domingo, 12 de dezembro de 1999

Será que as fontes de petróleo vão se esgotar?

Eu me lembro, quando ainda garoto, da famosa crise no abastecimento de petróleo nos anos 70: racionamento de gasolina, preços altos, filas intermináveis nos postos e viagens curtas nos finais de semana. Neste fim de milênio, vale lembrar que nossa absoluta dependência de combustíveis fósseis pode também levar a vários prognósticos apocalípticos. O que será do mundo se o petróleo acabar?

A crise dos anos 70 acelerou nosso interesse em criar fontes alternativas de energia, como o programa do álcool no Brasil ou de carros movidos a gás natural, que também é um combustível fóssil como o petróleo, mas bem mais abundante. A ênfase deve ser em fontes não só alternativas, mas também renováveis.

Uma possibilidade interessante é o uso de hidrogênio como combustível. Hidrogênio é, de longe, o elemento mais abundante no Universo, em torno de 75%, seguido do gás hélio, com 24%. Mais ainda, um carro movido a hidrogênio produz vapor de água, e não os vários gases tóxicos e poluentes que são produzidos na combustão da gasolina. As vantagens são óbvias. Os primeiros carros movidos a hidrogênio estão programados para ser lançados em 2004, um ótimo presente para a humanidade do novo milênio.

Os países mais poluentes do mundo são os EUA e a China. No caso da China, o combustível mais usado é o carvão, o que faz com que 9 das 10 cidades mais poluídas do mundo estejam em território chinês. Em torno de 33% das mortes nessas cidades estão relacionadas a doenças pulmonares, cardiovasculares e formas de câncer causadas pelo uso abusivo de carvão como combustível.

No caso dos EUA, 40% da poluição causada pelo petróleo vem de automóveis. É realmente absurda a relação dos americanos com carros e a relutância generalizada no uso de transportes públicos. Indo ao trabalho de manhã, você vê milhares de carros com apenas um motorista, todos empilhados no trânsito, enquanto o metrô e os trens passam vazios ao lado das avenidas. Em São Paulo a coisa não é muito melhor, e uma reforma nos transportes públicos é fundamental para garantir o futuro dessa cidade. E de várias outras no Brasil.

Enquanto não desenvolvemos fontes alternativas e renováveis de energia a preços acessíveis, o debate sobre as reservas mundiais de petróleo continua. Mas o foco do debate mudou. Hoje, ao contrário dos anos 70, as previsões são de que as reservas de petróleo durarão muito mais do que o esperado, confortavelmente pelos próximos cem ou mais anos. Eu acho essa previsão lamentável, pois ela irá desacelerar as pesquisas em produção alternativa de energia; infelizmente, novas fontes só irão se tornar viáveis quando houver interesse econômico por trás.
Considerando que anualmente cerca de 14 milhões de galões de petróleo são "acidentalmente" despejados em águas doces e salgadas, fora a poluição atmosférica e o efeito estufa que é causado pela combustão de vários derivados do petróleo, é uma forma de cegueira não acelerarmos as pesquisas de outros combustíveis. A questão não é mais se o petróleo vai acabar, mas se ele vai acabar com a gente.

Para piorar as coisas, em um recente livro, o físico iconoclasta Thomas Gold, ex-diretor do Centro de Radiofísica e Pesquisas Espaciais da Universidade de Cornell, nos EUA, sugere que o petróleo não vai acabar tão cedo, que ele é constantemente renovado por todo um ecossistema subterrâneo que até o momento permanece invisível. Sua idéia é que vastas quantidades de materiais orgânicos foram armazenadas no interior profundo da Terra durante sua infância.

Esses materiais percolam através de rochas até atingir profundidades entre 10 km e 300 km, onde eles são consumidos por vastas colônias de microrganismos, com mais massa orgânica do que toda a vida na superfície. Devido a movimentos internos na Terra, esse material recombinado sobe ainda mais, onde ele é depositado nos reservatórios de petróleo e gás que exploramos. Claro, a hipótese de Gold é altamente especulativa e, espero, errada. Mas, caso ele esteja certo, o nosso futuro vai depender de nossa sabedoria e não de nossa ganância.

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