domingo, 12 de abril de 2009

Metabolismo e reprodução são propriedades essenciais


Definindo vida

A vida é uma dessas coisas mais fáceis de identificar do que de definir. É incrível que, passados tantos séculos desde que começamos a pensar cientificamente sobre o mundo, ainda não tenhamos uma definição universalmente aceita sobre o que é a vida.

Por exemplo, sabemos que uma pedra não está viva. E por quê? Uma pedra não come, não bebe, não se reproduz. Comer e beber significa que atribuímos aos seres vivos a necessidade de se alimentar e de transformar alimentos em energia. Ou seja, seres vivos exibem alguma forma de metabolismo. A reprodução, a capacidade de fazer cópias de si mesmo, é outra característica fundamental dos seres vivos. A espécie que não se reproduz desaparece. Portanto, metabolismo e reprodução são as duas propriedades mais importantes da vida. Qualquer definição do que seja vida tem que incluí-las. Mas e o fogo? Se alimenta também, consumindo oxigênio e a matéria que entra em combustão. E se reproduz, espalhando-se por onde pode. Porém, todos concordam que o fogo não é considerado um ser vivo.

Estrelas, também, podem confundir. Por meio da fusão nuclear, consomem o hidrogênio em seu interior, transformando-o no elemento hélio, um processo que libera enormes quantidades de radiação. Numa espécie de autofagia, as estrelas se alimentam da própria matéria. De certa forma, estrelas também se reproduzem: quando uma "morre", explode com enorme violência, espalhando sua matéria pelo espaço. Se essa matéria colidir com uma nuvem de hidrogênio, causará instabilidades que fazem com que a nuvem entre em colapso e se transforme, caso tenha matéria suficiente, numa nova estrela. Dentre outras coisas, a diferença entre o fogo ou uma estrela e uma ameba ou uma mariposa está na composição química: seres vivos são formados por compostos orgânicos, moléculas complexas que incluem proteínas e ácidos nucléicos, o RNA e DNA usados na reprodução.

Vemos na insistência de uma definição da vida uma limitação da linguagem. Não é que não saibamos como definir a vida; talvez a vida seja indefinível, ao menos de forma precisa e universal. Talvez tenhamos que nos contentar com uma definição operacional: a vida é um sistema de reações químicas autossustentáveis capazes de extrair energia do ambiente e de se replicar. Mesmo que essa definição não mencione compostos orgânicos, é difícil incluir o fogo e as estrelas nela. Em discussões sobre o que é a vida, sempre se fala nos vírus e nos príons como casos limite. Os vírus só se reproduzem em contato com uma célula viva, e os príons nem material genético têm. Por não terem autonomia, ambos são considerados "replicadores" em vez de seres vivos. Essas distinções e definições não são apenas questões de interesse acadêmico.

Com a exploração de outros planetas e luas, é cada vez mais importante compreendermos as várias facetas da vida. Mesmo que limitados no momento pelo que estudamos aqui na Terra, nossas definições precisam ser gerais o suficiente para englobar formas de vida inesperadas. É difícil prever em detalhe o que nos espera em outros mundos. Talvez nada, ao menos a julgar pelo que encontramos até agora. Contudo, como dizia Carl Sagan, a ausência de evidência não é evidência de ausência. (Aliás, essa definição funciona também para fadas, duendes, Deus...)

Devemos manter a cabeça aberta e nossas definições amplas, para englobar o desconhecido. Seja o que for, se estiver vivo precisará de energia e terá de se reproduzir. Com relação a isso, não temos do que duvidar.

3 comentários:

  1. Temos uma definição operacional de vida, da Nasa:
    " Vida é um sistema químico autossustentável capaz de evolução darwiniana.
    Fonte:, The Origins od the Universe, Stephen Pincock e Mark Frary, 2007, p214).

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  2. De fato, definir vida é algo muito difícil. E temos que ter uma boa definição para sabermos o que e como procurar pelo Universo.
    Achei bastante interessante a relação entre as atividades de uma estrela e a definição de vida. Vale lembrar que uma estrela não sofre seleção natural darwiniana/wallaceana (não esqueçamos Wallace) - se a sua explosão gerará outra estrela me parece ser uma questão de sorte.
    Tanto metabolismo quanto reprodução são essenciais, mas acredito que a reprodução seja a mais primordial - afinal, no início existiam moléculas que se reproduziam... mas elas não podem ser consideradas vivas, ou podem?
    Acho que qualquer definição de vida será arbitrária, então teremos que passar uma linha em algum ponto que gere mais consenso.
    Parabéns pelo blog, que passei a acompanhar recentemente. Aliás, criei um blog recentemente que tem mesmo nome que o seu hehehe.

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  3. Fantástico encontrar este blog! Adoro os teus escritos e sempre que posso estou acompanhando.

    Gostaria de sugerir um pequeno texto referente a convergência entre Baruch Spinoza e a mecânica quântica. É muito interessante ver esta convergência no pensamento de um filósofo iluminista com a moderna física e suas implicações de uma possível unidade no micro (apesar de não aparente empiricamente no macro).

    Um grande abraço e te convido a conhecer meus escritos no blog:
    http://philosophia-aton.blogspot.com

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