domingo, 1 de fevereiro de 2009

O peso da alma

Para a surpresa do bom doutor, a balança acusou 21,3 gramas

Caro leitor: após o assunto de extrema seriedade que tratamos na semana passada -o novo governo de Obama e as mudanças positivas que esperamos nos EUA e, quem sabe, no Brasil- gostaria de voltar a minha e a sua atenção para assuntos mais imponderáveis.

Eis que, essa semana, quando pesquisava material para o meu novo livro (que deverá sair no ano que vem), deparei-me com uma matéria deliciosa que imagino seja do interesse de todos os leitores: o peso da alma.

Pois é, a alma tem ou não um peso?

Claro está, como não estabelecemos contato com uma alma livre ou, se estabelecemos, a pergunta de cunho científico sempre fica deixada para trás perante às de cunho emocional, não temos ainda uma resposta universalmente aceita.

Devo dizer, para maior esclarecimento, que nem todas as religiões acreditam em alma. As que acreditam dificilmente atribuiriam à alma propriedades materiais, como o peso ou um campo eletromagnético. Por outro lado, visto que nós humanos podemos apenas medir aquilo que é material, ficamos limitados a esse tipo de estratégia mais metodológica. Na pior das hipóteses, se obtivermos resultados negativos, confirmaremos mais uma vez nossa incapacidade de mergulharmos nos mistérios mais profundos da existência de forma racional. Que ingênuos aqueles cientistas que acham que poderia ser diferente!

No dia 11 de Março de 1907, leitores do prestigioso jornal americano "The New York Times", depararam-se com a manchete: "Médico acredita que a alma tem peso". O doutor Duncan MacDougall, de Haverhill (EUA), conjecturou que, se a alma fosse material teria uma massa. Para provar a sua hipótese, equipou seis leitos com balanças de boa precisão e ocupou-os com pacientes que estavam à beira da morte. Seguiu-se um período de observação, durante o qual o doutor esperou pela morte de seus pacientes. Cuidadoso, certificou-se de que a perda de peso medida já antes da morte era devida aos fluidos eliminados pelos pacientes pelo suor ou urina; após a sua evaporação, as balanças acusavam uma pequena perda de peso.

Um deles morreu após três horas e quarenta minutos. Para a surpresa do bom doutor, em alguns segundos, a balança acusou uma perda de 21,3 gramas. Seria esse o peso da alma, 21 gramas? Dos seis testes, dois tiveram que ser eliminados devido a erros nas balanças: num deles, a balança não havia sido calibrada corretamente; o outro morreu tão rápido que o médico não teve tempo de calibrá-la.

Dos outros três, dois indicaram uma perda de peso que continuou durante um bom tempo, e o último indicou uma perda de peso que depois reverteu ao normal. O doutor especulou que a partida da alma depende do temperamento da pessoa: as almas daquelas mais lentas demoram mais para abandonar o corpo.

O doutor repetiu o experimento com quinze desafortunados cachorros, não encontrando qualquer diferença no momento da morte. O resultado não o surpreendeu. Pelo contrário, serviu de apoio à sua conclusão.

Afinal, cachorros não têm almas.

Quatro anos mais tarde, o doutor MacDougall voltou às manchetes do "The New York Times". Desta vez, pretendia fotografar a alma usando o recém-descoberto raio-X. Resultados negativos foram atribuídos à agitação da substância animista no momento da morte. De qualquer forma, o doutor afirmou ter visto "a alma de doze pacientes emitir uma luz semelhante àquela vista no éter interestelar".

Pobre doutor. Provavelmente não sabia que em 1905 um jovem físico alemão de nome Albert Einstein havia demonstrado que o éter não existe.

3 comentários:

  1. Caro Marcelo:

    O éter não existe, mas especula-se que existe a matéria escura, e além da matéria escura a energia escura.
    Parece que o "éter", afinal, existe sim.
    Mas mudando um pouco de assunto.
    Tenho muito interesse em cosmologia apesar de acompanhar o assunto como leigo e gostaria de lhe fazer uma pergunta.
    Assisti a alguns programas e li alguns artigos que afirmam que nossa via láctea acabará se chocando com andrômeda. Nos chocaremos com andrômeda apesar da expansão em aceleração do espaço? Por que?

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  2. É grande nossa curiosidade à assuntos relacionados á "morte".
    Vivemos em uma era que queremos acreditar cada vez mais na ciência, porém, sempre existirá algo que a ciência não consegue explicar, e uma ponta de discrença irá sempre aflorar dentro de nós mesmos, até para os mais afortunados e abastados de tecnologia, vivendo na vanguarda da informação, cientistas e pesquisadores esclarecidos e dotados de ótima reputação.
    Sempre, este "gostinho" de querer saber de forma racional algumas questões da nossa existência, não será desta forma revelada, e, enquanto forçarmos por tais rspostas, mais difícil e estranha se mostrará a "verdade".
    Um exemplo?.Muitas vezes queremos pesquisar sobre a "morte", tentar entende-la, o porque acontece, ou para onde vamos.Mas, a pergunta não é perguntar sobre a morte, a resposta vira com uma simples, porém mais correta pergunta, o que é a "vida".

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  3. Podemos sentir em nossa alma o peso emocional que a morte nos acarreta, mas quanto ao peso da alma?
    O fato de não podermos medir seu peso, não implica necessariamente em sua inexistência, digo da alma.
    Claro que ficamos ainda no escuro a tatear em busca de evidências, que talvez nunca venhamos a encontrar, mas também não tateamos em busca da fugidia matéria escura?
    Hoje prevemos a existência da matéria exótica, mas como ela influenciaria uma balança?
    Que peso teria para a humanidade o impacto da descoberta da alma? Seria por demais exótico, ou viria de encontro a muitos anseios?
    Em um universo de muitos universos podemos pelo menos sonhar com a existência de um sistema físico que comporte a alma? Ou não?
    Com certeza se descobríssemos indícios da existência da alma, isto deixaria nossa própria alma muito mais leve.

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