domingo, 6 de julho de 2003

Marte, o mistério continua

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São incontáveis as histórias invocando algum tipo de vida em Marte. Em torno de 1880, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, aproveitando uma proximidade maior entre a Terra e Marte, acreditou ter discernido sobre a superfície do planeta um sistema de ranhuras lineares que chamou de "canali", que em italiano não significa necessariamente canais construídos por seres inteligentes. No entanto, na tradução para o inglês ficou valendo a interpretação mais sensacionalista, e a imprensa causou um grande alvoroço. Uma das vítimas foi o empresário americano Percival Lowell, que resolveu deixar os seus negócios para construir um telescópio no Arizona dedicado exclusivamente à observação do misterioso planeta vermelho.

Sua interpretação dos canais pôs ainda mais lenha na fogueira: Marte estava secando. Os canais foram construídos por seres inteligentes e sábios, para transportar água das calotas polares para as áridas regiões equatoriais onde eles viviam. O resto, já se sabe. De lá para cá marcianos visitaram a Terra inúmeras vezes, em geral com a intenção de nos destruir ou, no mínimo, escravizar. Qualquer semelhança com o processo de colonização do nosso planeta não é mera coincidência. Mas esta é uma outra história. No meio tempo, Marte vem sendo alvo de estudos e visitas constantes por sondas exploratórias que, até o momento, não encontraram qualquer vestígio de vida, passada ou presente.

Seria de se esperar que, após tantas visitas e estudos, o mistério envolvendo Marte teria esvanecido. Entretanto, o que se vê é o oposto. Tanto assim que Hollywood continua produzindo filmes sobre o planeta vermelho, na maioria explorando ainda a possibilidade de vida por lá. E se Hollywood ainda investe nesta história, é porque ela ainda rende. A agência espacial americana Nasa, claro, não poderia ficar para trás. Daí que várias sondas estão no momento circulando o planeta, como a Mars Global Surveyor, em órbita desde 1997, tirando fotos e imagens no infravermelho. Outra, a Mars Odyssey, está em órbita há um ano, mapeando a distribuição de água abaixo da superfície. Para a surpresa de muitos, quantidades enormes de água existem sob a superfície do planeta. Sobre a superfície também, em forma de gelo. E, onde existe água, a vida é no mínimo mais provável. Três outras sondas foram perdidas em acidentes. Uma sonda com um veículo desenhado para explorar a superfície acaba de ser lançada. A Agência Espacial Européia também está para lançar um veículo de exploração da superfície marciana. Uma sonda japonesa deve chegar em dezembro. Em breve, serão necessários sinais de trânsito. Quem sabe alguns "flanelinhas" alienígenas irão aparecer, para limpar os sensores de exploração e ajudar os robôs a estacionarem seus equipamentos. (O leitor mais sério me perdoe, mas não resisti.)

Se o mistério da vida em Marte no presente foi já resolvido -negativamente-, a possibilidade da vida no passado continua em aberto. Isto pode parecer menos interessante, mas não menos importante. Afinal, o estudo da composição geológica de Marte, de sua complexa evolução e das possíveis formas de vida que possam ter existido por lá pode nos ensinar muito sobre a evolução da vida em nosso planeta e, possivelmente, em outros espalhados pela galáxia. O fascínio por Marte é, essencialmente, um fascínio que temos por nós mesmos, por nossa evolução. E por nosso futuro.

Nossos dias na Terra estão contados, se não por nossas próprias mãos (e aqui, prefiro ser otimista e não acreditar que chegaremos a este ponto) ou pelo impacto com um asteróide, por conta do Sol, que entrará em convulsão em aproximadamente 1 bilhão de anos, tornando a vida aqui impossível. Sei que é muito tempo, mas se sobrevivermos até então, teremos que achar outra casa. Os passos que damos agora, pequenos que são, estão forjando o nosso destino de colonizadores da galáxia. A menos que os marcianos tenham passado à nossa frente e estejam já longe daqui, deixando para trás um planeta em ruínas, que exploramos hoje com tanta avidez.

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