domingo, 22 de julho de 2001

O aquecimento global

O aquecimento global é um fenômeno concreto e poderá ter consequências extremamente sérias, tanto para a sociedade quanto para o equilíbrio ecológico do planeta, até o final deste século. Essa foi a conclusão de relatório publicado no início de junho pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. O relatório foi encomendado pela administração do presidente George W. Bush, cujas políticas ambientais vêm sofrendo fortes críticas no mundo inteiro. E com razão. Bush e seus assessores reverteram várias das políticas implementadas pelo governo de Bill Clinton e Al Gore, incluindo a rejeição do Protocolo de Kyoto, que visa limitar a emissão de gases produzidos pela queima de combustíveis fósseis, principalmente o gás carbônico, CO2. Considerando que os EUA emitem em torno de 25% do CO2 lançado na atmosfera, a decisão é no mínimo desastrosa e irresponsável. Como justificativa, Bush defende a qualidade de vida dos americanos: "Não posso comprometer minha população, especialmente durante uma crise energética e econômica". Infelizmente, quem paga o pato (e a conta) é o resto do mundo.

Bush faz parte de uma tradição política antiquada, definida pelos interesses dos grandes produtores de petróleo de seu Estado, o Texas. Ele se recusa a enxergar o óbvio: a repercussão global de decisões políticas locais, especialmente no que tange ao balanço ecológico do planeta. Segundo a maioria dos cientistas que pesquisam o impacto ambiental da poluição, os últimos 20 anos foram os mais quentes dos dois últimos séculos, e essa tendência só tende a continuar.
A atmosfera está se transformando, tornando-se cada vez mais impermeável à irradiação de calor de baixo para cima, ou seja, da superfície para o espaço. O efeito é um pouco como um carro estacionado na praia com as janelas fechadas: o calor solar entra, mas não sai por completo. E, tal como em um carro, mesmo após as portas serem abertas, a temperatura não cai imediatamente. A reversão do aquecimento global, supondo que, de fato, novas políticas de controle da emissão de gases sejam implementadas em breve por todas as nações industrializadas, levaria décadas.

O aquecimento será pior nas altas latitudes e nas regiões áridas. E o gás carbônico, apesar de ser o principal responsável, não é o único. Outros gases, como metano, ozônio (aquela nebulosidade amarelada que vemos pairando sobre as cidades grandes), óxido nitroso (responsável pela chuva ácida) e os clorofluorocarbonos também contribuem. Por que os cientistas não conseguem convencer os líderes políticos da seriedade da situação? A resposta está relacionada, em parte, com a dificuldade de provar em definitivo o papel dos gases em suspensão na atmosfera no aumento gradativo das temperaturas globais. A temperatura média da Terra oscila devido a vários fatores, incluindo a atividade solar. Os dados não mentem: a temperatura está, de fato, aumentando. Mas concluir que esse aumento se deve exclusivamente à poluição industrial é difícil e deixa espaço para interpretações contraditórias.

São essas interpretações que servem aos grupos de interesse dos industriais e dos produtores de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), que não têm a menor intenção de arcar com as despesas envolvidas no controle da emissão de gases. A economia vai de encontro à consciência ambiental e à responsabilidade global dos líderes políticos e dos grandes industriais.
Como costumo afirmar, nosso planeta é finito: ele tem uma quantidade finita de matéria-prima e uma capacidade limitada de reciclar os dejetos que abandonamos em sua atmosfera, superfície e em seus oceanos. Seria errôneo acreditar que a situação atual não representa um problema para nós e para as gerações futuras. Infelizmente, como vimos com a nossa própria crise energética, líderes políticos tendem a responder apenas quando a situação torna-se insustentável. E, em geral, quem sofre é a população, que precisa fazer sacrifícios. Mas o aquecimento global não é equivalente a um "apagão". As consequências são mais sérias, desde a erosão do litoral e a consequente destruição das comunidades costeiras, devido ao aumento do nível do mar, até a proliferação de novas pestes e doenças infecciosas. Planejar o futuro é condição fundamental para a preservação da nossa qualidade de vida. E o futuro já chegou.

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