domingo, 7 de maio de 2006

A maravilha das formas de vida



É impossível não nos maravilharmos com as inúmeras formas vivas. Basta darmos uma passeada num parque e olharmos para as árvores, flores, insetos, pássaros, cachorros e seus donos, e nos damos conta da incrível criatividade da vida em suas várias adaptações na água, terra e ar. À primeira vista, parece mesmo difícil que as asas de uma abelha, os olhos de um gato, as nadadeiras de um peixe tenham surgido por acaso, resultado de acidentes no nível molecular. Mas foi isso o que ocorreu, ao longo dos 3,5 bilhões de anos (no mínimo) desde que a vida surgiu na Terra.


Somos todos essencialmente o mesmo animal, variações sobre o mesmo tema


Darwin propôs sua teoria da evolução para dar conta do que percebeu ser, ao longo de observações cuidadosamente catalogadas em viagens pelo globo, a característica mais fundamental da vida: sua capacidade de se adaptar a ambientes diversos. Sua idéia de que as espécies variam no tempo devido a pequenas mudanças que são transmitidas de geração em geração permanece essencialmente intacta. A seleção natural, como já diz o nome, seleciona, dentre as várias mudanças, as que beneficiam a espécie. Com isso, os benefícios são passados aos poucos para novas gerações, até que façam parte da população como um todo.

A grande inovação veio em torno dos anos 1950, com a biologia molecular. Ficou claro que as variações (ou mutações) ocorrem no nível molecular, nos genes. Com o mapeamento do genoma humano durante a última década, mais surpresas ocorreram. Esperava-se que espécies mais sofisticadas, como os humanos, teriam muito mais genes do que as mais simples, como os vermes. Bem, humanos têm praticamente tantos genes quanto ratos (em torno de 25 mil), e até mesmo os humildes vermes têm em torno de 14 mil. Se o número de genes não mede a complexidade de uma espécie, o que, então, a determina?

A resposta encontra-se num novo ramo da biologia molecular chamado de Evo Devo, uma mistura de "evolution" (evolução) e "development" (desenvolvimento). Trata-se de como os genes se comportam durante o desenvolvimento de um embrião, como as alterações na atividade de cada um deles gera um ser complexo, seja ele uma mosca, um morcego ou uma baleia.

A divisão progressiva de um embrião é resultado de uma intrincada coreografia de genes e enzimas. Se cada organismo tem milhões ou bilhões de células, e cada célula tem um conjunto completo de genes, por que as células do tecido nervoso usam seus genes de forma diversa das células do tecido muscular ou do fígado? O que "liga e desliga" os genes das células de modo que exista diferenciação? Genes são essencialmente moléculas extremamente longas, como corredores cheios de portas. Os biólogos descobriram que certas moléculas funcionam como chaves que ligam ou desligam as partes dos genes responsáveis pela produção de enzimas específicas. Algumas dessas moléculas "repressoras" são também genes. Na medida em que o embrião evolui, diferentes portas são abertas e fechadas, cada uma responsável por parte de seu corpo.

É como se cada animal tivesse um mapa de seu desenvolvimento, que determina quais portas devem ser abertas ou fechadas seqüencialmente. O incrível é que todos os seres vivos têm genes similares. A variação da vida vem da ativação de partes diferentes dos genes e não de genes diferentes. Segundo essa interpretação, a evolução da vida é conseqüência de mutações ocorrendo nas "portas" moleculares e não nos genes: somos todos essencialmente o mesmo animal, variações sobre o mesmo tema.

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