domingo, 12 de agosto de 2001

Os cinco eclipses mais importantes da história

O primeiro eclipse total do Sol do novo milênio ocorreu no dia 21 de junho passado. Apenas aqueles que se encontravam dentro de uma faixa varrende oeste a leste o cone sul da África tiveram o privilégio de assistir ao vivo um dos espetáculos mais emocionantes da natureza. Tal como no eclipse de agosto de 1999, eu acompanhei um grupo de ex-alunos do Dartmouth College, a universidade onde leciono nos EUA, misturando turismo com aulas de astronomia. No nosso navio, posicionado a oeste de Madagascar, estavam também grupos da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, cada um deles com o seu professor. A coluna de hoje foi inspirada por uma das palestras proferidas por Owen Gingerich, um famoso historiador da ciência e o responsável pelo grupo de Harvard.

O tema da palestra de Gingerich era "Os cinco eclipses mais importantes da história". Claro, a escolha dos "cinco mais" tem uma grande dose de arbitrariedade. De qualquer forma, os cinco eclipses selecionados tiveram mesmo um papel muito importante no desenvolvimento da astronomia. O primeiro ocorreu no dia 28 de maio de 585 a.C. Supostamente, esse eclipse teria sido "previsto" pelo grego Tales de Mileto, considerado por muitos, inclusive o grande Aristóteles, como o primeiro dos filósofos ocidentais. O ponto crucial aqui não é o eclipse, mas sua previsão. Antes de Tales, os fenômenos naturais eram atribuídos a ações divinas e não a fatores compreensíveis racionalmente. Os céus passaram a ser acessíveis à razão, inaugurando nova era do pensamento humano.

Saltando mais de 2.000 anos de história, o segundo eclipse da lista ocorreu no dia 18 de julho de 1860. Esse foi o primeiro eclipse a ser fotografado -e o casamento entre a astronomia e a fotografia é um dos mais felizes da história da ciência. As fotos facilitaram a descoberta de que os jatos de gás incandescente conhecidos como proeminências surgem da superfície solar e não externamente a ela, conforme se acreditava na época. No dia 18 de agosto de 1868, durante o terceiro eclipse da lista, um espectroscópio revelou, pela primeira vez, a composição química dos gases presentes nas proeminências. Em 1859, os alemães Bunsen e Kirchhoff haviam demonstrado que cada elemento químico tem o seu próprio espectro de emissão de luz, obtido quando uma amostra do elemento é aquecida a ponto de emitir radiação. O espectro das proeminências solares revelou claramente as linhas vermelhas, verdes e azuis do hidrogênio. Mas o espectro também revelou a presença de linhas amarelas que não correspondiam a qualquer elemento encontrado na Terra até então. Esse "novo" elemento foi chamado de hélio, em homenagem ao deus grego ligado ao movimento do Sol pelos céus.

O quarto eclipse da lista ocorreu no dia 7 de agosto de 1869. Dessa vez, fotografou-se o espectro da coroa, a região externa ao disco solar, cuja beleza translúcida é apenas visível durante eclipses totais ou quando o disco solar é artificialmente obscurecido. Vários elementos foram identificados, incluindo o hélio e um outro elemento misterioso, que ficou conhecido como "coroneum". Apenas no século 20 ficou claro que o elemento "coroneum" não era um novo elemento químico presente apenas na coroa solar, mas sim o elemento ferro altamente ionizado.

Um elemento ionizado tem um ou mais de seus elétrons retirados de seu átomo. No caso do "coroneum", metade dos elétrons dos átomos de ferro foi arrancada. Com isso, astrônomos concluíram que a coroa não só é extremamente tênue -os átomos de ferro não conseguem resgatar novos elétrons para voltar ao seu estado não-ionizado- mas que ela também goza de temperaturas altas o suficiente para promover as colisões responsáveis pela dramática ionização dos átomos de ferro. Ainda não se sabe ao certo por que razão a coroa apresenta temperaturas tão altas.

O último dos eclipses da lista ocorreu em 1919, varrendo uma faixa entre o Ceará e a Guiné, na costa oeste da África. Astrônomos confirmaram que a força da gravidade pode ser interpretada como a curvatura do espaço em torno de um corpo maciço, conforme previu Einstein. Ao passar junto ao Sol, a luz proveniente das estrelas é desviada de sua trajetória retilínea. A curvatura do espaço é revelada durante um eclipse, modificando profundamente nossa percepção do Universo onde vivemos.

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