domingo, 2 de agosto de 2009

A festa das estrelas



Medo da ciência explica ceticismo sobre ida do homem à Lua

No fim de semana passado, celebrei o Ano Internacional da Astronomia juntamente com outros 300 entusiastas dos céus. O evento, Star Party 6, organizado pela fundação CEU (Centro de Estudos do Universo), aconteceu no local da fundação, um museu de exploração da astronomia e da geologia, em Brotas, interior de São Paulo. Não conhecia o lugar e confesso que fiquei surpreso com a excelente qualidade das exibições, desenhadas para que os visitantes possam explorar e aprender por si mesmos. O telescópio e o planetário digital são dignos de nota. A caverna com fósseis de regiões diversas do Brasil também. Um paraíso para as escolas, que enviam em média 12 mil estudantes por ano até lá.

O frio e o mau tempo não inibiram o público. Providencialmente, a chuva parou bem na hora do lançamento de foguetes da base Marcos Pontes. Os protótipos, de aproximadamente 1,50 metro de altura, atingem altitudes de 600 metros a 1.000 metros, dependendo dos ventos, e voltam à Terra de paraquedas. A emoção era palpável.

Presenciando tal evento, não resta dúvida de que temos uma profunda relação com os céus, um desejo de comunhão com as estrelas. Também, pudera: como expliquei na minha palestra, os átomos dos quais somos compostos foram forjados no coração de estrelas que explodiram na vizinhança do que viria a ser o Sistema Solar, em torno de 5 bilhões de anos atrás. Olhar para os céus é olhar para as nossas origens.

Fora o lançamento de foguetes e exibições no planetário, a festa das estrelas teve várias palestras. Dentre elas, a de Ronaldo Garcia, um professor do CEU, e a do próprio Marcos Pontes, nosso astronauta. Garcia tratou de um tema muito propicio: se o homem foi ou não à Lua. É surpreendente o número de pessoas que acham que a viagem (ou melhor, as várias viagens) até a Lua foi uma grande farsa perpetrada pela Nasa. Dentre os "argumentos", encontramos esses: 1) Não é possível deixar pegadas na Lua, pois não existe umidade lá. 2) A bandeira americana não pode tremular ao "vento lunar". 3) As sombras de dois astronautas não estão na mesma direção, indicando duas fontes de luz em vez de apenas uma, o Sol.

Garcia respondeu a cada uma dessas objeções com clareza e bom humor. No caso das pegadas, a poeira muito fina da Lua e a ausência de atmosfera (e, portanto, de ventos ou umidade) pode, sim, deixar a marca das botas dos astronautas. A bandeira, por sua vez, só tremula quando os astronautas a balançam. Ela tem também uma haste horizontal que a sustenta, evitando que caia junto ao mastro. As sombras estão em direções diferentes porque os astronautas andam em solo desnivelado, algo simples de ser demonstrado. Não existe nenhuma intriga secreta.

O que acho interessante é o motivo das suspeitas. Por que tantas pessoas acreditam que a Nasa faria tal coisa? Com que propósito? As razões inventadas são muitas: impressionar os soviéticos e o resto do mundo; distrair o público para os problemas da Guerra do Vietnã etc. Mas a razão que me vem em mente é o perene medo da ciência.

Quanto mais a ciência avança, mais ela aparenta ameaçar as crenças daqueles que veem o mundo como sendo controlado por forças sobrenaturais. Levar homens à Lua deveria ser celebrado como um dos grandes feitos da história da humanidade, algo que demonstra nossa criatividade e inventividade de modo espetacular. Foi excelente também a palestra do Marcos Pontes, onde ele contou sua trajetória profissional, mostrando que aqueles que acreditam em si podem vencer obstáculos aparentemente impossíveis, indo de Bauru à Estação Espacial Internacional -ou da Terra à Lua.

2 comentários:

  1. Parece que o nome correto do inventor do telescópio é Hans Lippershey. Solicito verificar.

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  2. Este comentário,na realidade,se refere à coluna de 9 de agosto; solicito desconsiderar.

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