domingo, 16 de março de 2008

As primeiras galáxias


Observar objetos tão distantes é uma façanha incrível

O nome pode não ser muito inspirador: A1689-zD1. Mas o que representa, sim. Não, não é o nome de um robô capaz de atos mirabolantes. A1689-zD1 é o nome de uma galáxia muito especial. Segundo observações recentes, ela é a galáxia mais distante jamais observada. Para ser preciso, sua luz, extremamente fraca, viajou durante 13 bilhões de anos para chegar até nossos telescópios. Ou seja, a A1689-zD1 está a aproximadamente 13 bilhões de anos-luz de distância, uma relíquia da infância cósmica, das nossas origens.

Em 1929, o astrônomo norte-americano Edwin Hubble revelou ao mundo uma descoberta revolucionária: ao contrário do que se pensava desde a Grécia Antiga, o cosmo não era estático, a encarnação do eterno Ser. Segundo suas observações, o Universo era uma entidade dinâmica, sempre em transformação. Em particular, seus dados indicavam que esse dinamismo cósmico se manifestava na forma de uma expansão muito peculiar. Todos os pontos do espaço afastam-se uns dos outros. Não só isso: a velocidade desse afastamento, ou recessão, cresce linearmente com a distância: quanto mais longe um objeto está de outro, mais rápido ele se afasta.

"Ôpa! Essa não!" -exclama o leitor, indignado. "Se todos os pontos estão se afastando, como é que eu não estou em expansão (fora, claro, a expansão semanal da barriga após as cervejinhas de sábado)? Ou a distância entre a Terra e a Lua não aumenta, ou mesmo entre a Terra e o Sol?" Boa pergunta. Essa expansão cósmica não ocorre nas escalas mundanas do nosso dia-a-dia; apenas em escalas de distância intergalácticas, da ordem de milhões de anos-luz. Como referência, nossa galáxia vizinha, Andrômeda, está a dois milhões de anos-luz daqui.

A razão é que nossos corpos, sistemas solares e mesmo galáxias inteiras estão sujeitos a forças atrativas mais fortes do que a expansão espacial.

Mas, nos últimos 80 anos, ficou claro que a expansão cósmica é uma realidade. Hoje, sabemos que ela começou no famoso Big Bang, o evento que deu origem ao nosso Universo em torno de 13,7 bilhões de anos atrás. A Terra tem "apenas" 4,6 bilhões de anos -em torno de um terço da idade cósmica.

Esses dados põem a formação da A1689-zD1 a menos de 700 milhões de anos após o bang. Ela e suas primas nasceram juntamente com as primeiras estrelas. Observar objetos tão distantes é uma façanha incrível.

Quanto mais longe a fonte de luz, mais fraca é. Por isso não conseguimos ver Urano e Netuno a olho nu. Telescópios compensam isso, coletando luz e amplificando-a. Ainda assim, objetos muito distantes como a A1689-zD1 são imperceptíveis mesmo para nossos telescópios mais avançados. Não só sua distância enfraquece sua luz, como a expansão cósmica também não ajuda.

Se imaginarmos a luz como uma onda, o efeito da expansão é esticá-la como o fole de um acordeão. Quanto mais distante e, portanto, mais rápida a expansão, mais esticada fica a onda de luz e mais fraco o seu sinal. Muitas vezes, objetos distantes não são vistos com telescópios comuns, que detectam a luz visível. São necessários telescópios especiais que detectam as ondas de infravermelho ou de rádio, ambas mais fracas do que a luz.

No caso da A1689-zD1, um efeito extra ajuda: a luz de um objeto distante que passa perto de uma grande concentração de massa pode ser amplificada. É a chamada lente gravitacional.
Uma amplificação de dez vezes foi o que permitiu a descoberta dessa galáxia, retrato da infância cósmica.

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