domingo, 9 de janeiro de 2011

Conquistando o instinto assassino


Usar a psicologia humana para poder especular sobre o comportamento ET pode ser uma atitude míope e perigosa


SERÁ QUE CRIATURAS inteligentes podem escapar do instinto assassino? Quando se fala de invasões de extraterrestres, em geral, o foco é apocalíptico: "eles" vêm para nos destruir e roubar os bens do nosso planeta sem qualquer remorso.

Essa visão dos ETs não passa de um espelho de nós mesmos. Basta olhar para o dano que os colonizadores causaram na África, nas Américas e no Pacífico. Segundo os especialistas do projeto Seti, que há 50 anos busca por sinais transmitidos por supostas civilizações extraterrestres, temos grandes chances de detectar algo nas próximas décadas. Em 20 anos, teremos "visitado" dez milhões de estrelas, uma amostra razoável.

O problema, porém, não é a identificação de uma transmissão inteligente, mas a sua interpretação. Os ETs provavelmente não serão tão bonzinhos quanto os do romance "Contato", de Carl Sagan, que montaram uma mensagem que podemos compreender. Usar a psicologia humana para especular sobre o comportamento de inteligências extraterrestres pode ser não só uma atitude míope, mas perigosa.

Claro, temos de começar de algum lugar. O que é suposto (como em filmes e livros de ficção científica que partem de "A Guerra dos Mundos") é que as leis da evolução e a sobrevivência do mais forte dita o comportamento de todos os seres inteligentes do Universo.

Em outras palavras, mesmo criaturas inteligentes não podem escapar dos seus instintos animais: onde há vida, o instinto assassino reina.

Gostaria de apresentar uma visão menos pessimista. A prova de uma inteligência altamente sofisticada é justamente seu controle sobre o instinto assassino. Em humanos e outros primatas, o instinto assassino é tribal: encontramos proteção na tribo e a protegemos com unhas e dentes. Criamos divisões como Estado, nação e clã, e nos alojamos dentro delas.

ETs capazes de sobreviver a si próprios por um tempo suficientemente longo para criarem tecnologias de comunicação e de viagens interestelares devem ter evoluído além do comportamento primitivo.

O oposto é bem deprimente: quanto mais evoluída a espécie, mais efetivas as suas formas de matar, enquanto que sua moralidade permanece ancorada no animalesco. Se for esse o caso, estamos perdidos, como eles. Prefiro acreditar que não seja assim.

O fato de estarmos ponderando essas questões mostra que estamos progredindo. Sobrevivemos a 60 anos de bombas nucleares (claro, a ameaça ainda é concreta, mas hoje temos consciência de que uma guerra nuclear não tem vencedores). Existe, também, uma maior conscientização da fragilidade do nosso planeta. Sabemos que o mundo precisa mudar e que talvez a mudança tenha de ser global.

Pode ser que estejam os vivenciando o começo de nossa própria transformação numa espécie mais evoluída, menos tribal. É óbvio que o mundo permanece polarizado, dividido pela intolerância religiosa e também pela ganância. É hora de virarmos essa página e avançarmos coletivamente a um novo nível de sofisticação social. Ao menos por ora, a mensagem que vem dos céus nos diz muito mais sobre quem somos do que sobre quem, afinal, são "eles"".

5 comentários:

  1. Esse foi o comentário que eu falei a respeito de "Avatar". É muito mais lógico imaginar que a nossa civilização irá explorar e pilhar civilizações vizinhas (caso haja possibilidade) do que elas a nós.

    Somado a isso, não consigo compreender como nós sempre populamos planetas com vida inteligente em uma única cultura ou pais. Creio que, caso hajam seres em outros planetas, eles também tenham as suas diferenças e criem suas multiplas culturas.

    Agora, isso eu não questionei nunca: Se, hoje, nós, humanos, estamos contemplando que a guerra e a violência não são práticas aceitáveis e que a liberdade de expressão e ideias são fundamentais para qualquer indivíduo, certamente culturas que alçaram as estrelas não o fizeram apenas para roubar comida (dã) ou qualquer outro recurso em planetas vizinhos.

    (Afinal de contas, há tantos planetas desabitados para se retirar bens, pra que atacar planetas habitados?)

