sábado, 18 de dezembro de 2010

Inevitabilidade humana


Será que nós somos uma consequência inevitável das leis da natureza? Ou não passamos de acidente?


SEMPRE ACHEI que final de ano é época de reflexão, e não só de presente e festa. Portanto, vamos lá.

Olhe para as suas mãos.

Nela, você encontra átomos que pertenceram a estrelas desaparecidas há mais de 5 bilhões de anos. Essas estrelas, no final de sua existência, forjaram os elementos químicos que compõem o seu corpo, as montanhas, os rios e os oceanos.

Quando explodiram, elas espalharam suas entranhas pelo espaço sideral, os ingredientes da vida, em ondas de choque que se propagavam a milhares de quilômetros por segundo. Em um canto da galáxia, essas ondas se chocaram com uma enorme nuvem de hidrogênio, provocando instabilidades que levaram ao seu colapso. E dele nasceu o Sistema Solar, com sua corte de planetas e luas e, em um deles, seres capazes de questionar suas origens.

Somos, concretamente, restos de estrelas animados de consciência.

O incrível disso é que tudo começou com praticamente apenas hidrogênio e gravidade. Ao comprimir essas nuvens de hidrogênio em estrelas, a gravidade se tornou o grande alquimista cósmico, criando os elementos químicos a partir do mais simples. Na visão moderna do Universo, somos o que acontece quando damos alguns bilhões de anos de tempo ao hidrogênio e à gravidade.

Temos muitas lacunas a preencher nessa grande narrativa cósmica, e é isso que faz os cientistas acordarem todos os dias com pressa de chegar ao trabalho. Dentre as várias questões, uma das mais controversas é sobre nossa inevitabilidade. Será que somos consequência inevitável das leis da natureza? Ou um mero acidente, e o Universo poderia igualmente existir sem nós?

A posição mais conservadora diria que tudo o que podemos fazer é medir. Não existe qualquer plano ou objetivo, apenas o que ocorre. A história que reconstruímos à partir dessas medidas começa com (pelo menos) quarks, elétrons e radiação e, bilhões de anos depois, inclui vida e seres humanos. Não há dúvida de que a matéria ficou mais complexa com o passar das eras. Por quê?

Antes de tentar dizer algo, vale a pena contemplar o que já conseguimos até aqui. A ciência comprova nossa profunda relação com o Cosmos. Não apenas porque vivemos nele, mas porque somos feitos dele: nós e todos os agregados de matéria, vivos e não-vivos. Estamos no Cosmos e o Cosmos está em nós.

Quem duvida que a ciência é uma busca espiritual deveria refletir sobre o que escrevi acima. A pesquisa do cientista, os dados e sua análise quantitativa, são atividades que dão concretude à busca. Alguns ficam só nisso e estão bem assim. Mas uma visão menos focada revela o óbvio: a ciência responde a anseios espirituais que estão conosco desde tempos ancestrais.

Retornando à nossa questão, alguns acreditam que deve existir um princípio que justifique a tendência à complexidade. Mas não temos evidência disso. O Cosmos poderia ter se desenvolvido sem nós. Mas o fato é que estamos aqui! Se abrirmos mão desse princípio, temos que aceitar que somos um acidente.

Talvez seja essa a origem da nossa importância. Se podemos refletir sobre a vida, temos algo de especial. Isso deveria nos levar a uma reavaliação do nosso papel: guardiões da vida e do planeta. Talvez seja essa a nossa missão inevitável.

6 comentários:

  1. Já existem evidências de símbolos, violência gratuita, identificação da auto-imagem e outras coisas que eram consideradas exclusivamente humanas em vários animais.
    Apenas não devemos achar que é com a referência da tecnologia que se mede inteligência.

    O próprio Gleiser diz não haver evidências que sustentem alguma espécie de "missão" ou "motivo" para a vida complexa.

    Apesar de achar que as vezes ele dá muita margem a crendices, concordo que viver e poder contemplar por si só já é algo de cunho espiritual, mas nada sobrenatural.

    ResponderExcluir
  2. 'Será que nós somos uma consequência inevitável das leis da natureza? Ou não passamos de acidente?'

