domingo, 15 de julho de 2001

Dualismo solar

O Sol é a nossa fonte de vida: precisamos do seu calor, da sua luz, da sua gravidade. Mas, como sabemos muito bem,qualquer coisa em exagero faz mal. Muito calor, muita luz, muita gravidade e poderemos dizer adeus à vida aqui na Terra. Apesar de seu aspecto pacato e confiável, o Sol é uma gigantesca usina de fusão nuclear.

A temperatura em sua superfície é de 6.000C e, em seu interior, ela pode chegar a 15.000.000C. A quantidade de energia radiativa gerada pelo Sol por segundo é de 4 X 1026 (4 seguido de 26 zeros) Watts, equivalente a 100 bilhões de bombas nucleares de um megaton cada. Compare essa luminosidade com a de sua lâmpada na sala de jantar, de talvez 100 Watts. É claro que uma existência com tanta dramaticidade não pode ser muito pacata ou estável. O Sol muda com o tempo, e nós iremos sofrer as consequências dessas mudanças. A menos que possamos nos proteger.

Como qualquer estrela, o Sol tem uma história, com princípio, meio e fim. No momento, estamos no meio da história: o Sol, com aproximadamente 5 bilhões de anos, está na metade de sua vida. Esse período relativamente estável, onde a estrela gera energia fundindo núcleos de hidrogênio em hélio, é conhecido como sequência principal. Em 5 bilhões de anos, o Sol esgotará o hidrogênio em sua região central e sairá da sequência principal. Infelizmente, bem antes disso, variações em sua luminosidade - a quantidade total de energia gerada pelo Sol por segundo- terão seríssimas consequências para a preservação da vida na Terra.Desde a sua formação, há cerca de 5 bilhões de anos, a luminosidade do Sol aumentou entre 30% e 40%.

No próximo bilhão de anos, ela aumentará mais 10%, o suficiente para destruir a vida na superfície da Terra. Sem dúvida, 1 bilhão de anos é um intervalo enorme de tempo, especialmente se nos lembrarmos que os primeiros hominídeos apareceram há menos de 10 milhões de anos. Mas esta situação nos faz refletir sobre a preservação da vida na Terra, na preservação de tudo que nós construímos no intervalo de apenas 10 mil anos, que marca o início da civilização.

Supondo que nós seremos sábios o suficiente para sobreviver à nós mesmos, uma enorme suposição no momento, o que os nossos descendentes poderiam fazer para escapar da ira solar?Uma possibilidade é nos afastarmos do Sol. Se o astro começar a nos cozinhar, devemos aumentar a nossa distância orbital. Para tal, podemos usar um efeito já bastante conhecido das sondas espaciais, a catapulta gravitacional. A idéia é semelhante ao que uma criança faz em um balanço, mexendo as pernas em um movimento de vaivém, sempre no ponto mais longe da vertical.

Esse movimento impulsiona o balanço, fazendo com que ele ganhe altura. Uma sonda espacial passando perto de um planeta também pode receber uma espécie de empurrão, causado pela gravidade do planeta. Com isso, a sonda é acelerada sem ter de gastar combustível, podendo alcançar distâncias maiores.Segundo a Terceira Lei de Movimento de Newton, a cada ação corresponde uma reação. Portanto, o planeta também ganha um empurrão igual ao da sonda (no sentido contrário).

Só que, como a massa do planeta é muito maior do que a da sonda, o empurrão é desprezível.Imagine se conseguíssemos forçar um asteróide de aproximadamente cem quilômetros de diâmetro e com uma massa em torno de 10 mil trilhões de toneladas a se aproximar da Terra. A idéia seria fazer com que o asteróide passasse perto o suficiente para nos dar um empurrão em direção oposta ao Sol, alongando a nossa órbita. Para tal, a órbita do asteróide deve ser programada de modo que ele voe em direção a Júpiter ou Saturno após passar pela Terra.

Ao chegar ao extremo de sua órbita, o asteróide é relançado em direção à Terra, com a ajuda da gravidade de Júpiter e de turbinas instaladas em sua superfície controladas por controle remoto aqui da Terra. Um grupo de astrônomos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz calculou que, se o asteróide passar por aqui a cada 6.000 anos, seremos capazes de nos afastar o suficiente do Sol para preservarmos a vida na Terra até o fim da sequência principal, isto é, por mais 5 bilhões de anos. Parece ficção científica, mas não é. No futuro, será uma questão de vida ou morte.

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