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  2. Marcelo, lí "Criação Imperfeita" e, apesar de ter me esforçado por muitos anos para compreender as teorias cosmológicas, estou absolutamente de acordo com seu ponto de vista.
    Outros filósofos também compartilham esta posição, veja esta resenha:

    Em "Adeus à razão", Paul Feyerabend desafia os grandes dogmas do mundo contemporâneo para defender os benefícios da diversidade e das mudanças culturais frente às certezas uniformes e homogeneizantes da racionalidade científica. Reunindo ensaios publicados nos anos 80, este lançamento da Editora Unesp discute de Xenófanes a Einstein e a mecânica quântica, passando por uma análise surpreendente do conflito entre Galileu e a Igreja
    Católica e aproximando a ciência da arte. . Do mesmo modo que critica o método que busca uma abordagem homogeneizante, seu texto se volta contra a primazia de uma visão totalizadora. O seu adeus à razão é assim a rejeição de uma "imagem congelada e distorcida da ciência para obter aceitação para suas próprias crenças antediluvianas".

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  3. Especular sobre a psicologia alienígena é uma espécie de projeção coletiva.
    E pelas probabilidades, sintoma de esquizofrenia.

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  4. CIÊNCIA E RELIGIÃO versus ETs e Anjos.

    "Será que Criaturas inteligentes podem escapar do instinto assassino? Quando se fala de invasões de extraterrestres, em geral o foco é apocalítico: eles vêm para nos destruir e roubar os bens do nosso planeta sem qualquer remorso"
    "Essa visão de ETs não passa de um espelho de nós mesmos" Concordo plenamente, e explico o porque. ETs e Anjos são os mesmos sujeitos, só muda de conotação científica ou religiosa. Sansão foi gerado por um Anjo estraterrestre enviado por Deus sem juízo, criado por Moisés. Esse personagem bíblico cifrou um enigma, e com orgulho e astúcia, o usou com intenção de obter lucro sobre a ignorância dos filisteus sendo ele um israelita. Conclusão: o orgulho e a astúcia caracterizaram Sansão assassino suicida. Livro dos Juízes cap: 13 a 16. Astúcia e inteligência são incompatíveis com a moral. Nosso cérebro começa sua jornada na vida como uma página em branco. O bicho papão apresentado às crianças é o primeiro borrão alucinante do medo causando reação e defesa. O mais plausível é eleger um heroi com astúcia e poder de Sansão. Essa pichação na mente humana é a causa da neurose dialética em que vivemos hoje. Instinto? Não. Impulso. Retificado por Gleiser no discurso de 15 de janeiro de 2011.
    Desde os sete anos tenho sido inconscientemente um agnóstico. Minha natureza epistêmica levou-me aos portais da Ordem Rosacruz. Lá conheci todos os fundadores de religiões de toda história da humanidade. Então conclui que Deus é uma criação do homem.
    Vivendo introvertido livre da corruptibilidade, foi a melhor opção para perceber que existe no nosso interior, um sistema e ordem perfeito manifestando a inteligência para o amadurecimento mental, pois apenas com o quarto ano do ensino fundamental, aposentei-me aos quarenta e nove anos de idade por tempo de serviço com um salário de engenheiro mecânico supervisor de usinagem. Mas continuei trabalhando até aos sessenta anos. Hoje estou convicto de que a epistemologia me livrou do poder da comunicação manipulativa nos meios de comunicação universal e dou esta sugestão: "Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerá Deus e o universo". (Oráculo de Delfos)

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  5. Marcelo, no seu último parágrafo deste texto muito bem pensado e e bem escrito, como tudo que você faz e nos transmite, me fez pensar em "Evoluir ou ruir, eis a questão!" que é a última frase de um poema meu, EVOLUIR OU RUIR:
    http://zennbell.blogspot.com/2010/02/evoluir-ou-ruir.html
    E também sobre a questão da projeção, "Ao menos por ora, a mensagem que vem dos céus nos diz muito mais sobre quem somos do que sobre quem, afinal, são "eles"".Lembrei de "MAL CREADOS":
    http://zennbell.blogspot.com/2011/01/mal-creados.html
    Claro que não escrevo com sua clareza científica, mas creio existem muitas maneiras de perceber e escrevero o mundo à nossa volta e dentro de nós, e compartilhar isto auxilia a apurar nossa percepção em direção à evolução, assim espero!
    Beijos,
    Zenn Bell

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