O dia 13 de outubro será lembrado como mais um dia trágico  na trágica história iniciada em 16  de julho de 1945 com a detonação da primeira bomba nuclear  no deserto próximo de Alamogordo, no Novo México, EUA.  Em uma decisão profundamente irresponsável, o Senado norte-americano vetou o tratado que  proibia testes de explosivos nucleares, provocando protestos  no mundo inteiro, especialmente de outras potências nucleares.
As consequências de uma decisão como essa são as piores possíveis; países que estão em vias de desenvolver sua própria tecnologia nuclear bélica terão seus objetivos mais do que justificados. Afinal, se a maior superpotência do mundo se vê no direito de continuar seus testes nucleares e de desenvolver novas tecnologias de destruição, por que não países como Irã, Iraque, Coréia do Norte etc.? A previsão é que, dentro de uma década, o número de países com armas nucleares chegue a uma dezena.
Não é muito difícil imaginar a fragilidade de um mundo controlado pelo medo; mais cedo ou mais tarde, um líder político obcecado pelo poder, com uma visão distorcida das consequências de um ataque nuclear, detonará sua primeira bomba sobre um país vizinho, ou mesmo distante. Ou um país que tenha a bomba e que esteja perdendo uma guerra a usará como último recurso; um animal acossado sempre ataca antes de se entregar à morte.
Inicialmente, parece difícil entender o que passou pela cabeça  desses senadores americanos  quando votaram, 51 contra 48,  por não ratificar o tratado. Os  votos foram todos (com exceção  de quatro republicanos que votaram com os democratas) dentro de linhas partidárias; ou seja,  os republicanos, com a tradição  de apoiar a corrida armamentista, votaram contra, e os democratas, a favor. Deixando de lado  a ironia de um país que se diz o  modelo democrático ter apenas  dois partidos, os argumentos  dados pelos senadores republicanos foram ridicularizados em  outros países: citando as dificuldades (inexistentes sob o ponto  de vista científico) de controle de  testes nucleares por outros países, esse senadores dizem que os  EUA não podem garantir sua segurança enquanto outros países  desenvolvem novas armas. Ora,  com um arsenal atual capaz de  destruir nossa civilização várias  vezes, qual a necessidade de novas armas e novos testes?
Poder implica responsabilidade. Para nossa geração e para as gerações futuras. Os EUA tinham em mãos uma grande oportunidade de promover um mundo mais seguro, mais maduro, em que a paz não é obtida por uma política de terror, como na Guerra Fria, mas por meio de uma colaboração entre os países. Infelizmente, a política local falou mais alto do que a responsabilidade e uma guerra partidária, nascida do ódio de um partido contra um presidente de outro, levou a uma decisão com repercussões maiores que qualquer partido ou presidente em qualquer país do mundo.
Provavelmente o leitor se lembra dos protestos contra os testes nucleares da França no atol  de Mururoa, no Pacífico, ou da  indignação mundial com os recentes testes nucleares da Índia e  do Paquistão. Uma das vozes  mais ativas no protesto, com  ameaças de retaliação econômica, foi justamente os EUA. Como é possível uma hipocrisia  dessas? É possível, e continuará a  ser possível, enquanto políticos  estiverem mais preocupados em  gerar empregos (nada melhor  do que uma corrida armamentista para tal) para seu eleitorado  do que com as repercussões de  suas decisões. Claro, os políticos  têm de proteger os interesses da  população que eles representam. Mas a corrida armamentista cria uma nova dimensão moral, que transcende problemas  locais; um mundo sob o caos de  uma guerra nuclear é um mundo sem fronteiras. Novos senadores e presidentes serão eleitos,  e o tratado deverá ser reavaliado.  Talvez esse episódio seja um  passo necessário para um futuro  mais digno para a humanidade.
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário