domingo, 23 de maio de 1999

Um futuro movido a hidrogênio



Quais serão nossas fontes de energia no futuro? A história da civilização pode ser contada como a busca por combustíveis capazes de gerar a energia necessária para nos aquecer no inverno, cozinhar alimentos e, mais recentemente, alimentar nossa gigantesca máquina tecnológica.
O padrão básico é a adoção contínua de combustíveis capazes de gerar cada vez mais energia com um custo decrescente de extração.

Após a queima de muita madeira e de carvão vegetal e mineral (que, como sabemos, ainda ocorre), nós entramos na era dos derivados do petróleo e do gás natural, todos esses combustíveis fósseis. Esses combustíveis são encontrados em depósitos subterrâneos, formados durante milhões de anos, a partir de restos animais e vegetais. Cobertos por camadas de minerais, esses depósitos são submetidos a pressões crescentes, liberando água e substâncias voláteis, enquanto o hidrogênio fixa-se ao carbono, formando hidrocarbonos, e assim por diante. O problema é que essas fontes não só são altamente poluentes como também não-renováveis; o petróleo e o gás natural vão acabar (em algumas décadas) e novas alternativas devem ser criadas.

A energia nuclear, uma grande promessa para o futuro devido a sua eficiência, torna-se cada vez mais inviável devido aos possíveis riscos com reatores, como o acidente que ocorreu em Chernobil, Ucrânia, em 1986, quando um dos quatro reatores explodiu, matando 31 pessoas imediatamente, hospitalizando outras 500 e causando a evacuação de uma área de 30 km de raio em torno da usina. A contaminação desse único acidente foi tal que países do norte europeu tiveram de proteger suas reservas alimentares e a incidência de certos tipos de câncer na região é, ainda hoje, quatro vezes maior que no resto da Ucrânia. Fora o risco de acidentes, outro problema é a disposição do lixo radioativo, produzido nos reatores.

Sem dúvida, precauções podem ser tomadas para que o uso da energia nuclear seja seguro; em 1993, 430 usinas nucleares estavam em operação em 27 países, produzindo 17% da energia mundial, números que, sem dúvida, são maiores hoje. Mas há o risco de acidentes, e a quantidade de minerais radiativos usados na produção de energia por fissão (quebra de núcleos atômicos pesados em núcleos mais leves), como o urânio 235 ou o plutônio 239, é também limitada.

Uma outra alternativa, a fusão nuclear, em que núcleos leves (como isótopos de hidrogênio) são fundidos em núcleos mais pesados (como o hélio), liberando uma quantidade fenomenal de energia, não foi ainda tornada economicamente viável; a quantidade de energia gerada é muito menor do que a energia usada para promover a fusão nuclear. É uma pena, pois o combustível, o hidrogênio, é o elemento mais abundante no Universo. A propósito, as estrelas geram sua energia pela fusão nuclear. Basicamente, reatores de fusão na Terra devem reproduzir as condições de temperatura e pressão no interior de uma estrela, um feito tecnológico nada trivial.
Outras possibilidades incluem o uso do álcool, como no programa desenvolvido no Brasil, a energia eólia ou as marés. Mas a fonte de energia mais promissora vem do hidrogênio em forma de gás. Seu uso não seria como em motores a explosão, mas sim na alimentação para mover carros, fábricas etc. Um carro movido a hidrogênio - batizado de "hipercarro" pelo americano Amory Lovins, um proponente do hidrogênio como combustível - produz apenas vapor d'água como "poluição" e não faz barulho.

O hidrogênio seria produzido em refinarias -sem a poluição usual- ou no porão de sua casa, a partir de água, ou metano (CH4). A energia necessária para a produção local de hidrogênio viria de células solares em seu telhado ou na vizinhança. As possibilidades e os ganhos são imensos; não só para o futuro da nossa civilização, mas para o de nosso pobre e finito planeta.

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