domingo, 4 de julho de 1999

O que é a vida?



Como podemos definir o que é vida? A primeira frase do livro de bioquímica e biologia molecular de William e Daphne Elliott diz: "Vida é um processo químico envolvendo milhares de reações diferentes de forma organizada, as chamadas reações metabólicas, ou, mais simplesmente, metabolismo". Ou seja, vida é metabolismo. Metabolismo é a transformação de energia e matéria em células, tecidos e órgãos de um ser vivo. Mas máquinas também transformam energia e matéria - por exemplo, energia química armazenada na gasolina em movimento de um carro. Mesmo que a definição bioquímica seja importante, ela tem limitações.

Na verdade, quanto maior nosso conhecimento sobre o mundo natural, mais difícil fica definir o que é vida. Isso parece paradoxal, pois é bastante óbvio, quando nos deparamos com uma pedra ou um mosquito, qual desses é o ser vivo. O problema é que não temos uma divisão clara entre o vivo e o não-vivo. Aparentemente, existe um continuum entre os dois mundos, com os vírus como ponte. Quando estão isolados, os vírus se comportam como outras moléculas orgânicas, sem mostrar sinal de vida. Mas, quando entram em uma célula viva, os vírus mostram as mesmas propriedades da maioria dos seres vivos. E quais são essas propriedades?

Talvez a propriedade mais fundamental dos seres vivos seja sua capacidade de reprodução: seres vivos geram outros seres vivos, enquanto seres inanimados permanecem inanimados. Pedras e máquinas não se reproduzem. Mas a coisa é mais complicada. Dadas determinadas condições, certos cristais também podem se reproduzir. O que falta em nossa definição da propriedade fundamental dos seres vivos é sua íntima relação com mutações genéticas: seres vivos transmitem informação genética à sua prole, mas as cópias não são sempre exatas.

Mutações podem ocorrer, modificando a informação originalmente passada de uma geração a outra. Cristais não sofrem mutações e, pelo menos até o momento, máquinas ainda não se reproduzem criando mutações arbitrárias em sua prole. Portanto, a propriedade fundamental dos seres vivos é a capacidade de sofrer mutações genéticas durante a reprodução.

O interessante aqui é que, na natureza, essas mutações são aleatórias, causadas por modificações ambientais (como um excesso de radiação vinda do Sol ou até de uma explosão de supernova na nossa vizinhança cósmica) ou por motivos ainda desconhecidos. Isto é, elas ocorrem espontaneamente, sem o controle ou ajuda do ser vivo que está se reproduzindo. Mais ainda, como a teoria darwiniana de evolução nos mostrou, a própria sobrevivência da espécie é determinada pela eficiência dessas mutações: se as mariposas pretas em uma floresta de árvores escuras tornarem-se subitamente brancas, elas serão presa fácil para seus predadores, como passarinhos (se você não gosta da idéia de passarinhos como predadores, imagine o que as minhocas acham).

A propriedade que nos ajuda a definir o que é vida é também a responsável pela sua perpetuação ou aniquilamento. Como essas mutações genéticas são aleatórias, os seres vivos não têm controle sobre a sua própria sobrevivência. Se eles não se reproduzirem, sua espécie desaparece; se eles se reproduzirem, podem tanto melhorar as condições de sobrevivência de sua espécie (as mariposas pretas podem voar a velocidades maiores do que suas avós) como piorá-las (elas podem virar mariposas brancas).

Mas há uma exceção à regra: nós, os humanos. Seres vivos inteligentes podem causar modificações ambientais que produzirão novas mutações -o lado negativo- ou redirecionar as mutações ruins e garantir assim sua sobrevivência -o lado bom. Sendo um otimista, eu acredito que o desenvolvimento da pesquisa em engenharia genética abrirá novas portas para a cura de várias mutações e doenças e também para uma maior compreensão do mistério da vida, sua origem e perpetuação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário