domingo, 6 de janeiro de 2002

Vendo o cosmo com olhos de gigante

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Em 1609, o grande cientista italiano Galileu Galilei apontou pela primeira vez um telescópio para os céus. E o que ele observou transformou profundamente a visão de mundo prevalente em sua época, que dizia ser a Terra, e não o Sol, o centro do cosmo então conhecido.
Nos últimos 393 anos, telescópios cada vez mais potentes continuaram a transformar a nossa visão de mundo. Hoje sabemos que o Sol é apenas uma estrela entre centenas de bilhões de outras que fazem parte da Via Láctea, uma imensa galáxia espiral com aproximadamente 100 mil anos-luz de diâmetro.

Sabemos também que a Via Láctea é apenas uma galáxia entre centenas de bilhões de outras, cada uma delas com milhões ou bilhões de estrelas. E que essas galáxias estão se afastando umas das outras, carregadas pela expansão do Universo. Sabemos que essa expansão iniciou-se há cerca de 14 bilhões de anos, em um evento chamado Big Bang.

Os telescópios modernos não se limitam apenas a captar a luz visível das estrelas ou galáxias distantes. Eles também captam formas de radiação que são invisíveis aos nossos olhos, como a infravermelha, a ultravioleta, os raios X etc. Com isso, os astrônomos podem "ver" muitos fenômenos que são invisíveis a olho nu.

Para que a potência de um telescópio seja aumentada, ele tem de captar uma maior quantidade de luz (ou radiação). Isso é feito por meio de um espelho ligeiramente curvo (ou lente, mas os espelhos vêm predominando). Quanto maior o espelho, maior a potência do telescópio, isto é, mais luz ele poderá captar.

Assim, uma fonte muito distante, que jamais foi vista antes, poderá ser vista com telescópios maiores. O próprio Galileu testemunhou isso, ao averiguar que existem muito mais estrelas no céu do que as que percebemos a olho nu.

Hoje, o maior telescópio óptico (que capta luz visível) do mundo se encontra no Chile, fazendo parte dos instrumentos do ESO (Observatório Europeu do Sul). O gigante consiste em quatro espelhos, cada um com 8,2 metros de diâmetro. Outro enorme é o telescópio Keck, no Havaí, com dois espelhos de dez metros cada.

Esses telescópios múltiplos usam seus vários espelhos para amplificar a quantidade de luz captada e, consequentemente, a resolução de suas imagens. Se os planos atuais de vários grupos nos EUA e na Europa forem adiante, e o mais provável é que isso ocorra, dentro de dez anos os gigantes de hoje serão brinquedos de criança. E também alvos de uma acirrada competição entre a astronomia americana e a européia.

A agência espacial norte-americana, a Nasa, pretende lançar em 2010 o sucessor do Telescópio Espacial Hubble, que vem fornecendo imagens espetaculares de estrelas nascendo, de um cometa colidindo com Júpiter, de galáxias tão distantes que a sua luz viajou por 10 bilhões de anos antes de chegar até nós, entre outras. Como a velocidade da luz é finita, ver fontes mais distantes significa ver o Universo em seu passado, numa verdadeira máquina do tempo cósmica.
Com o sucessor do Hubble e seu espelho de oito metros orbitando a Terra, os astrônomos serão capazes de estudar o Universo na época em que as galáxias estavam nascendo.

Aqui na Terra, astrônomos nos EUA propuseram um telescópio de 30 metros, enquanto os europeus contra-atacaram com dois projetos, um de 50 metros (chamado Euro50) e o enorme OWL (do inglês "Overwhelmingly Large Telescope", ou Telescópio Absurdamente Grande), da ESA (a agência espacial européia), com cem metros.

Esses telescópios são tão grandes que seus espelhos têm de ser segmentados em espelhos menores, cada um deles controlado individualmente por computador. O OWL, por exemplo, terá de ser segmentado em 1.600 pedaços, o que representa um grande desafio técnico para os cientistas da ESA.

Um dos objetivos mais interessantes dos telescópios gigantes é a busca por vida extraterrestre em planetas orbitando estrelas distantes. Ao passar em frente à estrela, o planeta e sua atmosfera bloqueiam parte de sua luz.

Mas ver um planeta passando em frente a uma estrela a 50 anos-luz de distância é equivalente a ver uma mosca passar em frente a um farol de carro a uma distância de um quilômetro.
Comparando a luz da estrela com e sem o planeta é possível deduzir a composição química da atmosfera do último. A presença de certas substâncias, como metano, vapor d'água e ozônio, é indicativo de uma possível atividade biológica no planeta. Para saber onde pode existir vida extraterrestre, basta olhar com olhos de gigante.

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