sexta-feira, 12 de março de 2010

Universo deselegante

 Livro do cientista Marcelo Gleiser diz que a física foi iludida pela estética da simetria e tomou o caminho errado

RAFAEL GARCIA

A tentativa da física de explicar toda a natureza com um único conjunto de regras é a encarnação científica do monoteísmo. Essa é a tese que o físico Marcelo Gleiser -professor do Dartmouth College, de New Hampshire (EUA), e colunista da Folha- defende agora.

Em seu novo livro, "A Criação Imperfeita" (Ed. Record), ele explica por que acredita que fenômenos físicos em desequilíbrio revelam mais coisas sobre a origem do Universo do que as leis simétricas que sábios constroem para descrever o mundo desde a Grécia Antiga. Invertendo a máxima do poeta Vinicius de Moraes, Gleiser diz que "beleza não é fundamental" e que a elegante matemática que vem sendo usada para unificar a física não consegue ser mais do que metafísica.

O principal ataque do brasileiro é contra as teorias que tentam unir a relatividade de Einstein com a física quântica. Essa empreitada, considerada hoje o Santo Graal da ciência, uniria todas as forças da natureza (gravidade, eletromagnetismo e as forças nucleares) numa única explicação. O esforço para tal reúne desde físicos de partículas até cosmólogos.

Contudo, a chamada teoria das supercordas -a principal candidata ao cálice sagrado- existe há décadas sem conseguir propor um experimento que possa testá-la. No livro, Gleiser explica por que acha que os físicos estão apostando fichas demais numa linha de pesquisa ao assumir de antemão que há uma essência única subjacente a toda a realidade.

A criatividade na ciência, é claro, depende de uma certa liberdade de especulação, mas Gleiser nega estar tolhendo isso. Seu argumento é mais uma espécie de reverência à criatividade da natureza. Com seu talento narrativo, ele conta como gregos, renascentistas e físicos quânticos foram driblados pela realidade, uma vez após outra, sempre que acreditavam estar perto da "teoria final" capaz de explicar a essência de tudo.

Um comentário:

  1. É certo que unificar as quatro forças definidas pelo "Modelo Padrão" (forças nuclear forte, nuclear fraca, gravidade e eletromagnetismo) não é nada fácil, e a Teoria das Supercordas não fornece pistas satisfatórias para tal empreitada.

    Acredito que o argumento de Gleiser de que os modelos matemáticos produzidos estão mais para metafísica do que para física.

    "Unificar" pressupõe gerar uma teoria que explique toda a Física, algo como "Deus", que a filosofia compreende através da metafísica (aquilo que está além do homem ou da natureza).

    Post interessante. Desejo adquirir o livro.

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    Abraços!

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