domingo, 5 de março de 2000

Rumo a Marte, mas devagar!

O planeta vermelho! Quantos filmes e livros de ficção cientifica já foram escritos, especulando sobre as estranhas formas de vida que habitam Marte. Infelizmente, até agora as sondas que lá pousaram trouxeram apenas notícias um tanto desanimadoras; Marte é aparentemente um vasto e frígido deserto, cheio de rochas e poeira avermelhadas.

Alguns canais foram encontrados, talvez leitos ressecados de antigos rios que cruzavam sua superfície há milhões de anos. É possível que Marte tenha tido água em abundância. E onde tem água, possivelmente tem vida, o que significa que formas de vida podem ter existido em Marte no passado. Ou quem sabe ainda existem e foram responsáveis pelo misterioso desaparecimento da sonda enviada pela Nasa recentemente? (Caro leitor, só para evitar alguma confusão, estou apenas brincando!)

O jeito é irmos até lá diretamente. Missões tripuladas a Marte fazem parte de uma espécie de desejo coletivo da humanidade; nós somos exploradores por natureza, e o próximo grande passo a ser dado é chegar a Marte.

O problema é que a visão romântica de uma viagem interplanetária se esvanece em segundos quando encaramos as enormes dificuldades técnicas de uma tal missão. A Nasa está planejando uma missão tripulada a Marte para o ano 2020. E, por incrível que pareça, os maiores desafios não são o desenho de naves e combustíveis, mas nossa biologia. Como que seres humanos irão suportar uma missão a Marte com duração de três anos (incluindo seis meses de ida e seis de volta) em um ambiente sem gravidade, alta exposição a radiação cósmica e sérias privações psicológicas?
Nossos corpos e sua fisiologia evoluíram em um ambiente extremamente controlado, com poucas variações de temperatura, gravidade constante e baixos níveis de radiação.
O movimento dos fluidos em nossos corpos e a densidade dos ossos dependem dessa constância. Em um ambiente sem gravidade, como o que ocorre em viagens espaciais, nossa fisiologia entra em pane total.

Astronautas sofrem sérios problemas de adaptação, incluindo vários dias com náusea (o vômito flutua na cabine, o que torna sua "captação" extremamente desagradável...), desidratação e tonteiras. Quando astronautas retornam de suas missões, eles mal conseguem distinguir os pés da cabeça. Repare que a Nasa sempre cobre as passarelas de desembarque, para que o público não veja o estado indigno de seus heróis. Períodos de quarentena têm a dupla função de isolar uma possível contaminação de "germes espaciais" e restituir a fisiologia dos tripulantes ao normal.

Veja o que acontece com o sistema circulatório: normalmente, o sangue se acumula na parte inferior de seu corpo, atraído pela gravidade. Em gravidade próxima de zero, esse sangue sobe como um vulcão; você pensa que sua cabeça irá explodir com a pressão, enquanto seu coração bate mais rápido, tentando expelir o excesso de sangue. Seu corpo calcula que existe um excesso de fluido, e você elimina mais de um litro de água a cada dois dias. A desidratação aumenta a densidade do seu sangue e, em resposta, o corpo diminui a produção de células vermelhas. Conclusão: você termina anêmico e desidratado, se não sofrer um ataque cardíaco ou um derrame antes. E isso em missões de curta duração.

Imagine passar seis meses no espaço sob essas condições e então chegar em um planeta cuja gravidade é metade da terrestre e onde não há uma equipe médica à espera. E isso sem falar nos raios cósmicos, que aumentam a incidência de câncer, o envenenamento por ferro e as mutações em bactérias que existem em nossos corpos. Sabe-se lá que novas doenças serão criadas no espaço!

Ciente desses problemas, a Nasa está buscando soluções, incluindo ambientes com gravidade simulada a bordo, espaçonaves giratórias como uma centrífuga, proteções contra radiação cósmica e técnicas cirúrgicas na ausência de gravidade: o sangue se transforma em aerossol, se espalhando pela cabine, enquanto os instrumentos não têm peso na mão do cirurgião.
Esses desafios devem ser vencidos por qualquer forma de vida que queira viajar no espaço. Quem sabe os homenzinhos verdes de Marte não podem nos passar umas dicas?

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