domingo, 29 de agosto de 2004

De volta!

Caros leitores, desculpem o alarme falso. Mas, se estou de volta, isso se deve a vocês. Aos que perderam a "Micro/Macro" da semana passada, um resumo: a reestruturação do jornal levou a uma série de cortes, todos, imagino, muito difíceis para a administração. Um deles havia sido "Micro/Macro". Domingo passado havia me despedido, escrevendo a "última" coluna.

De lá para cá, algo fantástico ocorreu. Não sei exatamente quantos, mas muitos leitores escreveram à Folha e para mim mesmo reclamando. Depois que souberam que a escolha não havia sido minha, pediram que a coluna voltasse. E assim foi feito. Parabéns a vocês, leitores, que me apoiaram e a quem agradeço de coração. Parabéns também à Folha, por ter mantido este raríssimo espaço na imprensa brasileira para a ciência e suas repercussões sociais e culturais, e por ter mostrado enorme respeito por seus leitores.

Um dos temas abordados na "última" "Micro/Macro" foi a existência de planetas extra-solares, ou seja, planetas que circulam em torno de outras estrelas que não o Sol. Escrevi que "mais de cem planetas extra-solares foram descobertos girando em torno de estrelas vizinhas. É bem verdade que eles não têm muito a ver com a Terra, sendo mais parecidos com Júpiter".

A importância disso é saber se somos ou não especiais: se outros sistemas solares são muito diferentes do nosso, só com planetas gigantes e gasosos como Júpiter, poderíamos concluir que nossa existência, ou ao menos a de planetas semelhantes à Terra, é mesmo uma raridade cósmica. Enquanto víamos se a "Micro/ Macro" sobreviveria ou não, astrônomos europeus finalizavam sua análise de um planeta em órbita de uma estrela a 50 anos-luz do Sol chamada, não muito poeticamente, de mu Arae. (Um ano-luz equivale a aproximadamente 10 trilhões de quilômetros.) O planeta, dos 120 descobertos até agora, é o que mais se assemelha à Terra.

Ao todo, três planetas giram em torno de mu Arae. Um tem tamanho semelhante ao de Júpiter, demorando 650 dias para completar uma órbita. (Júpiter demora pouco menos de 12 anos.) Outro tem órbita bem distante da estrela. Mas o terceiro, com massa apenas 14 vezes maior que a da Terra (a de Júpiter é 317,8 vezes maior), é uma raridade. Nenhum planeta com massa comparável à da Terra havia sido encontrado em torno de uma estrela parecida com o Sol (o caso de mu Arae). Devido à pouca distância do planeta à estrela, astrônomos suspeitam que ele seja rochoso.

Em nosso Sistema Solar, os quatro planetas internos -Mercúrio, Vênus, Terra e Marte- são rochosos, enquanto os cinco externos são compostos principalmente de gases congelados. A diferença na composição se dá devido ao processo de formação de um sistema solar. Planetas muito próximos da estrela central são mais quentes, de modo que gases voláteis como hidrogênio e metano são evaporados, sobrando principalmente materiais rochosos e metálicos. No caso do novo planeta, o calor é extremamente intenso: a temperatura em sua superfície é estimada em aproximadamente 600C. Não tão propício à vida quanto a Terra, mas ao menos na direção certa.

A descoberta mostra como a ciência avança rápido. Na semana passada, não se conhecia planetas extra-solares semelhantes à Terra. À medida que os métodos de identificação desses planetas distantes forem progredindo, muito provavelmente outras "Terras" serão descobertas. O planeta encontrado possivelmente tem uma atmosfera, mesmo que bem mais tênue do que a nossa. Até 2020, será possível analisar a composição química das atmosferas de planetas extra-solares. Se água, ozônio e oxigênio forem detectados, a probabilidade de vida é muito alta. Um dia, iremos até lá para ver o que encontramos. Ninguém gosta de ficar sozinho. Especialmente no Universo inteiro.

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