domingo, 14 de maio de 2006

A gravidade e suas interpretações

Sei que gravidade não é dos assuntos mais apropriados para o Dia das Mães. Porém, como todas as mães passam suas vidas sob a influência do campo gravitacional da Terra, têm uma relação íntima com a gravidade. Não é à toa que as índias do Brasil e do resto do mundo dão à luz de cócoras. Gravidez tem muito a ver com gravidade.


Não é à toa que as índias do Brasil dão à luz de cócoras. Gravidez tem muito a ver com gravidade


A interpretação dessa estranha tendência das coisas de caírem espontaneamente no chão tem uma longa história. Os primeiros a se preocuparem com o assunto de forma mais quantitativa foram os filósofos da Grécia Antiga. Dentre eles, Aristóteles atribuiu essa tendência a um movimento natural. Dividindo a matéria do mundo em quatro substâncias, terra, água, ar e fogo, Aristóteles sugeriu que as coisas movimentam-se de forma a retornar ao seu ponto de origem. Portanto, as coisas feitas de terra (e terra aqui indica o que não é água, ar ou fogo) tendem a voltar à superfície da Terra. Já o ar tende a flutuar sobre as águas, enquanto o fogo tende a subir até os limites da atmosfera. Os planetas, continuou Aristóteles, são feitos de uma quinta substância, a quintessência ou éter. Essa estranha matéria obedece a leis diferentes: seu movimento natural é circular. Portanto, os planetas, a Lua, o Sol e as estrelas giram em torno da Terra, fixa no centro do cosmo.

Passaram-se quase 2.000 anos até que essas idéias mudassem. Na Idade Média imagino que a explicação popular fosse algo como "para baixo todo santo ajuda". Galileu, em torno de 1600, sugeriu que todos os objetos eram acelerados da mesma forma pela gravidade terrestre. Ou seja, não importa o tamanho ou peso do objeto, todos sofrem a mesma aceleração ao cair. Não percebemos isso devido à fricção do ar. O teste de Galileu, que segundo a lenda foi na Torre de Pisa, pode ser repetido pelo leitor: deixe duas bolas do mesmo tamanho caírem da mesma altura. Se uma for, por exemplo, de ferro e a outra de madeira, deverão chegar ao chão praticamente ao mesmo tempo. Aristóteles diria que a de ferro, sendo mais pesada, chegaria antes.

Galileu disse pouco sobre a causa do movimento dos planetas. Foi o alemão Kepler, também em torno de 1600, o primeiro a sugerir que uma força vinda do Sol era responsável pelas órbitas celestes. Kepler imaginou que a força tivesse origem magnética, já que a Terra é um imã gigante. No final do século 17, Isaac Newton pôs ordem na casa. Sua teoria da gravitação universal, como já diz o nome, provou de forma belíssima (palavra não só aplicável à telenovelas e modelos como também a teorias científicas) que a mesma força que faz com que os planetas girem em torno do Sol faz também objetos caírem no chão. Newton mostrou que tudo atrai tudo com uma força que varia com o inverso do quadrado da distância: duas vezes mais longe a força é quatro vezes mais fraca. Portanto, os planetas e as mães do Brasil e do mundo também atraem o Sol. Só que o Sol, sendo muito mais maciço, pouco se lixa para a nossa atração conjunta. O mesmo com a Terra: ela nos atrai da mesma forma que nós a atraímos.

A teoria de Newton descreve a gravidade como uma ação à distância. Einstein, em 1916, sugeriu que a gravidade é conseqüência da curvatura do espaço. Perto de um corpo muito maciço, o espaço encurva como quando sentamos num colchão. Nesse espaço, objetos seguem caminhos curvilíneos, como os planetas e suas órbitas. Já perto da Terra, a teoria de Einstein reproduz a de Newton. Após essa breve história da gravidade, está na hora de girarmos todos em torno de nossas mães.

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