domingo, 21 de março de 1999

Do balão de são João até a conquista do espaço



Toda a criança é fascinada pela possibilidade de voar. Seja soltando pipa ou um balão em São João (aliás, um grande perigo ecológico devido a incêndios florestais), alçar vôo, conquistar os céus, é um sonho que todos carregam dentro de si. Desde (no mínimo) a lenda grega de Ícaro, que tentou voar até o Sol usando asas de cera, a humanidade tentou se erguer de sua existência bípede em busca das nuvens, ou de horizontes bem mais longínquos.

No dia 4 de outubro de 1957, a então União Soviética lançou o primeiro dos três satélites artificiais chamados "Sputnik", que significa "acompanhante de viagem" em russo. O lançamento do primeiro satélite artificial da história provocou histeria no mundo ocidental. No meio da Guerra Fria, quando as tensões entre os Estados Unidos e a União Soviética provocavam uma absurda corrida armamentista, nada poderia ter sido mais assustador para o mundo ocidental do que ver os russos dominar o espaço.

Sputnik 1 foi um satélite modesto, pesando apenas 84 kg, munido de um termômetro e um transmissor de rádio. Mas, quando os norte-americanos ouviram os sinais de rádio vindos dessa minúscula espaçonave viajando sobre suas cabeças a velocidades de 27 mil quilômetros por hora, já era tarde; os russos tinham dado uma rasteira propagandista nos "invencíveis" norte-americanos. A nação sofreu um choque coletivo, um misto de fascínio e terror. E assim nasceu a corrida espacial.

O governo norte-americano respondeu com uma promessa ambiciosa: colocar um homem na Lua até o final dos anos 60. Mas, enquanto a nação se mobilizava para "roubar os céus dos comunistas", um segundo Sputnik foi posto em órbita no dia 23 de novembro, levando nosso primeiro cosmonauta, a cadela Laika, que sobreviveu no espaço por dez dias, provando que era possível viver em órbita.

O lançamento desses primeiros satélites teve um profundo impacto em toda uma geração norte-americana. Um filme que acaba de ser lançado aqui nos EUA, "October Sky" (Céu de outubro), de Joe Johnston, conta a história, inspirada em fatos concretos, do fascínio exercido pelo espaço sobre quatro adolescentes, crescendo em uma pequena cidade dominada pela mineração de carvão, na Virgínia.

O filme, claro que perfumado de valores sentimentalistas hollywoodianos, é uma inspiração e deveria ser mostrado em todas as escolas de ensino médio do Brasil. Ele coloca claramente os vários conflitos e desafios que devem ser vencidos quando partimos em busca da realização de nossos sonhos em um mundo que se recusa a cooperar.

Homer, o foco de nossas atenções, nunca havia se interessado por ciência; seu pai era o chefe dos mineiros e seu destino já estava decidido; seria mineiro também, como seu pai. A escola oferecia uma educação medíocre, desenhada para afogar qualquer desejo de emancipação cultural das crianças. Até que aparece a professora inspirada, que vê em Homer e seus três amigos a paixão que pode transformar suas vidas. Quando Homer vê o Sputnik sobre os céus de sua cidade, sua vida muda; contra seu pai, as tradições de sua família e de sua cidade, ele resolve construir protótipos de foguetes, trocando cartas com o grande engenheiro astronáutico Werner von Braun. E, claro, no final ele vence todos os desafios e consegue uma bolsa de estudos para cursar a universidade, o passaporte para uma vida na ciência, longe das minas de carvão.

O filme mostra a importância do mentor no desenvolvimento de uma carreira; da inspiração que algumas pessoas podem fornecer àqueles que sonham um pouco mais alto. O filme é também uma celebração da iniciativa individual, do valor de nos dedicarmos com paixão e seriedade ao que gostamos de fazer e não ao que é mais fácil e conveniente. Apesar de óbvia, essa é uma lição fácil de ser esquecida, mas que não deveria ser.

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