domingo, 10 de dezembro de 2006

O Erro (?) de Einstein



A força que se contrapõe à gravidade deve mesmo existir


Quem acredita que a ciência progride sempre a passos firmes vai achar a história que conto hoje interessante. Sendo uma criação humana, a ciência retrata as dúvidas, erros e preconceitos de seus criadores. O que a distingue das demais atividades que envolvem a criatividade, como a arte e a literatura, é que a ciência tem a preocupação de descrever quantitativamente a realidade em que vivemos. No máximo, o que podemos fazer é tentar construir uma visão de mundo que se aproxime, de maneira imperfeita, dos mecanismos da natureza.

Em 1915, Einstein concluiu sua teoria da relatividade geral, onde descrevia a gravidade como uma distorção na curvatura do espaço devido à presença de uma massa; quanto maior a massa, maior a distorção. Portanto, um corpo qualquer que passe perto de uma grande concentração de massa, como o Sol, será acelerado em sua direção devido à essa curvatura, tal como uma criança que cai escorregador abaixo. Quando a massa é relativamente pequena, como a da Terra ou a de uma pessoa, a teoria reproduz os resultados obtidos por Newton em 1686 que descrevem a gravidade como uma força atrativa entre dois ou mais corpos com massa.

Empolgado com sua nova teoria, Einstein resolveu aplicá-la ao Universo inteiro: se soubéssemos a massa total do cosmo poderíamos determinar sua geometria. Para simplificar as coisas, Einstein supôs que o Universo tivesse a geometria de uma esfera e que fosse estático. Porém, suas equações não tinham uma solução estável; esse universo colapsaria sobre si mesmo ou entraria em expansão. Na época, não havia qualquer evidência de que o Universo estivesse em expansão ou contração. Para remediar, Einstein adicionou um novo termo em suas equações que garantiria sua estabilidade. Era uma espécie de "antigravidade" que agiria da mesma forma sobre o cosmo inteiro. Esse termo ficou conhecido entre os físicos como "constante cosmológica".

No final dos anos 20, o astrônomo americano Edwin Hubble demonstrou que galáxias distantes estão se afastando mutuamente com velocidades que crescem com sua distância. Einstein, quando soube disso, descartou seu termo e, relutantemente, aceitou a expansão do Universo.
A constante cosmológica permaneceu esquecida durante um bom tempo. Assim funciona a ciência: teorias respondem às observações; se uma hipótese é demonstrada falsa, deve ser abandonada. Porém, observações são com freqüência extremamente complexas e sujeitas a erros.

No caso da astronomia extragaláctica, a dificuldade está em medir distâncias de milhões ou mesmo bilhões de anos-luz com precisão.

De certa forma, nossa visão do Universo é como a de um míope que vai melhorando seus óculos gradualmente. A cada novo par de óculos, inúmeras novas descobertas são feitas, criando a necessidade de abandonar idéias erradas e criar outras novas. Ou ressuscitar idéias antigas...
Em 1998, astrônomos demonstraram, para surpresa de muitos e constrangimento de alguns, que o Universo não só está em expansão, mas que essa expansão acelerou nos últimos bilhões de anos. Parece que quanto mais velho o Universo vai ficando, mais pressa ele tem. Passados oito anos, a hipótese mais aceita é a de que essa aceleração é causada justamente pela constante cosmológica. A idéia que Einstein descartou como erro pode não estar errada afinal. Resta entendermos porque essa constante existe e o que determina seu valor. Imagino que Einstein adoraria participar dessa discussão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário