domingo, 26 de junho de 2005

Terras à vista

"Às vezes, penso que existem inúmeras outras civilizações espalhadas pelo Universo. Às vezes, penso que estamos sozinhos. Ambas possibilidades são assustadoras e fascinantes." Assim escreveu o arquiteto e filósofo americano Buckminster Fuller, ao ponderar se somos ou não uma anomalia cósmica. Temos o enorme privilégio de viver em uma época em que não precisamos relegar a discussão a especulações metafísicas ou crenças religiosas; podemos medir, observar, procurar por vida e por vida inteligente em outros mundos, de certa forma repetindo o que fizemos aqui na Terra, buscando por outras terras a serem habitadas por nós ou já habitadas por outros. Sabe-se lá o que não será encontrado, o desconhecido alimentando sonhos e fantasias às vezes terríveis, às vezes maravilhosas.


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Li que a descoberta de vida fora da Terra seria a maior notícia de todos os tempos. Nem é necessário que seja inteligente
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Li uma vez que a descoberta de vida extraterrestre seria a maior notícia de todos os tempos. E veja que nem é necessário que seja inteligente. Basta que fosse uma celulazinha qualquer, com uma genética diferente, aminoácidos que não vemos por aqui. As conseqüências seriam óbvias; se a vida existe neste lugar fora da Terra, deverá existir em vários outros, não sendo portanto um fenômeno exclusivamente terrestre. Considerando que existem cerca de 200 bilhões de estrelas em nossa galáxia e que cada uma, ou ao menos a maioria, tem a sua corte de planetas, as possibilidades são infinitas. Mais ainda se considerarmos que a Via Láctea é apenas uma dentre centenas de bilhões de outras galáxias espalhadas pelo cosmo...

Tomando uma posição conservadora com relação à vida, isto é, que ela é baseada em carbono, que precisa de água e temperaturas razoáveis, certamente limita as escolhas. O primeiro passo na busca é encontrar outras Terras, planetas rochosos que orbitem suas estrelas dentro do que é chamado de "região habitável", nem muito perto, nem muito longe delas. Astrônomos vêm caçando planetas extra-solares há mais de dez anos, com enorme sucesso. Até o momento, encontraram em torno de 156.

O processo é difícil, a determinação não é por observação direta, ao menos por enquanto. São medidas as variações que a presença dos planetas causam no movimento da estrela e, conseqüentemente, na luz que emite. Mês passado, foi encontrado o primeiro planeta extra-solar comparável à Terra, provavelmente rochoso, girando em torno de uma estrela a 15 anos-luz do Sol, Gliese 876. A descoberta causou um certo alívio, pois até o momento os planetas descobertos eram todos mais parecidos com Júpiter, gasosos, gigantes. (Isso pode ser conseqüência do método usado, mais sensível aos planetas mais maciços, que causam perturbações maiores na estrela.)

O próximo passo seria estudar a composição química da atmosfera do planeta e de outras Terras que por ventura sejam encontradas. Para isso não é necessário ir até lá com um vasilhame; "basta" analisar o espectro da luz refletida pelo planeta, procurar por traços de gás carbônico, oxigênio, ozônio e outros gases ligados à vida. Isso não é fácil, mas não é impossível. Em 1910, ir à Lua era uma fantasia, uma piada.

E vida inteligente? O assunto merece outra coluna. Seria a única notícia mais importante do que a descoberta de vida extraterrestre; que não somos os únicos seres pensantes no cosmo, capazes de desenvolver tecnologias. E se formos? Talvez não saberemos jamais, o Universo sendo tão grande, as distâncias tão vastas. No meio tempo, a busca continua. Como disse Carl Sagan, a ausência de evidência não é evidência de ausência.

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