domingo, 22 de abril de 2007

A guerra dos mundos

Marte é um planeta provavelmente desprovido de vida.

Que não seja esse o nosso futuro Em 1877, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, aproveitando-se de uma maior proximidade do planeta Marte, fez observações detalhadas de sua superfície. Dentro dos limites de seu telescópio, Schiaparelli discerniu o que pareciam ser linhas cruzando o planeta, como se fossem estradas gigantescas.

Chamou-as de "canali", aparentemente sem a intenção de dar-lhes a conotação de canais escavados propositadamente. Mesmo assim, foi esse o sentido que ficou popular. Dezenas de astrônomos voltaram seus telescópios para Marte, na tentativa de desvendar os segredos dos misteriosos canais.

Entre eles estava o milionário americano Percival Lowell, que largou seus negócios em Boston para construir um observatório de porte numa montanha do Arizona.Em 1895, Lowell publicou um livro com suas observações. Os canais, segundo ele, estavam mesmo lá, obras de porte gigantesco, estendendo-se por milhares de quilômetros sobre a superfície marciana.

Se fossem menores não poderiam ser vistos com os telescópios da época. Lowell chegou a comparar a situação com a Terra, se observada de Marte. Nenhum traço da presença humana seria detectado. Talvez as enormes plantações de milho e trigo no oeste americano, que os marcianos veriam mudar de cor nas diferentes estações, especulou.

Segundo ele, só havia uma explicação: os marcianos, que habitavam as regiões equatoriais do planeta, estavam morrendo de sede. Os canais, obras que seriam impossíveis com a tecnologia mais avançada da época, dirigiam água das calotas polares até plantações nos trópicos. O maior canal da Terra, o canal de Suez, aberto em 1869, tinha "apenas" 163 km. Os marcianos existiam, e eram muito mais avançados do que nós.

O livro de Lowell causou sensação. Dentre os entusiasmados com a possibilidade de vida em Marte estava o escritor inglês H. G. Wells. Em 1895, Wells havia publicado seu primeiro sucesso de ficção científica, "A Máquina do Tempo". Inspirado por Lowell e pela ciência da época, em 1898 Wells publica "A Guerra dos Mundos".

O livro conta a história de uma invasão marciana. Não havia qualquer intenção de comunicação por parte deles. Eles vieram para dominar a Terra e para beber o sangue dos terrestres. Usando idéias da teoria da evolução, Wells propôs que os marcianos fossem essencialmente o nosso futuro: seres muito mais inteligentes, seus corpos sendo invólucros para seus enormes cérebros.

Os únicos membros eram tentáculos que faziam o papel dos dedos das nossas mãos. Eles haviam evoluído a tal ponto que não comiam (apenas injetavam sangue diretamente em suas veias), não dormiam e sua reprodução era assexuada. Segundo Wells, eles haviam se libertado da prisão sensorial em que vivemos, vítimas que somos de nossos desejos e das nossas sensações.

O livro faz o que é comum em ficção científica: extrapolar a ciência da época para explorar também conseqüências éticas e morais. Tanto assim que, as duas adaptações para cinema, a de 1953, dirigida por Byron Haskin e a de 2005, dirigida por Steven Spielberg, adaptam a temática do livro para a sua realidade social. A de 1953 ecoa a era atômica e a Guerra Fria. Não existe qualquer motivo senão a aniquilação dos humanos.

Na de 2005, o foco é a desintegração da família e o medo da ameaça terrorista. Os ETs não são mais de Marte, pois sabemos que de lá não poderiam vir. Os canais de Lowell eram miragens. Marte é um planeta que, ao menos hoje, é provavelmente desprovido de vida. Esperemos que não seja esse o nosso futuro. A data de hoje é propícia para refletirmos sobre isso.

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