domingo, 6 de janeiro de 2008

Celebrando a vida


A humanidade deve trabalhar para as futuras gerações


Talvez todos os anos sejam turbulentos. Mas tenho cá pra mim que 2007 foi um dos mais atribulados dos últimos tempos, tanto em coisas boas quanto em coisas ruins. Das ruins imagino que o leitor esteja já farto de ouvir e ver na TV e jornais, terminando com o trágico assassinato da ex-primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto. Das boas é sempre mais difícil, pois notícia boa não parece vender tanto quanto notícia ruim. Mas acho que, entre tanta desgraça, alguns sinais de esperança também apareceram no ano passado. Muitos deles, fico feliz em afirmar, vieram do trabalho de cientistas.

O Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao ex-vice-presidente norte-americano Al Gore e aos cientistas (incluindo vários brasileiros) que trabalham no Painel Internacional Sobre Mudança Climática, o IPCC. A mobilização com relação à questão do aquecimento global jamais foi tão forte. Até mesmo o governo norte-americano, sempre o maior obstáculo com relação à imposição de controles sobre a emissão de gases, começou a dar uma balançada. Com as eleições presidenciais ocorrendo em novembro deste ano, imagino que o futuro governo, mesmo se republicano (o que parece pouco provável no momento) terá uma política ambiental bem mais aberta ao controle de emissões de poluentes, ao financiamento de pesquisa de fontes de energia independentes de combustíveis fósseis e à proteção da fauna e da flora mundial.

Não há dúvida de que existe muito trabalho pela frente. Mas a conscientização de que o aquecimento global é uma realidade e de que o futuro do nosso planeta está em nossas mãos é hoje tema de conversa em bares e jantares de família, nas escolas e nos centros de pesquisa do mundo inteiro.

Pela primeira vez na história, a humanidade deve trabalhar em conjunto para garantir a qualidade de vida das gerações futuras. A Guerra Fria, por exemplo, também foi uma ameaça global, mas a discussão não se dava em convenções com mais de uma centena de países, com representantes de Papua-Nova Guiné exercendo pressão sobre os delegados norte-americanos.

Na genética, duas grandes descobertas. A primeira, que é possível obter células-tronco pluripotentes a partir de células adultas, o que acaba com a discussão ética que vinha atravancando a pesquisa nessa área. Os cientistas que usam células-tronco para tentar obter curas para males que afligem milhões de pessoas não serão mais chamados de assassinos por grupos religiosos conservadores e poderão sair dos tribunais e voltar aos laboratórios.

Claro, sempre existirão questões éticas ligadas à pesquisa genética, ao que pode ou deve ser feito nessa área. Por exemplo, a clonagem de seres humanos é vista pela maioria esmagadora dos cientistas como algo tanto inútil sob o ponto de vista médico quanto eticamente indefensável.

Outra descoberta fenomenal, que relatei na última coluna de 2007, foi a dos vírus fósseis que impregnaram nosso genoma e que podem revolucionar o combate à muitas doenças hoje incuráveis, como é o caso da Aids.

Em 2008, entra em funcionamento na Suíça a maior máquina já construída, o acelerador gigante de partículas que promete responder a várias questões fundamentais da física, entre elas a origem da massa e a possibilidade de que as forças da natureza sejam manifestações de uma só, o campo unificado. A missão Kepler, da Nasa, buscará outros planetas como a Terra, na esperança de que a vida não seja um privilégio nosso.

Sendo um inveterado otimista, vejo este ano como o início de uma nova era em que a vida, acima de tudo, será respeitada e celebrada.

Um comentário: