sábado, 22 de janeiro de 2011

A essência da realidade física




Não há dúvida, a mecânica quântica tem mistérios. Mas é bom lembrar que ela é uma construção da mente humana


VIVEMOS NUM mundo quântico.

Talvez não seja óbvio, mas sob nossa experiência do real -contínua e ordenada- existe uma outra realidade, que obedece a regras bem diferentes. A questão é, então, como conectar as duas, isto é, como começar falando de coisas que sequer são "coisas" -no sentido de que não têm extensão espacial, como uma cadeira ou um carro- e chegar em cadeiras e carros.

Costumo usar a imagem da "praia vista à distância" para ilustrar a transição da realidade quântica até nosso dia a dia: de longe, a praia parece contínua. Mas de perto, vemos sua descontinuidade, a granularidade da areia. A imagem funciona até pegarmos um grão de areia. Não vemos sua essência quântica, porque cada grão é composto de trilhões de bilhões de átomos. Com esses números, um grão é um objeto "comum", ou "clássico".

Portanto, não enxergamos o que ocorre na essência da realidade física. Temos apenas nossos experimentos, e eles nos dão uma imagem incompleta do que ocorre.

A mecânica quântica (MQ) revolve em torno do Princípio de Incerteza (PI). Na prática, o PI impõe uma limitação fundamental no quanto podemos saber sobre as partículas que compõem o mundo. Isso não significa que a MQ é imprecisa; pelo contrário, é a teoria mais precisa que há, explicando resultados de experimentos ao nível atômico e sendo responsável pela tecnologia digital que define a sociedade moderna.

O problema com a MQ não é com o que sabemos sobre ela, mas com o que não sabemos. E, como muitos fenômenos quânticos desafiam nossa intuição, há uma certa tensão entre os físicos a respeito da sua interpretação. A MQ estabelece uma relação entre o observador e o que é observado que não existe no dia a dia. Uma mesa é uma mesa, independentemente de olharmos para ela. No mundo quântico, não podemos afirmar que um elétron existe até que um detector interaja com ele e determine sua energia ou posição.

Como definimos a realidade pelo que existe, a MQ parece determinar que o artefato que detecta é responsável por definir a realidade. E como ele é construído por nós, é a mente humana que determina a realidade.

Vemos aqui duas consequências disso. Primeiro, que a mente passa a ocupar uma posição central na concepção do real. Segundo, como o que medimos vem em termos de informação adquirida, informação passa a ser o arcabouço do que chamamos de realidade. Vários cientistas, sérios e menos sérios, veem aqui uma espécie de teleologia: se existimos num cosmo que foi capaz de gerar a mente humana, talvez o cosmo tenha por objetivo criar essas mentes: em outras palavras, o cosmo vira uma espécie de deus!

Temos que tomar muito cuidado com esse tipo de consideração. Primeiro, porque em praticamente toda a sua existência (13,7 bilhões de anos), não havia qualquer mente no cosmo. E, mesmo sem elas, as coisas progrediram perfeitamente. Segundo, porque a vida, especialmente a inteligente, é rara. Terceiro, porque a informação decorre do uso da razão para decodificar as propriedades da matéria. Atribuir a ela uma existência anterior à matéria, a meu ver, não faz sentido. Não há dúvida de que a MQ tem os seus mistérios.

Mas é bom lembrar que ela é uma construção da mente humana.

9 comentários:

  1. Olá Marcelo. No seu artigo da Folha de S. Paulo, "A essência da realidade física", uma coisa me chamou a atenção, quando você diz que no dia a dia "uma mesa é apenas uma mesa, independentemente de olharmos para ela". Mas, a mesa de um observador nunca será a mesma mesa de outro observador, pois o conceito de mesa envolvido, a sua utilidade (onde eu como, ou onde eu estudo) nunca será a mesma para duas pessoas diferentes. Mesmo que aparentemente seja igual, em 5 minutos de conversa já é possível identificar diferenças marcantes da "sua" mesa e da "minha".

    Talvez não haja diferença nenhuma entre a física de medições (da Mecânica quântica) e a física do dia-a-dia.

    Gostei de você ter levantado essas questões. Agradeço

    Gabriel

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  2. Alan, sempre acho ótimo os questionamentos levantados por Gleiser, em especial, a maneira como escreve.

    Ele sempre coloca incertezas e subjetividades mas, para o bom leitor, fecha a porta para o misticismo.

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  3. A ESSÊNCIA DA REALIDADE FÍSICA VERSUS REALIDADE SENSÍVEL

    ESTILIZANDO O GÊNESIS

    "No princípio Deus criou o céu côncavo e a terra convexa" e se estabeleceu no espaço-tempo desta simetria geométrica para manifestar a fenomenologia. O estilo é o círculo com um ponto no centro. O círculo em si é a lei Dharma hinduísta regendo a busca pela satisfação. O interior do círculo é Energia contínua e passiva. O exterior é a Ubiqüidade espacial no reino hostil da treva fria. O ponto central é a Sensibilidade granulada e ativa. Essas quatro Entidades: Dharma, Energia, Ubiqüidade e Sensibilidade, formam o tetragrama D.E.U.S., O Ser que precede o Devir. O Dharma faculta duas forças: puxar e empuxar, dois movimentos: ir e vir com três modalidades: pulsações esféricas, retilíneas e curvilíneas. A pulsação tem um ritmo cíclico com quatro movimentos em quatro ínterins gerando a unidade do tempo no espaço. O primeiro movimento é a introversão gerando a gravidade. O segundo é a extroversão gerando o fogo. O terceiro é a circunspecção gerando a consciência magnética. E o quarto é a volição gerando a inteligência elétrica, manifestando uma cinesfera de luz, vida e amor. No macrocosmo, a estrela é uma cinesfera. No microcosmo, partículas de energia subatômicas também são cinesferas. Eis a imagem da dualidade onda-partícula no princípio da fenomenologia entre o côncavo e o convexo.
    A partir de então, duas cinesferas pulsando alternadamente e sincronizadas, geram uma linha de reciprocidade mútua. Três cinesferas pulsando alternadamente e sincronizadas, geram uma superfície triangular rotativa, e por conseguinte, geram outras duas forças: a centrífuga elétrica e a centrípeta magnética. Quatro cinesferas pulsando alternadamente e sincronizadas, geram um circuito translativo à devenir um sólido tetraédrico, a pedra angular, o cérebro por onde fluem os sentidos do tato-visão, tato-paladar, tato-olfato e tato-audição.
    Existem três modos de vida: mineral na linha recíproca, vegetal na superfície rotativa, e animal no circuito translativo circunscrito no tetraedro. Os arquétipos dos gêneros são formados conforme necessidade e possibilidade ambiental.
    Segundo a arqueologia, o homem existe na Terra há mais de um milhão de anos, mas só há mais ou menos cem mil anos adquiriu autoconsciência. Esta evolução não foi coletiva, e sim, individual e gradativa. Então, cada individuo adquire um grau de inteligência correspondente ao seu empenho intelectual. No princípio a inocência instintiva providenciou a comunicação interativa. Isto foi vantajoso porque fortificou a intelectualização facilitando a resolução de problemas. Porém, uma vez que a evolução é intelectual, gradual e individual, muitos homens não evoluiram nas mesmas proporções, levando-os às desigualdades sociais como no exemplo dos Faraós e Moisés com toda sua história de violências que deu origen às fobias geradoras do autoritarismo político, religioso, financeiro e judiciário. Esta é a única evidência da causa da neurose humana.
    Há solução para esse conflito? Há. Na minha opinião a reencarnação é uma necessidade do Devir mental à evolução intelectual. Não existe Criador e não houve começo. Vida e morte é o ciclo necessário à aquisição do juízo. Só com sensatez e discernimento será possivel construir um paraíso social com satisfação, ainda que com períodos de adormecer e despertar.

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  4. Valeu, "O Coisa"
    kant já dizia:
    Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar." (Immanuel Kant)

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  5. Boa noite Marcelo!

    Li seu livro "Criação Imperfeita" e gostei muito. Já tinha visto o documentário do Discovery e um é complemento do outro quanto às informações sobre o universo. Gostaria de fazer umas perguntas a você:

    1) Existem monopólos magnéticos?

    2) O você acha da teoria de João Magueijo que diz que a velocidade da luz nem sempre foi uma constante, como afirmou Einstein?

    Att,

    Márcio
    Eng. Eletricista

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  6. Esse é um assunto extremamente complexo e que gera longas conversas!

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  7. Matéria se transformando em energia energia se transformando em matéria. Informações podem ser mandadas através de feixes de raio laser (informação ordenada por uma conciência tecnológica). Como leigo no assunto depois de ler muitas coisas a respeito, a primeira inpressão que tenho é que a tendencia ao ordenamento e a propensão que este ordenamento tem em se transformar em informação assessivel para uma mente(mesmo esta é uma estrutura ordenada, mesmo inperfeita) capaz de aprecia-lo como tal, é uma constante muito bem observada. A questão é saber se é útil ou não especular ou mesmo teorizar se existem outras formas de leitura destes códigos. Talvez pareça loucura mas acho que vale a pena teorizar sobre estas novas possibilidades. Apenas como exercicio, mesmo de imaginação.

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  8. À sua frase "em praticamente toda a sua existência (13,7 bilhões de anos), não havia qualquer mente no cosmo. E, mesmo sem elas, as coisas progrediram perfeitamente." , eu acrescentaria:

    Nem sempre tão perfeitas.

    Essa eterna possibilidade da imperfeição pode tirar um pouco da nossa anciedade em conhcer "A essência da realidade física".
    Abraços.

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  9. Por que definir arbitrariamente que a vida no universo é rara quando existe a tendencia cada vez mais forte de se descobrir que ela pode surgir em lugares que nunca poderia se e imaginar que ela seria capaz de surgir?

    Por que é tão dificil admitir uma teoria em que a vida, (não como a conhecemos) pode se extinguir e ressurgir constantemente de formas que não somos capazes de imaginar?

    Por que insistem que é necssário um Deus pra que tudo isso aconteça?

    Deus é só uma palavra, ao que parece, neste momento, estão dando a a ela dentro da ciência, uma atenção maior do que ela realmente merece. Na verdade precisa ser totalmente desconsiderada. Quando o termo 'Deus' E ciência são colocados sycessivamente num mesmo artigo que se quer ciêntifico, Não tenha dúvida que surgirão muitos problemas para a ciência principalmente.

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