domingo, 1 de agosto de 1999

Trinta anos do homem na Lua



Eu me lembro como se tudo tivesse acontecido ontem à tarde... Com os olhos grudados na TV, eu e meus primos Daniel e Marcos quase não podíamos acreditar -o homem havia mesmo pousado na Lua. O astronauta Neil Armstrong dando seus passos-pulos e fazendo a declaração inesquecível: "É um pequeno passo para homem, um gigantesco salto para a humanidade".

Nem todos na casa dividiam nossa euforia. A cozinheira dizia que não acreditava, que isso tudo era um truque de "Oliud". Mas nós tínhamos certeza de que os grandes cineastas de "oliud" não seriam tão maldosos; a coisa aconteceu mesmo, despertando os mais variados sonhos nas mentes de milhões de crianças. "Bom, se isso aconteceu agora, imagine só o que irá acontecer lá pelo ano 2000, quando nós tivermos 40 anos", comentei com meus primos.

Passados 30 anos, Marcos virou professor de filosofia no Rio, Daniel virou economista -hoje no setor internacional do Banco Central, como vários leitores devem reconhecer- e eu virei físico. Nossos sonhos e fantasias, típicos de qualquer garoto de classe média, continuam sendo os de milhões de outros garotos e garotas (essa, uma novidade mais recente!) pelo mundo.

O que não sabíamos, quando tínhamos 10 anos, é que as missões Apollo foram produto de uma paranóia americana decorrente da Guerra Fria e do lançamento da pequenina Sputnik pelos russos, em 1957. Os EUA não poderiam perder sua hegemonia tecnológica e o controle do espaço para os comunistas. Entre 1969 e 1972, seis missões tripuladas pousaram na Lua, restaurando a glória da corrida espacial aos americanos. Mas tanto os altos custos monetários quanto os riscos forçaram a Nasa a mudar a estratégia, optando por missões menores e mais baratas, sem seres humanos. Os heróis dos garotos dos anos 80 e 90 foram as câmeras fotográficas e outros aparelhos que trouxeram outros mundos às nossas salas de jantar.

Mas as missões Apollo não foram apenas para propaganda. Fora o feito tecnológico de enviar seres humanos a um mundo distante e trazê-los de volta, as missões colheram amostras que têm sido usadas em estudos que visam compreender a origem do Sistema Solar, de nosso planeta e, claro, da própria Lua.

Até os anos 80, existiam três teorias sobre a origem da Lua: a teoria "irmã", a "filha" e a "captura". Na teoria "irmã", a Lua e a Terra evoluíram de forma semelhante, a partir de matéria que existia durante a formação do Sistema Solar, uma orbitando a outra como irmãs. Na teoria "filha", a Lua foi separada da Terra devido à sua alta velocidade de rotação, deixando uma bacia que hoje é o oceano Pacífico. Na teoria da "captura", a Lua era um asteróide que foi fisgado pelo campo gravitacional da Terra.

As rochas lunares trazidas pelos astronautas contrariam as três teorias. Sua química mostra que a Lua não pode ter sido um asteróide capturado pela Terra, pois sua composição difere da dos asteróides comuns e tem propriedades encontradas em rochas terrestres. Por outro lado, a Lua tem pouco ferro, água, sódio, potássio e outros elementos comuns na Terra, o que contraria a teoria de que é nossa "irmã". A idéia de que a Terra pôde, no passado, girar com velocidade alta o suficiente para fissionar um objeto como a Lua também não foi comprovada.

A teoria aceita atualmente é que a Lua foi resultado de uma colisão entre a Terra e um asteróide do tamanho de Marte. A colisão pulverizou o asteróide e parte da superfície terrestre, criando um anel de detritos orbitando a Terra que aos poucos foi aderindo matéria até formar a Lua. O calor da colisão explica por que a Lua não tem muita água. A mistura de elementos explica as semelhanças e diferenças entre a Lua e a Terra. Os astronautas nos trouxeram uma belíssima ilustração de como, no Universo, destruição e criação andam sempre juntas.

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