domingo, 15 de julho de 2007

Celebrando a ciência

Há dez anos, o Universo era profundamente diferente

E ste é um período especial para mim. Com a edição de hoje, são mais de 500 colunas, 503 para ser preciso. Parece que foi ontem, mas são já quase dez anos que desfruto deste privilegiado espaço para compartilhar com vocês as inúmeras facetas da ciência, desde suas raízes filosóficas até as últimas descobertas sobre o Universo e a vida.

Muitas vezes, quando me perguntam se a coluna ainda existe e respondo que sim, escuto comentários do tipo "Mas quanto assunto, hein?" Pois é. Uma das lições mais fundamentais que aprendemos ao fazer ciência é que a pesquisa é um processo contínuo e que o conhecimento jamais deixa de crescer e de se renovar. Nossa visão de mundo, o que entendemos sobre a natureza do tempo e do espaço e sobre nós mesmos, está sempre em transformação. Para ilustrar isso nem é preciso voltar ao século 16, antes de Copérnico, quando todo mundo acreditava, incluindo os astrônomos e filósofos, que a Terra era o centro do Universo e que os planetas, a Lua, o Sol e as estrelas giravam eternamente a nossa volta. Não, basta voltar à minha primeira coluna, de 28 de setembro de 1997, "A Reconstrução da História Cósmica", para vermos como as coisas mudaram em apenas dez anos. O Universo em que vivemos hoje, ou ao menos nossa concepção dele, é profundamente diferente do de 1997.

Hoje, sabemos que o Universo tem uma "idade" -o período passado desde o evento que deu origem a espaço e tempo, chamado Big Bang- de 14 bilhões de anos e que sua geometria é plana, ao menos dentro da região que podemos observar (o nosso horizonte cósmico). Sabemos, também, que sua composição material é extremamente estranha: a matéria comum, feita de elétrons e prótons como nós, compõe apenas 5% da matéria (e energia) que preenche o cosmo. E os outros 95%? A resposta vem de uma descoberta absolutamente surpreendente que ocorreu em 1998, que o Universo não só está em expansão (disso sabíamos em 1997), mas em expansão acelerada.

A receita cósmica, o balanço de matéria e energia que determina como o Universo cresce, dita que, dos 95%, em torno de 70% são devido a essa força antigravitacional, chamada de energia escura. Os outros 25% são devidos à igualmente misteriosa matéria escura, que tem massa (da mesma maneira que elétrons e prótons) e, portanto, exerce atração gravitacional sobre a matéria comum, mas, ao contrário dela, não tem qualquer outra interação, seja ela elétrica, magnética ou subatômica. Se nos últimos dez anos aprendemos muito, descobrimos também o quanto ainda precisamos aprender. A ciência ensina humildade.

Planetas foram encontrados girando em torno de estrelas distantes, confirmando a suspeita de que o nosso sistema solar não é a exceção mas a regra. Se existem, então, planetas girando em torno de inúmeras estrelas, e tudo indica que planetas girem em torno da maioria delas, qual a probabilidade de existir vida extraterrestre? A astrobiologia, a ciência que estuda a origem da vida na Terra e a possibilidade de vida extraterrestre, tomou força na última década, e promete descobertas sensacionais. Várias missões estão programadas para os próximos anos, com o objetivo de identificar "outras Terras", planetas que tenham propriedades semelhantes às do nosso, como água líquida e oxigênio na atmosfera.

Enquanto isso, aqui na Terra, a engenharia genética e a nanotecnologia redefinem a passos rápidos nossa concepção do que seja a vida e de como podemos criar laços cada vez maiores entre nós e as máquinas. Alguns falam até de imortalidade... Acho que não vai faltar assunto para mais 500 colunas.

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