja a resposta, ela trará uma nova "verdade". Como o leitor pode imaginar, centenas de físicos no mundo inteiro estão propondo explicações as mais diversas. Esse tipo de situação é sempre revelador: os dados estão aí, pedindo novas idéias, forçando os cientistas a serem criativos, a arriscar. E, de fato, tem chovido idéia nos periódicos especializados. As mais ousadas, chamadas de teorias das "branas" (de mem-"branas") atribuem a aceleração à existência de dimensões extra, além das três que conhecemos. Segundo tais teorias, vivemos em uma espécie de fatia cósmica, a "brana", que existe em um Universo com muitas dimensões. Essa seria a realidade de uma ameba condenada a existir em uma folha de papel (duas dimensões) flutuando no espaço tridimensional. Apenas a gravidade pode agir nas dimensões além da "brana". Essa teoria e suas variações pode prever cosmologias com expansão acelerada.

Outra sugestão é que a força da gravidade sofra variações a grandes distâncias, modificando a lei de Newton que diz que sua intensidade cai com o quadrado da distância. De fato, não temos testes diretos de como a força gravitacional se comporta a milhões de anos-luz, embora seja difícil justificar tais modificações sem uma motivação profunda. Mas como a natureza tende a nos surpreender, devemos manter a cabeça aberta. É possível que uma nova lei seja descoberta empiricamente antes de sua justificativa conceitual. Ou a explicação pode ser ainda totalmente diferente, mesmo que cause desconforto. O novo tende a ser assim, irreverente e revolucionário, se preocupando mais com o amanhã do que com o ontem.