domingo, 15 de março de 2009

Robôs apaixonados



Será que nós estamos prontos para amar as máquinas?

Na semana passada, revi o filme "Inteligência Artificial", de Steven Spielberg (coluna de 2 de setembro de 2001). À parte o drama da narrativa -onde um robô-menino, recriado brilhantemente pelo então jovem ator e vencedor do Oscar, Haley Joel Osment, sai pelo mundo em busca do amor de sua vida, a sua mãe humana- o filme mostra uma Nova York do futuro, parcialmente submersa. As torres do World Trade Center aparecem despontando sombriamente das águas. Nove dias após a publicação da minha coluna, as torres foram destruídas. Isso, nem o grande Spielberg poderia ter previsto.

Exibi o filme para a minha classe, como parte de nossas discussões sobre os usos e abusos da tecnologia. Por coincidência, no mesmo dia em que vimos o filme, o presidente Barack Obama assinou projeto cancelando restrições às pesquisas com células-tronco, revertendo a política obscurantista de seu predecessor. Aleluia!

Obama assinou também uma declaração prometendo a separação entre ciência e ideologia política, proibindo a distorção e omissão de fatos e dados científicos para satisfazer as agendas de grupos de interesse. Leia-se, para deixar claro que os resultados científicos sobre a gravidade do aquecimento global e suas causas não podem mais ser distorcidos. Estava na hora de a nação que mais polui o planeta assumir a responsabilidade e a liderança na luta contra o efeito estufa.
O que vimos na semana que passou é só o começo. Finalmente, a ciência mais uma vez recebe o respeito que merece dos nossos vizinhos do norte.

Agora é a vez de o nosso país fazer o mesmo, começando por aumentar os recursos dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação. Não fazer isso é nos prender ao passado.
Se a reviravolta científica nos EUA é uma boa indicação, a pesquisa será reaquecida no mundo inteiro; quando o planeta passa por uma crise como a atual, podemos rezar ou criar novas alternativas, novas tecnologias, novos modos de pensar. Investir na nossa inventividade me parece ser a alternativa mais promissora.

Mas quero voltar aos temas levantados pelo filme. A ficção científica, quando bem feita, tem o poder de nos remeter à uma reflexão sobre a condição humana; o que somos, como vivemos, por que existimos. Stanley Kubrick, um dos grande diretores de todos os tempos, iniciou o projeto do filme. Antes de morrer em 1999, passou o comando a Spielberg; não há dúvida de que o filme teria sido muito diferente nas mãos de Kubrick. Menos melodramático, com certeza, embora seja impossível não se emocionar com o robô que, como o boneco Pinóquio, queria ser um menino de verdade.

Eis a questão central: o que no faz humanos? Será a "nossa capacidade de tentar tornar os nossos sonhos em realidade"? A nossa capacidade de amar? No filme, a grande revolução que ocorre na indústria robótica se dá quando o cientista-gênio (William Hurt no papel do Prof. Hobby), consegue programar o amor no robô-menino: com uma combinação de sete palavras, como num encanto mágico ou cabalístico, o robô passa a amar a sua mãe completa e totalmente. À parte os seus circuitos internos, ele passa a agir e sentir como um ser humano.

Além da busca do robô por sua humanidade, o filme questiona o outro lado da equação: será que nós estamos prontos para amar máquinas?

Apesar de estarmos longe de criar máquinas inteligentes e, mais ainda, máquinas capazes de amar, podemos refletir sobre essas possibilidades. Podemos não. Devemos. O casamento da genética com a cibernética vai mudar o mundo. Com o passar das décadas, seremos cada vez menos carne e osso. Mas não por isso menos humanos.

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