É tudo culpa da testosterona, dizem alguns biólogos e médicos. Outro dia, li  um artigo no "The New York Times" sobre um jornalista que é HIV positivo e  que recebe uma injeção de testosterona a  cada duas semanas. O diagnóstico de  uma baixa produção desse hormônio  veio devido a cansaço e perda de peso. O  jornalista declara que suas injeções não  só lhe restauraram o peso e o ânimo, mas  lhe fornecem uma dose de "masculinidade" que jamais conhecera. Sua musculatura aumentou, seu apetite explodiu, sua  disposição mais que dobrou e suas atividades passaram a ser tratadas com uma  intensidade quase desmesurada.
A testosterona é produzida tanto por  homens quanto por mulheres. Em homens, ela é produzida nos testículos; nas  mulheres, boa parte nos ovários.
A grande diferença é a quantidade: mulheres adultas têm, em média, entre 40 e 60 nanogramas (um bilionésimo) em um decilitro de plasma sanguíneo, e homens, entre 300 e mil nanogramas. A coisa começa cedo: na concepção, todo feto é feminino até ser hormonalmente alterado. Após seis semanas, o feto com cromossomo Y recebe uma enorme dose de testosterona, que de certa forma direciona sua definição sexual. A outra grande dose de testosterona ocorre na puberdade, quando vozes engrossam e uma atitude de guerreiro toma conta dos rapazes. (Ei, eu também passei por isso!)
Experimentos em ratos (em humanos  eles não podem ser feitos) mostram que  os machos recém-nascidos que têm sua  testosterona bloqueada se tornam dóceis, seus pênis encolhendo ou desaparecendo (!). Já as fêmeas têm seus clitóris  transformados em pênis e se comportam  como machos na procriação. Em certas  espécies de pássaros, as fêmeas, que são  mudas, passam a cantar. Será que as diferenças entre homens e mulheres, não só  as físicas, têm uma ligação com a testosterona? (Claro, sempre há variações.)
Essa questão é muito delicada, pois envolve não só biologia, mas a relação social entre os sexos e a estrutura de poder  na sociedade. Levando essa argumentação ao extremo, certas características de  comportamento, como a agressividade,  a combatividade e um insaciável apetite  sexual, são consequências dos diferentes  níveis de testosterona não só entre os sexos, mas também dentro de cada grupo.  Mulheres que têm seu sexo alterado tomam altas doses de testosterona e declaram não só um aumento no seu apetite  sexual, mas também o crescimento de  pêlos e às vezes até calvície. Soldados em  guerra e boxeadores têm níveis mais altos de testosterona. Os pavões machos,  com suas plumas exuberantes e uma atitude de "eu sou o melhor", têm níveis altíssimos de testosterona em comparação  com outras aves.
 Aparentemente, testosterona está relacionada com uma atitude  de poder e domínio. A questão complica  quando nos perguntamos sobre as dificuldades da mulher profissional em um  mundo dominado por uma ética fundamentada em altas doses de testosterona.
Há aqui um claro conflito entre a arte de governar e a realidade da vida política: enquanto as qualidades associadas a baixas doses de testosterona -paciência, aversão ao risco, empatia- são fundamentais na vida de qualquer político (ou deveriam ser!), o dia-a-dia da política é fundado em disputas de poder, qualidades infelizmente relacionadas com altas doses de testosterona. Dentro dessa óptica, a batalha pela igualdade dos sexos está ligada com o controle racional das atitudes ligadas a níveis muito altos ou muito baixos da substância "T".
Isso não altera a importância da promoção dessa igualdade na sociedade, mas adiciona uma nova dimensão ao debate. Não como uma justificativa da diferença entre homens e mulheres, mas como um toque de despertar na missão dos defensores dessa igualdade (eu incluso): que a desigualdade física existe e que os sexos podem aprender um com o outro.
 
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