domingo, 14 de março de 1999

O comportamento sexual humano segundo a ciência


Hoje gostaria de mudar um pouco de assunto e tocar em um tema que vem despertando enorme interesse na comunidade científica: a possibilidade de compreendermos de forma científica o comportamento sexual humano. O leitor deve estar se perguntando: "Mas por que cargas d'água um físico se interessa por esse assunto a ponto de querer escrever sobre ele?".
Há duas razões principais para meu interesse. A primeira é simples: físico também é gente, e eu, como qualquer outra pessoa, já travei algumas batalhas nesse "conflito". A segunda é mais profunda: está ligada aos limites do questionamento científico em áreas sociais, onde é difícil argumentar quantitativamente dentro dos padrões determinados pelo método científico; até que ponto é possível obter leis universais de comportamento, aplicáveis em várias culturas e épocas, capazes de justificar as atitudes de um grande número de pessoas em grupos sociais?

Na raiz desse debate encontramos as duas atitudes preponderantes dentro da comunidade científica interessada nesses tópicos. De um lado, os psicólogos evolucionistas exploram a possibilidade de o comportamento sexual humano ser baseado em regras relativamente simples, uma combinação entre a necessidade de transmissão dos genes e os critérios de seleção natural determinados pela teoria darwiniana de evolução. De modo resumido, enquanto para o macho um número grande de fêmeas aumenta a possibilidade de que seus genes sejam transportados para uma nova geração, para a fêmea a seleção de um macho adequado é fundamental, já que o longo período de gravidez e o número relativamente pequeno de gestações em uma vida limitam a escolha de seus parceiros. Segundo os psicólogos evolucionistas, essa dialética explica por que homens preferem ter várias parceiras jovens (melhores chances de reprodução), enquanto mulheres preferem um parceiro mais maduro, capaz de liderar e alimentar sua prole.

Como não poderia deixar de ser, essa generalização do comportamento sexual humano (apresentada aqui resumidamente) enfurece tanto as feministas radicais quanto outras pessoas. Os argumentos são muitos e aqui vamos ver apenas alguns. Será, argumentam os críticos, que esse comportamento do macho agressivo e da fêmea submissa é mesmo consequência de regras evolucionistas, ou da violência sofrida por fêmeas mais "atrevidas" em grupos dominados por machos? Afinal, tanto em primatas quanto em humanos, uma fêmea adúltera carrega um estigma social muito maior do que um macho adúltero. E, às vezes, isso é marcado por violência e expulsão do grupo. Vemos aqui que, nós, humanos, não estamos assim tão longe na escala evolucionária dos nossos primos primatas. Infelizmente, na hora de acusarmos o outro, esquecemos rapidamente nossos "pecados" e atiramos com vontade a primeira pedra.

Outro argumento é com relação ao mito de que mulheres sempre procuram homens mais ricos, pois assim podem garantir seu futuro e o de sua prole. Essa tendência, segundo os críticos, não está ligada a necessidades evolucionárias, mas sim a uma grande disparidade salarial entre homens e mulheres. As mulheres com níveis salariais compatíveis com os homens não sentem esse impulso darwiniano de encontrar parceiros mais ricos.

E o casamento? Se os homens gostam tanto de "sair por aí", por que sua aceitação tão universal? O contrato matrimonial pode ser interpretado como uma garantia para o macho, que caso contrário teria de pagar um preço alto competindo constantemente por fêmeas com outros machos. Em termos estatísticos, gerar uma prole com uma parceira constante é quase equivalente e muito mais seguro do que várias parceiras ao acaso. Já para a fêmea, o casamento oferece uma proteção contra os constantes ataques dos machos "solteiros"; "ah, essa aí não dá; ela usa aliança".


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