domingo, 7 de novembro de 1999

Métodos para datar o passado

Quando cientistas dizem que certa espécie de dinossauro existiu há 100 milhões de anos ou que certos microrganismos têm mais de 1 bilhão de anos, certas pessoas levantam os olhos e perguntam: "Mas como isso é possível? Como os cientistas podem saber esse tipo de coisa, se eles não estavam lá para confirmar?" Essa pergunta é muito importante, e está na raiz de vários conflitos entre a ciência e a religião. Em particular, religiosos mais radicais, quando afirmam que a Terra tem apenas 6.000 anos porque assim "diz" a Bíblia, negam frontalmente esse tipo de informação científica. Por isso, hoje quero discutir como nós, cientistas, sabemos datar o passado com ótima precisão.

O método usa o decaimento de substâncias radiativas. Como sabemos, todo elemento químico tem um determinado átomo, cujo núcleo tem um certo número de prótons e nêutrons. Por exemplo, o elemento hélio tem dois prótons e dois nêutrons no núcleo. Já os isótopos de um elemento químico têm o mesmo número de prótons, mas um número diferente de nêutrons. Por exemplo, um isótopo de hélio, o He-3 (três é o número de prótons mais o de nêutrons), tem apenas um nêutron no núcleo. Conhecemos em torno de 1.500 isótopos, dos quais 305 ocorrem naturalmente e 1.200 são artificialmente produzidos. Dos que ocorrem naturalmente, 25 são isótopos radiativos, isto é, que decaem em outros isótopos e/ou elementos químicos. Esses radioisótopos naturais são usados para datar fósseis e materiais biológicos.

O datamento por radioisótopos baseia-se na lei da radiatividade, descoberta em 1902 por Ernest Rutherford e Frederick Soddy. Essa lei explica a desintegração de átomos radiativos. Todos os métodos usam o fato de que cada radioisótopo decai a uma taxa constante, sua meia-vida. O carbono-14 tem meia-vida de 5.730 anos. Portanto, uma amostra contendo 1 milhão de átomos de C-14 conteria 500 mil após 5.730 anos, 250 mil após 11.460 anos etc. Se soubermos a quantidade de átomos na amostra original, podemos facilmente estimar sua idade atual medindo sua radiatividade. Caso contrário, podemos estimar essa quantidade, pois todos os animais ingerem C-14 depositado em plantas verdes. Quando o animal ou a planta morrem, o nível de C-14 decai, sendo gradativamente transformado no isótopo de nitrogênio, N-14: medindo a quantidade de C-14 e N-14 na amostra, estimamos sua idade. O método é usado para amostras de até 40 mil anos, para evitar erros de contaminação.

Outros isótopos são usados para datar amostras mais antigas. O rubídio-87 é um isótopo com uma meia-vida de 48,8 bilhões de anos, decaindo no estrôncio-87, que é estável. O método compara a quantidade de dois isótopos, estrôncio-87 (que vem do R-87) e o estrôncio-86, e foi usado para datar as rochas mais antigas da Terra, com 3,8 bilhões de anos, no sul da Groenlândia. Quando usado em meteoritos, o método acusa uma idade de 4,6 bilhões de anos, aproximadamente a idade do Sistema Solar.

Existem vários outros métodos usando radioisótopos. Esses métodos são replicáveis e quantitativos. Albert Einstein dizia que a ciência sem religião é capenga e que a religião sem ciência é cega. Ou seja, que a ciência nasce de uma inspiração espiritual com relação ao desconhecido, que Einstein atribuía a uma inspiração religiosa. Por outro lado, a religião não pode negar os avanços da ciência, pois corre o perigo de ficar cega. Interpretar a Bíblia como uma descrição literal da história do Universo e da Terra vai de encontro aos achados da ciência moderna. Não acredito que a Bíblia tenha sido escrita com essa intenção, do mesmo modo que artigos científicos não devem ter um conteúdo religioso. É na complementaridade de ambos que reside a solução desse suposto conflito, na aceitação das missões e dos limites da ciência e da religião em nossas vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário