domingo, 12 de outubro de 2008

Monstro no centro da galáxia



Como sabemos que há um buraco negro no meio da Via Láctea?

Quando visito escolas de ensino fundamental, gosto sempre de contar para as crianças que temos um monstro na nossa galáxia, um buraco negro gigantesco, com uma massa estimada de 4 milhões de sóis. Sabendo já que buracos negros são objetos estranhos, uma espécie de bueiro cósmico que suga tudo ao seu alcance, as crianças ficam espantadas.

Invariavelmente, uma mão se alça: "Mas professor, se tem um buraco negro gigante como esse na galáxia, será que vai engolir todo o mundo?" Explico que, felizmente, estamos muito distantes do centro da Via Láctea e que não podemos sentir os efeitos do buraco negro. Bem de longe, como em nosso caso, buracos negros se comportam como objetos normais, feito estrelas, cuja atração gravitacional cai com o quadrado da distância. "Não existe esse perigo; é como se preocupar com um redemoinho no Caribe quando você está nadando no Guarujá". Dá até para ouvir os suspiros de alívio na audiência.

Raramente, uma criança vai mais além e faz a pergunta que realmente importa: "Mas como os astrônomos sabem que existe um buraco negro lá? Não é impossível ver um? A luz não é sugada para dentro também?" Pois é, todo mundo sabe que buracos negros têm esse nome porque nem mesmo a luz pode escapar de sua atração. Se um buraco negro existisse sozinho no espaço, sem nada à sua volta, ficaria mesmo difícil visualizá-lo. Mas quando gases e estrelas estão suficientemente perto de um buraco negro, podemos detectar a sua presença.

Tal qual a água em um ralo de banheira, a matéria sugada pelo buraco negro circula à sua volta. Toda ela, que é composta de átomos com cargas elétricas como a dos elétrons, quando acelerada, emite radiação eletromagnética; quanto maior a aceleração, mais energética é a radiação emitida. Portanto, o que vemos na região vizinha ao buraco negro é a radiação emitida pela matéria que gira à sua volta. Esse movimento é como uma carteira de identidade do buraco negro, dando informação sobre o seu tamanho e a sua massa. Um outro efeito usado na detecção de buracos negros é a distorção que eles causam no espaço à sua volta. Como explica a teoria da relatividade geral de Einstein, a gravidade pode ser vista como uma curvatura no espaço em torno de um objeto.

Quanto maior e mais concentrada a massa do objeto, mais curvo o espaço à sua volta. Se a luz de uma estrela distante passa perto de um buraco negro, sua trajetória será encurvada. A gravidade funciona como uma lente, dando a esse efeito o nome de lente gravitacional. Na nossa galáxia, astrônomos realizaram um feito e tanto; usando três radiotelescópios, no Arizona, na Califórnia e no Havaí, conseguiram visualizar os contornos do monstruoso buraco negro.

Os telescópios funcionam como um único instrumento, fornecendo uma resolução nunca antes obtida. O buraco negro fica na região conhecida como Sagitário A, rica em radiação. A resolução conseguida foi de 50 milhões de quilômetros, um terço da distância entre a Terra e o Sol. Calcula-se que o buraco negro tenha um diâmetro aproximado entre 12 milhões e 24 milhões de quilômetros. Mas a distorção da luz causada pela gravidade dobra o tamanho aparente dele, que acaba ficando próximo da estimativa obtida pelo grupo americano.

Os dados indicam uma entre duas coisas: a menos que a teoria de Einstein sofra sérias alterações, a única explicação para as observações é mesmo um buraco negro; o pico das observações não está centrado no buraco negro, o que indica uma assimetria na emissão de radiação. Mais detalhes terão que esperar triangulações ainda maiores entre radiotelescópios.

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