quinta-feira, 19 de março de 1998

Em busca da vida e de novos mundos

MARCELO GLEISER
especial para a Folha

Existem poucas questões que exercem tanto fascínio quanto a possibilidade de vida extraterrestre. A idéia de que nosso planeta, um ínfimo grão na vastidão do cosmos, seja o único com condições propícias para a vida é extremamente implausível.


Para um físico ou um astrônomo, basta pensar em termos estatísticos. A nossa galáxia, a Via Láctea, contém centenas de bilhões de estrelas. Um número enorme delas deve ter planetas à sua volta, tal como o Sol com seus nove planetas. Destes, uma grande parte estará perto o suficiente de sua estrela para não serem muito frios e longe o bastante para não serem quentes demais. Muitos deles terão atmosfera e água cobrindo parte de sua superfície. Finalmente, uma fração menor deles terá desenvolvido acidentalmente macromoléculas orgânicas capazes de se reproduzir e de se alimentar. Esses planetas exibirão o fenômeno vida.

Como existem centenas de bilhões de galáxias no Universo, é praticamente certo que vários milhões (ou bilhões?) de planetas serão nossos companheiros.

Para muitos biólogos, as coisas não são tão simples assim. A matéria viva é extremamente complexa, resultado de combinações de repetição muito improvável. Segundo esse ponto de vista, a vida é um acidente raro, cuja repetição em outros lugares do Universo não é nada óbvia.
Não bastam apenas os ingredientes -as moléculas orgânicas, água, uma atmosfera propícia- e tempo, no nosso caso cerca de 5 bilhões de anos, para que a vida simplesmente apareça. O fenômeno vida na Terra é uma singularidade estatística, e não falamos sobre seres vivos complicados, como os que vemos ao nosso redor. Aí a coisa fica mais difícil de ser entendida.
Para entender como a vida apareceu em nosso planeta e como ela existe em outros, temos de encontrar mundos onde essa singularidade estatística possa, talvez, reaparecer.

Os planetas não têm luz própria, mas refletem a luz da estrela em torno da qual eles giram . Achar planetas em torno de estrelas distantes com um telescópio é praticamente impossível. Mas eles são encontrados de forma indireta, baseada em sua ação gravitacional sobre a estrela. Segundo a terceira lei de movimento de Isaac Newton, a cada ação corresponde uma reação de igual intensidade e em sentido oposto. Assim, a estrela atrai o planeta e este também a atrai. Para planetas muito maciços, como Júpiter no caso do Sol, a estrela exibe um pequeno movimento circular em torno do "centro de gravidade" do sistema estrela-planeta.

É fácil entender o que é o centro de gravidade de um sistema. Imagine uma coleção de halteres construídos com massas iguais ou diferentes em suas extremidades. O ponto de equilíbrio de um deles, se as duas massas forem exatamente iguais, é o centro da haste. Se você balanceá-lo sobre uma haste vertical e girá-lo, suas extremidades descreverão "órbitas" circulares idênticas. Mas se uma das extremidades for muito mais maciça que a outra, o centro de gravidade não será mais exatamente no centro, mas perto da extremidade de maior massa. Quando esse sistema girar em torno de seu ponto de equilíbrio, a massa maior (a estrela) descreverá um movimento circular de raio pequeno, mas não nulo. Esse movimento causa pequenas variações na luz proveniente da estrela, que são medidas com grande precisão.

Até o momento, oito planetas foram encontrados usando-se esse método. Eles giram em torno de estrelas localizadas entre 46 anos-luz e 90 anos-luz do Sol e suas massas variam entre 0,45 e 11,6 da massa de Júpiter. A maioria desses planetas está muito perto de sua estrela (mais perto do que Mercúrio se encontra do Sol) e são extremamente quentes, caracterizando sistemas solares muito diferentes do nosso. Até o momento, nós ainda somos uma singularidade estatística. Mas isso é só uma questão de tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário