segunda-feira, 3 de março de 2008

Marcelo Gleiser explica as células-tronco e mostra os seus benefícios

da Folha Online

A discussão sobre as células-tronco é interminável. Cientistas são a favor desta técnica enquanto religiosos afirmam que extrair células-tronco de embriões equivale a assasiná-los. No dia 05 de março de 2008, o Supremo Tribunal Federal inicia uma votação sobre as pesquisas a cerca do tema.

Divulgação
Volume traz reflexões sobre o homem, o tempo e o espaço Marcelo Gleiser
Volume traz reflexões sobre o homem, o tempo e o espaço

No livro "Micro Macro 2", da Publifolha, o físico Marcelo Gleiser aborda as discussões entre a Igreja e os cientistas sobre questões relacionadas ao uso de células-tronco, além de explicar com clareza quais os propósitos desta prática.

Leia abaixo trecho do livro sobre as células-tronco.

*

CÉLULAS-TRONCO E A MEDICINA DO FUTURO

"Galileu e Copérnico estavam corretos: a Terra é mesmo redonda e gira em torno do Sol. Eu acredito que o intelecto que nos foi dado por Deus deve ser usado para diferenciar entre o dogmatismo que nos aprisiona e a prática ética da ciência, que é o que devemos apoiar aqui hoje." Estas foram as palavras de um deputado do partido republicano norte-americano, Christopher Shays, durante as discussões que precederam um voto do Congresso decidindo se o governo federal deve ou não financiar a pesquisa envolvendo células-tronco retiradas de embriões humanos. Para a surpresa de muitos, incluindo a liderança conservadora do partido republicano e do presidente Bush, a medida foi aprovada por 238 votos a favor e 194 contra. O Senado já mostrou o seu apoio. Bush, por sua vez, ameaça usar o seu poder de veto.

A política científica norte-americana está passando por uma redefinição baseada nas políticas evangélicas de Bush e seu gabinete. As verbas da National Science Foundation foram reduzidas, as da NASA redirecionadas em grande parte para programas de pequeno valor científico e grande valor propagandístico, como a exploração humana de Marte, as políticas de preservação meio-ambientais do governo Clinton estão sendo desmanteladas, como na recente liberação de um refúgio natural no Alasca para a exploração de petróleo. O caso das células-tronco é importante por ser um claro exemplo de como decisões políticas que misturam ciência com dogmatismo religioso podem prejudicar não só os cientistas mas a população como um todo.

As células-tronco são extraídas de embriões humanos com aproximadamente 200 células. O interesse nelas vem de sua capacidade de gerar células de órgãos e tecidos os mais diversos, como se fossem verdadeiras fábricas. O potencial de terapias usando células-tronco é enorme, definindo toda uma nova área da medicina, tratando doenças que causam a degeneração de tecidos com a reposição de células saudáveis. Doença de Parkinson, diabetes, traumas na medula espinhal, são algumas das várias doenças, afligindo centenas de milhões de pessoas no mundo, que podem vir a ser tratadas.

A oposição afirma que retirar as células-tronco dos embriões equivale a assassiná-los, que a ciência não deve destruir vidas. Esta retórica é típica de uma agenda religiosa radical. Na prática, a situação é muito diferente. A proposta dos cientistas é de utilizar os embriões descartados pelas clínicas de fertilização artificial. Caso não fossem utilizados, seriam congelados indefinidamente ou simplesmente destruídos. Portanto, o que se propõe é justamente o uso dos embriões para salvar vidas, evitando assim que sejam destruídos inutilmente. Seguindo a posição de Bush, clínicas de fertilidade deveriam ser também proibidas, já que inúmeros óvulos são inseminados e embriões gerados para que apenas um ou dois venham a formar um feto.

Enquanto isso, cientistas coreanos anunciaram esta semana que são capazes de desenvolver linhas de células-tronco a partir de amostras vindas de doentes com uma eficiência que só se acreditava possível daqui há décadas. As células-tronco são obtidas de embriões clonados com as células dos pacientes, usando técnica semelhante à clonagem de animais. O objetivo não é clonar humanos, mas retirar as células-tronco dos embriões para tratar os pacientes. O papel da ciência é aliviar o sofrimento material do homem. É inútil tentar bloquear o seu progresso com uma agenda religiosa retrógrada. O que não for feito nos EUA ou no Brasil será feito em outro lugar.

Um comentário:

  1. Sem benefícios: “Pesquisa com células embrionárias fracassou”
    http://www.andoc.es/
    Foi declarado pela Dra. Natalia López Moratalla, catedrática de Biologia Molecular e Presidente da Associação Espanhola de Bioética e Ética Médica, que «as células-tronco embrionárias fracassaram; a esperança para os enfermos está nas células adultas» e «hoje a pesquisa derivou decididamente para o emprego das células-tronco 'adultas', que são extraídas do próprio organismo e que já estão dando resultados na cura de doentes».

    ResponderExcluir