domingo, 5 de abril de 1998

Os bombardeios do espaço e as grandes extinções

MARCELO GLEISER
especial para a Folha

As bombas nucleares marcam uma nova era na história da humanidade. Pela primeira vez somos capazes de extinguir a vida na Terra, em um confronto sem vencedores. A Guerra Fria foi uma guerra de medos, calcados na memória do terrível extermínio promovido pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em 1945.

A "paz" nuclear é muito frágil, como recentemente Saddam Hussein e sua defesa por Boris Ieltsin mostraram. Mas o medo das consequências de um holocausto nuclear pode servir de freio para políticos e militares.

Mas os perigos de uma extinção da vida na Terra também podem vir do espaço. Não por bombas de seres extraterrestres com o objetivo de colonizar a Terra, mas na forma de asteróides vindos de regiões distantes do Sistema Solar.

Em 1980, o físico Luiz Alvarez, Prêmio Nobel de 1968, propôs que a causa da extinção dos dinossauros foi o impacto de um enorme asteróide há 64 milhões de anos. Ele argumentou que na península de Yucatán, no México, haveriam vestígios da cratera causada pelo impacto, rica em irídio, elemento abundante em meteoros.
Dados geológicos parecem confirmar a existência da cratera, e não só a extinção dos dinossauros, mas de 47% de toda a vida no planeta. Mas essa catástrofe, que marca a fronteira entre os períodos Cretáceo e Terciário, não é a mais dramática na história de nosso planeta. Há 251 milhões de anos, na fronteira entre o Permiano e o Triássico, houve outra extinção, de 80% a 95% de toda a vida na Terra! Para isso, nem o choque de um grande meteorito seria suficiente.

Descobriu-se também que existe uma correlação entre essas duas catástrofes e sedimentos basálticos gigantescos, ou seja, depósitos de lava ejetada por erupções vulcânicas de proporções apocalípticas. Aliás, no Novo Testamento, nas Revelações, o Apocalipse vem assinalado por "estrelas que caem dos céus".

O leitor pode pensar: "Mas isso tudo aconteceu há muito tempo. Hoje em dia essas coisas não podem acontecer, certo?". Errado! O Sistema Solar contém centenas de milhões de asteróides orbitando o cinturão entre Marte e Júpiter e suas regiões mais distantes. Além da órbita de Netuno há um cinturão rico em objetos com massas de dimensões semi-planetárias. Conhecido como cinturão de Kuiper, ele pode ser o berço de vários dos asteróides que, devido a instabilidades em suas órbitas, são atraídos para o interior do Sistema Solar, chocando-se ou passando perigosamente perto de planetas e suas luas.

Recentemente, astrônomos descobriram cerca de 40 objetos nesse cinturão, com massas de até um centésimo de milésimo da massa da Terra, e que esse número é apenas uma fração ínfima do total de objetos com massas ainda maiores que os do cinturão de Kuiper. Muito mais distante, há o famoso cinturão de Oort, que acreditamos ser o berço dos cometas que vêm nos visitar de vez em quando.

Objetos com massas dessa magnitude podem causar sérios danos não só pelo impacto direto, mas também causando instabilidades nas órbitas de asteróides menores, desviando-os em nossa direção. Mesmo que eles apenas passem perto de nós, os distúrbios causados por sua atração gravitacional provocarão efeitos devastadores na Terra, incluindo erupções vulcânicas, maremotos com ondas de centenas de metros e seríssimas mudanças no clima. Daí a relação entre a extinção dos dinossauros e os sedimentos.

O que podemos fazer? Podemos nos defender dessa ameaça, lutando por nossa sobrevivência como espécie. Um programa de defesa implica mapear asteróides possivelmente perigosos e destrui-los detonando explosivos nucleares, capazes de desviar suas órbitas em direções safas. A ameaça é real, talvez nossa grande chance de provar que somos uma espécie inteligente. E que sabemos como usar bombas atômicas com fins pacíficos.

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