    Uma bela pergunta, dizer que somos um acidente da natureza, é plausível, já que o nosso universo é um pouco estranho, para explicar melhor, no universo conhecido nada segue uma ordem, tudo parece uma bagunça, dizem que a formação da lua foi uma colisão, por isso um acidente, ainda bem que por enquanto quase tudo é teoria.

    E concordo que a ciência, por meio de alguns ilustres dá margem as crendices, não que isso seja ruim, apenas nos ajuda a viver melhor, se tem um sentimento que eu adoro no homem, é o de inventar falácias.

    ResponderExcluir
  3. O homem vai criando raizes e parece que o mestre Gleiser está tendo uma crise de fé. Obviamente é apenas fé no primata pedante. Mas tudo bem... viver no presente é uma luta que nem sempre pode ser vencida e se for pra ter fé, essa seria a melhor pedida.

    ResponderExcluir
  4. Dentro do sistema que podemos dizer que construímos para observarmos o cosmo somos consequência inevitável pois vemos tão somente a nós mesmos. Fora dele somos apenas possíveis.

    ResponderExcluir
  5. Copie os "textos" mas refira o autor!!

    http://www.youtube.com/watch?v=iE9dEAx5Sgw

    P.s. Bom Blog

    Ass:M.

    ResponderExcluir
  6. REFLEXÃO

    "Será que nós somos uma conseqüência inevitável das leis da natureza? Ou não passamos de acidentes?"
    Sempre achei que final de ano é época de reflexão, e não só de presentes e festa. Portanto, vamos lá". "Antes de tentar dizer algo, vale apenas contemplar o que já conseguimos até aqui. A ciência comprova nossa profunda relação com o Cosmos".
    Professor Marcelo! Concordo que a nossa profunda relação com o Cosmos no sentido físico, está absolutamente correta. Pois se o reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda, nosso cérebro construído para funcionar em um circuito conectado por neuronios ligando gânglios, com certeza, é a máquina mais perfeita da natureza. Mas, nós não compreendemos o como o Cosmos funciona em nosso cérebro como o Senhor mesmo argumentou em A Dança do Universo, pg.360 e 361.
    Permita-me expor o que um cientista místico pensa sobre este assunto.
    "As pesquisas científicas em neurologia, hoje em dia, permitem uma compreensão melhor do funcionamento do cérebro e do modo como a alma e a consciência do ser utiliza o corpo físico, especialmente o cérebro, para cumprir o objetivo cósmico de nossas encarnações. Assim, foi demonstrado por diversas experiências que os hemisférios cerebrais são, não apenas a sede de nossas percepções sensoriais e de nossos atos voluntários, mas também incluem zonas onde são geradas nossas emoções, desejos e necessidades. Muitas dessas zonas já foram nomeadas pelos sábios. É importante observar que o hemisfério cerebral esquerdo abriga as emoções que podem qualificar de "positivas", como por exemplo a compaixão, a alegria, o amor, a serenidade, a aspiração mística etc. O hemisfério cerebral direito, por outro lado, tem zonas que correspondem às emoções contrárias, ditas "negativas", como o instinto de destruição, a raiva, a cólera, o ciume, etc." Extraído de um manifesto Rosacruz permitido à divulgação pública.
    Optei por este comentário para enfatizar que não somos acidentes e que as leis da natureza quando compreendidas são nossas auxiliares na evolução do nosso juízo na busca de saber o que somos, nós e o universo.
    Um grande passo já foi dado em três grandes volumes: A Dança do Universo, O Fim do Céu e da Terra e Criação Imperfeita, somando um grande número de palavras com uma belíssima erudição voltada para o mundo físico natural, deixando de lado o mundo sobrenatural, parâmetro fundamental na nossa existência. E assim, perdemos o rumo até que: "Na minha opinião, que também é defendida por outros colegas, como por exemplo, Paul Davies, é a questão da origem das leis da fícica que lida de fato com "A Pergunta". Infelizmente, a resposta está alem do alcance das teorias físicas, pelo menos do modo como elas são formuladas no momento. Será que devemos então desistir de investigar essas questões através da física? Certamente não! Mas talvez, ao refletirmos sobre essas questões, e sobre nossas limitações ao lidarmos com elas, um pouco de humildade, tantas vezes esquecidas no "calor" do debate científico, venha a ser restaurada".

    ResponderExcluir