domingo, 23 de março de 2003

Fogo e gelo

.
O grande poeta norte-americano Robert Frost escreveu, no início do século 20, um poema se perguntando sobre o provável fim do mundo: "Alguns dizem que o mundo terminará em fogo / Outros dizem em gelo". Aparentemente, o fim será uma combinação de ambos.

Hoje, os cientistas são os profetas do apocalipse. Novos resultados, ainda um tanto controversos, argumentam que mesmo em planetas propícios à vida, como a Terra, ela só é possível por não mais do que 5 bilhões de anos. Formas de vida complexa, por não mais do que 1,5 bilhão de anos. Ou seja, em algumas centenas de milhões de anos, não poderemos sobreviver aqui. Nossos dias, ao menos aqui na Terra, estão contados.

Toda estrela tem um ciclo de vida cuja duração depende de sua massa: quanto mais maciça a estrela, menor a sua vida. O Sol, sendo uma estrela modesta, viverá bastante, em torno de 10 bilhões de anos. Hoje, tem aproximadamente 5 bilhões, ou seja, está em sua meia-idade.
A produção de energia de uma estrela não ocorre a uma taxa constante, mas varia com o tempo. Pequenas variações na produção de energia (luminosidade) do Sol têm grande impacto na Terra. Em 1 bilhão de anos, a luminosidade será tamanha (10% acima da atual) que os oceanos entrarão em ebulição. Das duas, uma: ou eles serão vaporizados para o espaço (caso o aumento de temperatura seja brusco), ou para a atmosfera, criando um efeito estufa acelerado.

No primeiro caso, a temperatura estaciona em torno de 100C, e a escassez de água será total. No segundo, a temperatura na superfície crescerá tanto que apenas seres unicelulares poderão sobreviver. Em 3 bilhões de anos, nem elas. O futuro da vida na Terra é a imagem inversa de seu passado: segundo alguns pesquisadores, já passamos do auge e estamos em regressão. Cada vez mais formas de vida desaparecerão, até que sobrem apenas as mais simples, as bactérias, que foram também as primeiras.

Antes do fogo virá o gelo. Idades do Gelo, como as que ocorreram no passado, vão ocorrer novamente (do jeito que anda o inverno nos EUA, a impressão é que já estamos em uma). Possivelmente, poderemos sobreviver ao frio, usando várias fontes de energia, incluindo a nuclear e as células de combustível, que convertem hidrogênio e oxigênio em água, liberando energia. Quem sabe será até possível esquiar na serra do Mar?

Essas previsões, embora assustadoras, não têm o intuito de deprimir as pessoas. A lição aqui é entender o quanto é precioso o nosso planeta aquoso e quão curto o intervalo em que podemos viver nele. Estamos praticamente no meio do período em que a existência de formas complexas de vida é possível.

Duas coisas me parecem claras. A primeira, que devemos fazer todo o possível para preservar nosso frágil planeta, de modo a não acelerar ainda mais a sua ruína. Aqueles que acham que tudo isso é besteira, que existem outras questões mais urgentes como a fome, o analfabetismo e guerras inúteis, estão confundindo as bolas. Essas questões são, sem dúvida, cruciais e merecem toda a nossa atenção. Mas uma coisa não exclui a outra. Devemos também pensar no futuro mais distante, na preservação da nossa espécie. Falo aqui da destruição completa da raça humana e da vida na Terra.

O que me leva ao segundo ponto. Em outras colunas, escrevi sobre a possibilidade de colonizarmos a galáxia da mesma forma que colonizamos a Terra. Como a vida aqui se tornará impossível, essa será a única alternativa. Daí a enorme importância do programa espacial.

A China diz que quer ir à Lua. Ótimo, pois ela não é patrimônio norte-americano. Mas temos de ir além, muito além. Temos de achar uma estrela relativamente jovem com outro planeta aquoso girando à sua volta, outra jóia de safira flutuando em algum ponto da galáxia. Mesmo que, a essa altura, todos nós sejamos poeira cósmica, nossos descendentes sobreviverão e poderão contar histórias de um passado distante, quando a humanidade ainda estava engatinhando às escuras pela sua vizinhança cósmica, tentando encontrar o seu destino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário