domingo, 7 de janeiro de 2007

Um ano de possibilidades

Por frações de segundo, o LHC reconstruirá a infância do Universo

Das partículas elementares da matéria e da carne transgênica às galáxias mais distantes, este promete ser um ano de surpresas em várias áreas da ciência.Em meados de 2007, entra em funcionamento na Suíça o instrumento mais poderoso já construído, o acelerador de partículas conhecido como LHC, do inglês "Large Hadron Collider" (Grande Colisor de Hádrons). Com uma circunferência de 27 quilômetros, o LHC tem como missão principal desvendar um dos maiores mistérios da ciência, a origem da massa.

Durante o século 20, ficou claro que a matéria é composta de átomos e estes, por sua vez, de três partículas: elétrons, prótons e nêutrons. Das três, apenas os elétrons são partículas "fundamentais"; prótons e nêutrons são compostos de partículas menores, os quarks. Um dos objetivos da física de partículas é descobrir os tijolos fundamentais da matéria, o grupo de partículas que formam as outras. Para ser fundamental, a partícula tem de ser indivisível. Até o momento, físicos determinaram que existem 12 partículas fundamentais da matéria, seis quarks e seis léptons, dos quais o elétron é o mais conhecido.

Em colisões a altíssimas energias, pode-se determinar existência, massa e carga elétrica dessas partículas. Em 1995, cientistas do mundo inteiro (inclusive do Brasil) trabalhando no Fermilab, um acelerador de partículas americano, determinaram a massa do quark mais pesado, o top, como sendo 171 vezes maior do que a de um próton. Já o elétron tem massa 2.000 vezes menor do que a de um próton. O que não é entendido é a razão para tal disparidade entre as massas. O LHC promete desvendar o mistério. Ao menos assim esperam os físicos. Colisões no coração do acelerador terão energias aproximadamente 20 mil vezes maiores do que as das reações nucleares no interior do Sol.

Apenas no Universo primordial, menos de um trilionésimo de segundo após o "bang" que marcou o início da expansão cósmica, tais energias existiram. Por frações de segundo, o LHC reconstruirá a infância do Universo. Por falar em infância do Universo, em outubro de 2006 finalmente ficou decidido que o telescópio espacial Hubble será mesmo consertado. Após acirrado debate e ultraje popular, em 2008 uma missão do ônibus espacial deverá voar até o Hubble para instalar dois novos instrumentos e trocar suas baterias e giroscópios.

A outra opção, enviar robôs para fazer o reparo, foi descartada. O "Cosmic Origins Spectrograph" (Espectrógrafo das Origens Cósmicas), um dos novos instrumentos, explorará o nascimento de galáxias, estrelas e planetas, fornecendo, entre outras coisas, informação sobre como o ferro, o carbono e outros elementos fundamentais para a vida apareceram durante a infância do Universo e foram subsequentemente distribuídos pelo espaço interestelar. Essa missão deve manter o Hubble funcionando até 2013. Na semana passada, a FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA) aprovou a carne de gado clonada para consumo humano. A reação popular não foi positiva: as pessoas vêem qualquer tipo de interferência humana na genética animal com maus olhos.

Porém, carne de animais clonados é muito diferente de vegetais transgênicos, cujo impacto no ecossistema deve ser monitorado cuidadosamente. O clone é um gêmeo que nasceu mais tarde, idêntico ao original; sua carne é inofensiva. Em ciência, assim como nas artes, aquilo que é novo encanta e espanta. Ao celebrarmos o início de mais um ano, devemos também celebrar a criatividade dos cientistas que, por meio de seu trabalho, ampliam a nossa visão do cosmo e da vida.

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