domingo, 5 de outubro de 2008

Neve em Marte



O planeta vermelho está menos marciano e mais terrestre


Na segunda feira passada, o time da Universidade do Arizona que controla a missão da espaçonave-robô Phoenix no solo marciano anunciou algo de sensacional: usando um canhão de raio laser como uma espécie de radar, a estação meteorológica a bordo da Phoenix detectou neve caindo de nuvens à altitudes em torno de quatro quilômetros.

Neve em Marte!

Mesmo que a neve vaporize antes de tocar o solo, a evidência torna Marte menos marciano e mais terrestre.

Cientistas esperam que com a chegada do inverno nos próximos meses, a neve possa acumular no solo. Missões anteriores haviam detectado sinais da existência de água no passado marciano, cicatrizes geológicas como cânions e leitos ressecados de rios.

Tendo pousado em maio numa região próxima ao pólo norte, a Phoenix logo detectou gelo no solo. Mas a recente descoberta muda o quadro radicalmente, demonstrando que o clima marciano ainda comporta o ciclo da água de condensação e precipitação.

Esse dinamismo tão familiar para nós, aumenta ainda mais as semelhantes entre a Terra e o planeta vermelho.

A Phoenix veio equipada com um mini laboratório projetado para fornecer informações sobre a composição do solo marciano. São microscópios de alta resolução, fornos e mini-kits químicos. Usando esses instrumentos, cientistas anunciaram recentemente a presença de carbonato de cálcio, comum na pedra calcária e no giz. Carbonatos são formados sobretudo em reações no meio aquoso, confirmando a presença de água líquida no solo. Fortalecendo ainda mais a evidência, o microscópio de força atômica encontrou sinais da presença de argila, também produto de reações em meio aquoso. A água líquida não existiu apenas no passado marciano. Com a chegada do inverno e o Sol cada vez mais baixo no horizonte, os painéis solares da Phoenix coletam cada vez menos energia solar para carregar suas baterias. Com a temperatura atual em torno de -50C, cientistas esperam que o robô congele em meados de novembro, quando suas baterias drenarem. Antes disso, pretendem ainda buscar evidência de compostos orgânicos no solo, componentes essenciais da vida. No solo onde se encontra a Phoenix, o pH -uma medida da acidez de uma solução que indica os tipos de reações químicas mais prováveis- foi estimado em 8,3, semelhante ao dos oceanos terrestres.

Os achados recentes aumentam ainda mais a possibilidade de que a vida tenha existido em Marte. Os otimistas acham que talvez ainda exista sob o solo. A presença de água, de carbonatos e de argila é consistente com a possibilidade de que a Phoenix tenha pousado numa "micro-zona habitável", um local onde a vida é, ao menos em princípio, possível. De qualquer forma, o acúmulo dos resultados dá suporte à teoria de que Marte era mesmo um planeta bem diferente no passado, possivelmente muito mais semelhante à Terra de hoje, com água líquida em abundância, temperaturas mais amenas, uma atmosfera mais densa e talvez até com oxigênio.

Caso isso seja verdade, teremos que responder a algumas perguntas óbvias. O que causou a mudança radical no clima marciano? Será que existem fósseis nas rochas marcianas? O sucesso da missão Phoenix, mesmo nesses dias de caos financeiro, aumenta as chances de voltarmos em breve ao solo marciano. No meio tempo, antes de as baterias drenarem, cientistas tentarão ligar um microfone a bordo do robô. Se o plano funcionar, ouviremos pela primeira vez os sons do misterioso planeta vermelho. Quem afirma que não existe mágica em ciência precisa prestar mais atenção.

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