domingo, 19 de julho de 1998

A seleção natural e a influência em nosso comportamento

MARCELO GLEISER
especial para a Folha

Um dos grandes desafios da psicologia moderna é uma explicação generalizada de certas características do comportamento humano. Por exemplo, preferências sexuais. Em um estudo realizado nos EUA com estudantes universitários, 50% dos homens e 50% das mulheres aceitariam um convite para sair com uma pessoa desconhecida do sexo oposto. Mas, enquanto nenhuma das mulheres aceitaria imediatamente ir para a cama com o desconhecido, 75% dos homens iriam de olhos fechados. Por que essa diferença tão óbvia de comportamento?

Durante a última década, evolucionistas, anteriormente mais preocupados com os aspectos biológicos do processo de seleção natural, resolveram aplicar algumas de suas técnicas para tentar compreender certas tendências sociais.

No século 19, o inglês Charles Darwin propôs que as variações entre as espécies no mundo animal e vegetal são consequência de um processo contínuo de adaptação, baseado em mutações genéticas controladas pela seleção natural. Um animal de pescoço curto, cuja dieta é baseada em folhas, não sobreviverá em uma floresta de árvores altas. Mas, se por acaso esse animal tiver um descendente de pescoço longo, esse descendente terá todas as folhas à sua disposição.

A idéia básica da teoria de Darwin é que essa mutação de um animal de pescoço curto em um de pescoço longo se dá lenta e aleatoriamente em nível genético. A seleção natural apenas dita quais as mutações que ajudam (ou não) na sobrevivência de uma dada espécie. Aquelas que ajudam a prole a sobreviver em um ambiente austero são "selecionadas" e passam a ser parte de seu código genético, sendo transmitidas às futuras gerações.

Segundo a teoria da evolução, a função do sexo é a transmissão de genes, que é fundamental para a sobrevivência da espécie. Sem uma prole, a espécie não sobrevive. E aqui, as diferenças físicas entre homens e mulheres são fundamentais: enquanto um homem com 50 esposas pode gerar uma prole enorme, uma mulher com 50 maridos estará sempre limitada pelo período de gestação. Portanto, se, para um homem, sob o ponto de vista de propagação de seus genes para proles futuras, "quanto mais, melhor", para uma mulher, a seleção de um parceiro deve ser feita com muita cautela. Ele deve ser dono de genes de "boa qualidade", ou seja, genes que irão garantir a sobrevivência de sua prole.

Há 200 mil anos isso significava o mais forte guerreiro, o melhor caçador, o mais poderoso líder. Claro, as condições sociais que definem a escolha de um parceiro mudaram completamente, mas não as limitações físicas. Segundo os evolucionistas sociais, os genes que determinaram a sobrevivência de nossa espécie ainda ditam nosso comportamento e nossas escolhas sexuais, mesmo que sua atuação seja um pouco mais discreta, devido a um sofisticado código moral, baseado na religião.

Aparentemente, a atuação desse processo de seleção de parceiros atua até mesmo de forma inconsciente. Homens e mulheres preferem parceiros "simétricos". Um corpo bem-proporcionado é sinal de que os genes que atuaram em sua construção são robustos contra agentes patogênicos. Por exemplo, vários testes determinaram que homens preferem mulheres com quadris aproximadamente 70% maiores do que a cintura. Modelos famosos, como a magérrima Twiggy, ou as figuras gordotas do pintor Rubens, satisfazem a essa regra. As estatuetas da "Vênus do Paleolítico", de 28 mil anos, também. Por que isso? Quadris e cintura são proporcionados por hormônios sexuais, em particular o estrogênio. E a quantidade ideal de estrogênio para fertilidade máxima é também a que determina a razão de 70% entre cintura e quadril. Alguns críticos acham essas idéias uma simplificação do comportamento humano. Mas será que nós podemos ignorar nosso lado "animal"?

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